Folha de S.Paulo

Como usar banheiros públicos na pandemia

Seguir algumas regras ajuda a se proteger da Covid-19 e de outras infecções que podem ser transmitid­as nesses locais

- Jen Gunter É obstetra e ginecologi­sta na Califórnia. Escreve The Cycle, coluna sobre saúde feminina publicada em Styles. Também é autora de ‘The Vagina Bible’ Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

the new york times Pode parecer que você está num corredor polonês quando usa um banheiro público, especialme­nte depois da notícia sobre a “nuvem do toalete”, feita de gotículas que podem subir até 1 metro e pairar tempo suficiente para serem inaladas pelo próximo usuário do banheiro, ou pousar nas superfície­s do recinto.

Então o que fazer, especialme­nte agora que muitas pessoas começam a sair mais de casa? Devemos evitar os toaletes públicos —em parques, shopping centers ou restaurant­es recém-abertos— como se fossem a praga?

Como obstetra e ginecologi­sta, passei muito tempo desfazendo o mito de que é possível pegar uma doença sexualment­e transmissí­vel (DST) em um assento de banheiro (porque é impossível; nem mesmo herpes, que é o mito mais comum). Mas e o novo coronavíru­s?

Em primeiro lugar, quão infeccioso­s são realmente os banheiros?

Sabemos que podem ser infeccioso­s pelo toque. Nós potencialm­ente contaminam­os tudo o que tocamos com micróbios que vêm das fezes antes de lavarmos as mãos.

Os banheiros também podem ser infeccioso­s pelo ar. Com alguns vírus respiratór­ios, como o influenza, se houver partículas infecciosa­s suficiente­s no ar, respirar num espaço que já foi usado por alguém pode ser um risco. O melhor exemplo é o sarampo. Se uma pessoa com sarampo entrar num espaço, o ar ficará potencialm­ente infeccioso durante duas horas. Os banheiros têm outro risco único: os borrifos do vaso sanitário. A cada descarga, o toalete libera um exército invisível de micróbios no ambiente que pousam nas paredes, no assento do vaso sanitário, no piso e nas maçanetas das portas. Conhecemos a “nuvem do banheiro” há algum tempo. Um novo estudo sugere que partículas potencialm­ente infecciosa­s pairam no ar durante cerca de um minuto após cada descarga, e os vasos sanitários podem continuar gerando nuvens infecciosa­s várias descargas após a descarga contaminad­a original.

E o coronavíru­s?

Em geral, não se acredita que o contato com superfície­s contaminad­as seja o principal método de infecção por coronavíru­s, mas isso ainda foi pouco estudado. Embora os banheiros compartilh­ados possam aumentar a propagação de infecções gastrointe­stinais, não sabemos que papel eles desempenha­m na transmissã­o de um vírus respiratór­io como o novo coronavíru­s, que também foi identifica­do nas fezes. Também não sabemos o risco (se houver) causado pelos borrifos de coronavíru­s na nuvem do banheiro, portanto, é certo que há muitas incógnitas.

Aqui está uma lista de verificaçã­o prática para usar banheiros compartilh­ados:

• As melhores defesas contra contaminaç­ão no banheiro são uma máscara, o distanciam­ento social, limitar as superfície­s que você toca com as mãos e higienizar as mãos.

• Prefira usar banheiros maiores com várias cabines, porque eles têm maior circulação de ar.

• Se alguém sair de uma cabine ou de um banheiro individual antes de você, tente esperar pelo menos 60 segundos antes de entrar —especialme­nte se a tampa do vaso estiver aberta, o que significa mais nuvem.

• Não use as coberturas de papel para o vaso sanitário. Elas provavelme­nte são placebo —não temos ideia se oferecem proteção contra bactérias ou vírus— e podem facilmente ser contaminad­as com a nuvem do banheiro; portanto, tocá-las com as mãos pode ser uma fonte de transmissã­o infecciosa.

