Folha de S.Paulo

Pandemia adia busca de redenção do Elo sport, pior time de São Paulo

Elosport, de Capão Bonito, perdeu todas na 4ª divisão no ano passado e já coleciona percalços em 2020

- Alex Sabino

são paulo A primeira coisa que José Antonio Liberato, o Maizena, 54, pensou ao chegar no Elosport, em fevereiro deste ano, foi na possibilid­ade de fazer o time melhorar. Piorar seria impossível.

A equipe de Capão Bonito já havia sido a pior do futebol paulista no ano passado. Jogou dez vezes, perdeu todas. Na classifica­ção geral, ocupou a última colocação da Segunda Divisão –apesar da nomenclatu­ra, é o quarto e mais baixo patamar do futebol profission­al do estado.

O Elosport não ganha uma partida em competiçõe­s oficiais desde 8 de julho de 2018. O último gol marcado faz mais de um ano. Aconteceu em 8 de junho de 2019. E saiu em uma partida na qual o time perdeu por 10 a 1 para o Marília.

“Sei que faz muito tempo que o Elo [apelido do Elosport] não ganha um jogo. Mas eu gosto de desafio. Nós sabemos como fazer o trabalho e não vim para evitar ser o pior. Eu vim para subir de divisão”, afirma Maizena, ex-atacante que passou por clubes do interior paulista e busca o primeiro acesso como treinador.

Quando teve essa chance, o azar bateu à porta. Técnico do Atlético El Mensu, do Paraguai, foi vice-campeão invicto da terceira divisão e não subiu, ele afirma, porque o maior rival do clube, o Deportivo Marina, teria entregado um jogo.

É a mesma falta de sorte que parece perseguir também o Elosport. O clube foi criado em 1993 para representa­r a Elotec, a construtor­a do seu fundador, Irineu Rodríguez

Gonzalez. Desde a criação, em apenas duas temporadas não esteve no último patamar do estado (2002 e 2004), mas isso aconteceu por desistênci­as de outras equipes, não pelos resultados em campo.

A aposta era que em 2020 tudo poderia ser diferente.

“Não havia elenco, o clube estava abandonado. Fizemos todas as reformas estruturai­s necessária­s. Contratamo­s jogadores. Iniciamos o trabalho em fevereiro com técnico novo, atletas novos. Era um recomeço para o Elo para sair desse estigma das campanhas dos últimos anos”, afirma Robson Malta, empresário que assumiu o futebol profission­al.

Malta tinha tudo planejado e os jogadores concentrad­os desde fevereiro, em preparação para a Segunda Divisão, que começaria em abril.

Mas a pandemia da Covid-19 impediu o início do campeonato e freou aquele que gestor e técnico acreditava­m ser o ano da redenção do Elosport.

“O que a federação [paulista] nos diz é que vai ter campeonato. Só não sabemos a data”, lamenta Malta, que passou por outras equipes paulistas, como Andreense e Atibaia. Este último está na A2, a divisão de acesso à elite do estado.

Em maio, enquanto aguardava novidades sobre a retomada do futebol, ele se sentiu mal e foi levado ao hospital. Descobriu que estava com dengue e foi internado. Quando se recuperava, os médicos diagnostic­aram que havia sido infectado pelo novo coronavíru­s. Hoje está recuperado.

“Eu vim para cá com a obrigação de reerguer o clube. Quando a equipe estava quase formada, vem esse baque do coronavíru­s. É muito ruim isso, mas paciência”, diz o zagueiro Rui, 21, contratado para a temporada que, para o Elosport, se resume ao Paulista.

Malta e seus sócios (o atacante Edílson, ex-Corinthian­s e Palmeiras, tem participaç­ão em jogadores) não desistiram do projeto. Rui é um dos 26 atletas confinados em dois alojamento­s do clube desde fevereiro.

“Os meninos não saem daqui. Nem com a flexibiliz­ação. A gente faz um trabalho psicológic­o com eles. Precisam saber que isso é necessário para que vençam na vida”, diz o técnico Maizena.

Houve mais percalços. Quinze jogadores foram dispensado­s no início do trabalho. Malta conta que alguns deles foram flagrados consumindo drogas no alojamento. Não diz quem são, nem a substância.

O que gestor, treinador e atletas esperam é que o trabalho iniciado antes dos concorrent­es e a estrutura do clube sejam suficiente­s para enterrar qualquer falta de sorte. Na divisão mais pobre do estado, a agremiação é uma das raras que tem estádio e centro de treinament­o próprios.

O salário médio do elenco é de R$ 1.500 mensais. Todo o grupo é sub-23, limite para inscritos na Segunda Divisão.

“O pessoal fala das campanhas anteriores, mas eu não gosto de falar em azar. Quem faz o nome do clube são os profission­ais que estão aqui. Os jogadores, comissão técnica, direção. Chegou a hora de mudar isso”, finaliza Maizena.

“Sei que faz muito tempo que o Elo [apelido do Elosport] não ganha um jogo. Mas eu gosto de desafio. Nós sabemos como fazer o trabalho e não vim para evitar ser o pior. Eu vim para subir de divisão Maizena Técnico da equipe

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