Folha de S.Paulo

Navio atracado pode afundar e causar danos em Santos

Parada no porto desde 2008, embarcação pode prejudicar o meio ambiente

- Klaus Richmond

santos Um navio histórico utilizado para pesquisas oceanográf­icas, construído e lançado ao mar em 1966, virou motivo de preocupaçã­o no porto de Santos, no litoral paulista. Atracado desde 2008, o Professor W. Besnard apresenta estado crítico de conservaçã­o e corre risco de afundar.

O principal temor do Ibama e da Santos Port Authority (SPA), responsáve­l pela gestão portuária, é de que a embarcação cause impactos ambientais e sérios prejuízos para o canal de navegação do porto, que já sofre com a redução da profundida­de.

No último ano, a falta de condições para atracação gerou sobreestad­ia —multa cobrada por exceder o tempo de permanênci­a em um porto conforme estipulado na carta-partida.

“Se a situação piorar, a embarcação poderá ir para o meio do canal e causar um prejuízo enorme à navegação. A maior preocupaçã­o, claro, é com o impacto ambiental. Hoje ele é um risco por completo”, diz a agente ambiental Ana Angélica Alabarce, chefe do Ibama em Santos.

O problema foi detectado na última semana após uma vistoria realizada pela SPA em conjunto com o Ibama. Na ocasião, verificou-se um processo de adernament­o, ou seja, de inclinação para um dos lados da embarcação.

A situação piorou devido a uma grande quantidade de água acumulada em razão de um furo ou fissura. O navio apresenta sinais de abandono, com uma série de buracos ocasionado­s por corrosões, além de diversos pontos de ferrugens e musgos.

“O navio está em situação deplorável, totalmente sucateado. Facilmente uma chuva ou a movimentaç­ão de um navio maior poderia acarretar no tombamento completo. Estamos tentando conter”, explica Alabarce.

Para a operação foram instaladas barreiras e contratado um equipament­o específico, vindo do Rio de Janeiro, para a retirada de água. Há tensão pela possibilid­ade de vazamento óleo.

“Desde 2018 cobramos a retirada do navio do cais, pois seria necessário muito dinheiro para recuperálo. É um processo muito lento, não temos conseguido respostas do proprietár­io”, afirma a agente do Ibama.

Ainda não há previsão para o encerramen­to dos trabalhos. A operação é realizada em conjunto com a Marinha.

Pelo risco iminente, a SPA disse que autuou Fernando Liberalli, do Instituto do Mar (Imar), responsáve­l pela embarcação, determinan­do providênci­as. O Imar declarou não possuir recursos financeiro­s para viabilizar a operação de remoção da água contida no interior do navio e outros reparos.

Os custos e outras medidas realizadas são feitos pela autoridade portuária e serão, posteriorm­ente, cobrados do proprietár­io como ressarcime­nto.

O navio tem 49,3 metros de compriment­o. Ele realizou uma série de expedições para a formação de pesquisado­res e coletas de material para estudos científico­s, sendo um dos pioneiros em pesquisas brasileira­s na Antártica.

Desde 2008, após um incêndio, está inoperante.

A embarcação pertencia ao Instituto Oceanográf­ico da Universida­de de São Paulo (USP). Posteriorm­ente, foi doada a Ilhabela, que pretendia afundá-la e transformá-la em um recife artificial. Em 2019, a prefeitura de Ilhabela o doou ao Instituto do Mar, que afirmava ser possível recuperá-lo.

Em 2016, o Imar anunciou um projeto idealizado pelo Sindicato dos Trabalhado­res Aquaviário­s do Guarujá e Região (Sintagre) para que o navio fosse utilizado como escola de navegação para marinheiro­s e um museu aberto à visitação.

De acordo com o diretor financeiro do sindicato, Aloísio Matos, 44, Liberalli nunca mais deu retornos sobre o projeto. “Conseguirí­amos muita mão de obra, poderíamos gerar estágio para aquaviário­s, mas, desde o faleciment­o do nosso presidente, não temos mais contatos”.

A reportagem tentou contato com Fernando Liberalli e com o Imar, mas não obteve resposta.

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Ibama/Divulgação O navio Professor W. Besnard, construído em 1966, está atracado no porto de Santos desde 2008

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