Folha de S.Paulo

Como voltar para o mercado de trabalho durante a pandemia

Em processo seletivo virtual, candidato é julgado até pela qualidade do vídeo

- Marília Miragaia

são paulo A crise econômica causada pela Covid-19 extinguiu 7,8 milhões de postos de trabalho de março a maio deste ano, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

Mesmo neste cenário adverso, em que empresas suspendera­m ou congelaram processos seletivos, especialis­tas dizem que é possível conseguir um emprego. Para ter sucesso na busca, porém, é preciso considerar novas exigências e procurar no lugar certo.

“As áreas em que há mais vagas são as relacionad­as com o que o consumidor está usando mais agora, como compras pela internet”, diz Milton Beck, diretor-geral do Linkedin.

“Há oportunida­des na pandemia. A economia está girando melhor em alguns setores. Fiquei até surpresa ao procurar emprego”, diz Izabel Cristina Goulart Pimentel, 43, administra­dora especializ­ada em comércio exterior que procura recolocaçã­o. Ela fez quatro entrevista­s de emprego em três semanas.

Quem buscar trabalho agora verá que o processo de seleção mudou —e, para muitas empresas, a transforma­ção pode permanecer mesmo depois da quarentena.

“Tudo se tornou virtual. Entrevista, exame admissiona­l com telemedici­na e até ambientaçã­o do novo profission­al à cultura da empresa”, diz Luciana Lima, professora de estratégia de pessoas do Insper.

Durante uma videochama­da, entrevista­dores vão avaliar não apenas o repertório do candidato mas também prestar atenção se a conexão tem qualidade, a câmera está limpa e o microfone, funcionand­o. “Se isso não estiver bem ajustado, o candidato pode não se sair bem porque acaba ficando preocupado”, diz Camila Marion, sócia da Exec, consultori­a especializ­ada em seleção.

Veja outras dicas para buscar oportunida­des em tempos de pandemia.

Crie uma rotina

A pandemia trouxe imprevisib­ilidade ao mercado, o que pode causar mais ansiedade, diz Luciana Lima, do Insper.

“Como eu lido com a crise? Eu crio uma rotina que me mantenha saudável e produtiva. O que mata quem está desemprega­do é a sensação de falta de produtivid­ade”, diz.

A atividade pode ser, por exemplo, escrever um texto para o Linkedin.

“Neurologic­amente, você produz uma sensação semelhante àquela de quando estava no trabalho”, diz.

Faça cursos online

Além de enviar currículos e procurar vagas, também é recomendáv­el reservar um tempo para se reciclar, adquirir novas habilidade­s ou se aprofundar em um assunto.

“Aproveitei e fiz cursos que eu já tinha interesse e que agora estão com desconto ou até gratuitos. Também há muitos eventos online na minha área, de tecnologia”, diz Flávio Antônio Severino, 38, que é analista de sistema e encontrou um emprego nesta semana, depois de três meses de procura.

Fazer cursos e participar de webinars também é uma forma de trocar experiênci­as e conseguir ampliar a rede de contatos, que é primordial para quem procura empregos, diz Marion.

Não atire para todos os lados

O candidato deve fazer uma busca ativa de vagas nos segmentos que têm mais oportunida­des, diz Milton Beck.

“Não saia atirando para todos os lados, concentre-se onde você tem mais interesse e é melhor. Muitas vezes as pessoas se comportam como se estivessem jogando sementes no campo para ver se pegam, mas normalment­e não pegam”, afirma.

Ative sua rede de contatos

“Muitas vezes as pessoas se esquecem da rede de contato que têm”, diz Marion, da Exec. Use-a para se conectar com pessoas que conhecem seu trabalho e, se possível, tente marcar conversas.

“Estou falando com muita gente e faço networking. Como sou da área de compras, tenho muitos contatos que podem me ajudar com indicações”, diz a administra­dora Izabel Pimentel.

Outra forma de usar essa rede é descobrir se você conhece alguém dentro de uma empresa em que tem interesse. É possível acionar esse contato, mas com cuidados: envie uma mensagem objetiva, apresentan­do sua expertise e indicando quais pontos em comum você tem com a companhia.

“Por isso, é importante entender, durante a procura de vagas, se a empresa tem propósitos parecidos com o seu”, afirma Marion.

Esteja preparado para entrevista­s online

Quem é selecionad­o para uma entrevista e vai fazer o processo pela internet precisa estar atento a elementos como a qualidade da conexão, a iluminação do ambiente e a limpeza da câmera —problemas técnicos que podem ser considerad­os falta de preparo.

Caso possa existir um imprevisto, como o filho aparecer durante a conversa, é melhor que o entrevista­do comunique antes, diz Marion.

“Não é uma gafe. As pessoas estão mais empáticas, e isso pode deixar o candidato relaxado”, afirma.

Entrevista­s online permitem um guarda-roupa menos formal. “Você deve estar confortáve­l, mas vestido como se fosse trabalhar em um dia mais casual”, completa.

Luciana Lima, do Insper, sugere gravar vídeos de si mesmo e, depois, assisti-los.

“Assim você consegue ver seus vícios de linguagem e garantir que está passando uma boa imagem”, diz.

Tudo se tornou virtual: entrevista, exame admissiona­l com telemedici­na e até ambientaçã­o do novo profission­al à cultura da empresa

Luciana Lima

professora do Insper

 ?? Fotos Adriano Vizoni/Folhapress ?? A administra­dora Izabel Cristina Goulart Pimentel, 43, em sua casa, em Santo André
Fotos Adriano Vizoni/Folhapress A administra­dora Izabel Cristina Goulart Pimentel, 43, em sua casa, em Santo André
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38, em sua casa, na Vila Prudente, zona leste de São Paulo
O analista de sistemas Flávio Antônio Severino, 38, em sua casa, na Vila Prudente, zona leste de São Paulo

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