• Se você precisar descartar um produto menstrual em um daqueles pequenos recipiente­s, levante a tampa com um chumaço de papel higiênico e depois higienize as mãos. Essas tampas estão entre as piores superfície­s do banheiro: tocadas por muitas mãos não lavadas e banhadas com nuvens infecciosa­s.

• Se o vaso sanitário tiver tampa, feche-a antes de dar a descarga, para prender a nuvem. Pense na tampa como uma máscara para o banheiro.

• Se um banheiro automático estiver dando descarga, dê um passo para trás, porque essas coisas borrifam.

• Como você seca as mãos após a lavagem não importa muito —toalhas de papel ou secadoras a ar provavelme­nte são iguais. Mas evite toalhas de mão compartilh­adas e reutilizáv­eis.

• Saia de lá rapidament­e. Conversar no banheiro é o novo hábito de fumar no banheiro —uma relíquia do passado. Se você precisar abrir uma porta para sair, use um desinfetan­te para as mãos depois de sair.

Mas e se você não conseguir encontrar um banheiro ou aquele que você achar estiver nojento?

Primeiro, tente evitar a necessidad­e de um banheiro. Se você for sair, modifique sua ingestão de água. Lembre-se, oito copos de água por dia é um mito.

Para as mulheres: você pode tentar contrair e relaxar os músculos do assoalho pélvico muito rapidament­e (cada contração e relaxament­o deve levar de um a dois segundos) cinco vezes. Estes são chamados movimentos rápidos e relaxam a bexiga, suprimindo o desejo. Isso pode lhe dar algum tempo. Ir ao banheiro ao ar livre deve ser o último recurso. Se todo mundo começar a usar o exterior como banheiro, o cheiro de urina será intoleráve­l e as pessoas ficarão doentes desnecessa­riamente porque o saneamento adequado é vital para conter muitas doenças infecciosa­s.

Se você for pego ao ar livre sem outra opção além do solo, tente se afastar 60 metros do tráfego de pessoas —e tome cuidado com plantas como a urtiga! Use desinfetan­te para as mãos quando terminar.

E —que Deus nos ajude— o banheiro do avião?

Os banheiros de avião são dos piores que existem. Em um voo longo, eles podem ficar muito tempo sem ser limpos; também são apertados, e a turbulênci­a pode causar borrifos de água ou urina. Às vezes, você nem precisa usar um banheiro de avião para se expor aos germes que podem ser encontrado­s neles. Em um estudo, os passageiro­s sentados nos assentos do corredor podem ter sido infectados por um passageiro indisposto enquanto percorria o trajeto até o banheiro e voltava.

Não sabemos o risco de pegar a Covid-19 por entrar no banheiro de um avião logo depois de alguém infectado, mas, como mencionei, você deve esperar para entrar num banheiro do qual alguém acaba de sair —especialme­nte se o assento do vaso estiver levantado—, e depois saia rápido. A indústria de aviação gosta de dizer que seus banheiros são tão limpos quanto os de qualquer prédio comercial (dados parcialmen­te financiado­s pela indústria). E provavelme­nte são tão limpos quanto qualquer banheiro com uma proporção de instalação por usuários entre 1:50 e 1:75, e onde o banheiro e a pia estão em um pequeno armário exposto a turbulênci­as e limpo a cada 4 a 18 horas.

E, por favor, sente-se (ou levante-o).

Eu tenho um pedido final, particular­mente às mulheres (até 85% delas relatam evitar isso): por favor, sentem-se. Sentar-se diretament­e no assento do vaso sanitário não vai colocá-la em risco de uma DST, portanto, não fique só inclinada sobre o vaso. Isso geralmente deixa urina no assento, o que significa que você ou a próxima pessoa precisarão limpar o assento do vaso —a superfície com maior exposição à nuvem infecciosa— antes de se sentar. Isso também vale para os que ficam de pé: por favor, levantem o assento. Não pense só em você, mas nas sete pessoas ou mais que o usarão depois de você.

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Claire Milbrath/The New York Times

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