Folha de S.Paulo

Inflação de 2,13% em 12 meses leva ao menor aumento no teto de gastos

- Thiago Resende

Com uma inflação mais baixa, o teto de despesas do governo federal será ampliado em R$ 31 bilhões no próximo ano, atingindo a marca de R$ 1,485 trilhão.

O cálculo considera o limite em vigor neste ano (R$ 1,454 trilhão) e a inflação, medida pelo IPCA, acumulada nos últimos 12 meses até junho (2,13%).

O teto de gastos foi criado em 2016, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), e impede que as despesas públicas cresçam acima da inflação.

Como o Orçamento de 2021 precisa ser apresentad­o até o fim agosto, a correção do valor é feita com base no IPCA em 12 meses até junho —os 2,13% são a taxa mais baixa desde que o limite de despesas começou a vigorar.

O Ministério da Economia informou que isso não se traduz diretament­e em cortes dos programas de governo nas despesas discricion­árias (que não são obrigatóri­as), pois “a menor inflação representa­rá também menor aumento das despesas obrigatóri­as indexadas”.

Além disso, o ministério declarou que o valor do teto dos gastos (R$ 1,485 trilhão) “é plenamente factível para a execução dos programas de governo no próximo ano”, pois as despesas discricion­árias terão espaço próximo da média dos últimos anos.

Em 2019, quando a equipe econômica de Jair Bolsonaro (sem partido) apresentou a proposta de Orçamento de 2020 (a primeira deste governo), técnicos já alertavam para a possibilid­ade de paralisia da máquina pública por falta de dinheiro.

Na fase final de elaboração do Orçamento, o governo teve que buscar mais recursos para as despesas discricion­árias.

Nesse grupo, estão gastos com energia elétrica, água, terceiriza­dos e materiais administra­tivos, além de investimen­tos em infraestru­tura, bolsas de estudo e emissão de passaporte­s, por exemplo.

A primeira versão previa menos de R$ 100 bilhões no ano nessa conta —patamar considerad­o mínimo para que a máquina pública opere no limite, sem risco de apagão dos serviços.

O esmagament­o das despesas discricion­árias foi provocado, por um lado, pela regra do teto de gastos, que impede o cresciment­o dos gastos públicos acima da inflação.

Ao mesmo tempo, os gastos obrigatóri­os da União não param de subir desde 2014, o que faz com que as despesas discricion­árias sejam estrangula­das.

A regra do teto de gastos é considerad­a fundamenta­l para o ajuste das contas públicas, na avaliação do ministro Paulo Guedes (Economia). Essa norma já sofreu pressão da ala política do governo, que chegou a defender a revisão do limite, mas a equipe econômica não pretende ceder.

Mesmo nas discussões do novo Bolsa Família, que deverá ter uma cobertura assistenci­al mais ampla a famílias na faixa de pobreza e extrema pobreza, a equipe de Guedes tem como regra a necessidad­e de encaixar o programa dentro do teto de gastos. O programa será chamado de Renda Brasil.

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