Folha de S.Paulo

Médico perde esposa e filho recémnasci­do em menos de uma semana

- Jairo Barbosa

rio branco Com as duas mãos erguidas para o céu, um homem reza solitário no pátio do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco, no Acre. De olhos fechados, recita passagens da Bíblia em voz alta e chama pelo nome da esposa, Patydan Castro, 34, internada com Covid-19. O homem é o médico Raimundo Castro, 48, marido da estudante de psicologia, que estava grávida de seis meses.

Patydan havia sido internada na UTI, onde foi intubada e colocada em coma induzido. Era 12 de junho, Dia dos

Namorados. Três dias depois, a equipe médica decidiu realizar um parto induzido para não colocar em risco a vida da mãe e do bebê.

A criança nasceu às 22h10, sofreu uma parada cardiorres­piratória e morreu minutos depois. “Foi reanimado por bastante tempo, fizeram de tudo, mas foi feita a vontade de Deus”, diz Castro.

No dia 19, após apresentar uma melhora no quadro, a paciente foi transferid­a para uma semi-intensiva, mas exames constatara­m que ela havia contraído pneumonia e apresentav­a trombose.

Patydam morreu no dia 23, sem saber da morte do filho. “Ainda não contei para a nossa filhinha. Não estou preparado”, afirma o médico. A menina tem quatro anos.

Os dois estavam casados havia dez anos. “Não tenho nem palavras de tanta saudades que sinto dela”, diz.

O médico contou que a esposa provavelme­nte foi contaminad­a pela funcionári­a da família, que testou positivo para o coronavíru­s dias antes dos sintomas aparecerem na estudante.

Castro trabalha na mesma unidade onde a esposa ficou internada, que tem uma ala especial para tratar pessoas infectadas pela doença. Por precaução, se hospedou em um hotel para não contaminar a mulher e a filha.

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Raimundo Castro reza em frente ao hospital onde a esposa grávida estava internada, em Rio Branco (Acre)

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