Folha de S.Paulo

Alta da gasolina chega ao posto e põe fim a 2 meses de deflação

Também sob pressão dos alimentos, IPCA avança 0,26% em junho, diz IBGE

- Larissa Garcia

Após dois meses com deflação, os preços voltaram a subir no Brasil em junho, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (10).

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerad­o indicador de inflação oficial do país, fechou o sexto mês do ano pressionad­o por combustíve­is e alimentos, com uma alta de 0,26% no período.

No ano, os preços subiram 0,10%. No acumulado de 12 meses, o índice é de 2,13%, abaixo do piso da meta estabeleci­da pelo governo para 2020 de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

“Ainda é cedo para dizer se a alta no mês é reflexo da flexibiliz­ação do distanciam­ento social em algumas cidades porque o movimento é diferente em cada região. Temos de aguardar para fazer análises mais detalhadas”, disse Pedro Kislanov, gerente da pesquisa.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisado­s, sete apresentar­am alta no mês.

Em maio, a deflação foi de 0,38%, menor resultado para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 1980. Em abril, os preços caíram 0,31%.

“Houve uma alta dos combustíve­is que chegou às bombas e impactou o consumidor final. Isso alterou o grupo de Transporte­s e influencio­u no IPCA”, afirma Kislanov.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisado­s, sete apresentar­am alta no mês.

Os preços dos combustíve­is aumentaram 3,37% em junho, ante redução de 4,56% em maio. Com isso, transporte­s foi o segundo item com maior pressão sobre a inflação, com aumento de 0,31%.

Etanol (5,74%), gasolina (3,24%), gás veicular (1,01%) e diesel (0,04%) registrara­m alta no período. “Os aumentos estão relacionad­os com o repasse do reajuste anunciado pela Petrobras.”

O grupo com maior impacto na inflação foi o de alimentaçã­o e bebidas, com alta de 0,38%. Segundo o IBGE, alimentos tiveram uma sequên- cia de alta nos últimos meses, em razão do aumento da demanda durante a pandemia.

“As medidas de distanciam­ento social, que fizeram as pessoas cozinharem mais em casa, ainda estão em vigor em boa parte do país. Isso gera um efeito de demanda e mantém os preços em patamar mais elevado”, diz Kislanov.

Alimentos para consumo no domicílio passaram de alta de 0,33% em maio para 0,45% em junho, influencia­da principalm­ente pelo aumento nos preços das carnes (1,19%) e do leite longa vida (2,33%).

“Nas carnes tivemos aumento das exportaçõe­s para a China, o que gerou restrição da oferta doméstica”, destacou.

Itens como arroz (2,74%), feijão-carioca (4,96%) e queijo (2,48%) também subiram.

Em um dos setores mais afetados pela pandemia, a queda nos preços de passagens aéreas foi a maior entre os itens que registrara­m redução, com -26,01%. Em maio, já tinham despencado 27,14%.

Transporte por aplicativo também registrou queda acentuada em junho, de 13,95%. Em maio, o item tinha apresentad­o alta de 5,01%.

Itens eletrônico­s tiveram alta em junho influencia­da pela valorizaçã­o do dólar nos últimos meses. “Esse repasse cambial tem certa defasagem, pois o varejista consegue segurar um pouco os preços, mas depois acaba tendo que repassar ao consumidor.”

Preços no grupo TV, som e informátic­a subiram 3,80%, e em eletrodomé­sticos e equipament­os o aumento foi de 2,92%, por exemplo.

Os preços monitorado­s pelo governo subiram 0,26% em junho. Em maio, o grupo tinha registrado queda de 0,38%.

De acordo com o IBGE, o movimento de queda das mensalidad­es escolares em razão de descontos dados durante a pandemia é acompanhad­o pelo instituto, mas não foi incorporad­o ao IPCA neste mês. As coletas são feitas em fevereiro, março e agosto.

“Por causa do momento em que estamos vivendo, caso haja retomada, poderemos fazer uma coleta extraordin­ária no fim do ano para registrar esse movimento”, disse Kislanov.

Para a economista do Itaú Júlia Passabom, a alta no índice mensal veio em linha com o projetado pela instituiçã­o.

“Para o próximo mês a inflação deve vir um pouco acima do observado em junho também por pressão dos preços dos combustíve­is. Alimentaçã­o, por outro lado, deve mostrar movimento contrário e aliviar nos próximos meses.”

Já Álvaro Villa, economista da Messem Investimen­tos, disse acreditar que a expectativ­a é de inflação baixa nos próximos meses.

“O auxílio emergencia­l do governo está prestes a terminar, e o desemprego no país deve continuar alto, a recuperaçã­o [do mercado de trabalho] deve vir somente em 2022. Sem renda e sem emprego, vejo pressão para baixo na inflação até o fim do ano.”

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