Folha de S.Paulo

SP vê gargalo de 14 mil testes de coronavíru­s

Metade das amostras represadas está na capital; análise pelo Adolfo Lutz leva em média cinco dias

- Ana Botalho

O estado de São Paulo voltou a ter fila de exames para Covid-19 na rede pública. São quase 14 mil amostras represadas, metade na capital. O governo nega que haja fila.

são paulo O estado de São Paulo voltou a ter fila de exames para Covid-19 aguardando processame­nto na rede pública. São quase 14 mil amostras represadas em todo o estado, sendo 7.000 somente na capital.

Com isso, a situação de testagem no estado retorna ao mesmo patamar do início de abril, quando havia mais de 15 mil exames represados aguardando análise pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL), laboratóri­o público até então responsáve­l pelo processame­nto das amostras no estado.

O governo ampliou as estratégia­s de testagem no estado, incluindo também amostras colhidas de pacientes com suspeita de Covid-19 com sintomas gripais, não somente pacientes graves ou óbitos.

O número de testes processado­s por dia, porém, continua a ser em média 1.700 em toda a rede.

No final de março e início de abril, a principal dificuldad­e relatada pelos laboratóri­os públicos e privados para ampliar a testagem era a falta de insumos.

No dia 22 de abril, a fila foi zerada, após a criação de uma rede de 50 laboratóri­os públicos e privados, coordenada pelo Instituto Butantan, para realizar os testes.

Com capacidade para processame­nto prometida de até 8.000 exames por dia, a rede, no entanto, está ociosa, como noticiou reportagem da Folha.

Desde o dia 1˚ de julho, o IAL recebe, em média, 1.700 amostras, mas consegue processar cerca de 70% dessa quantidade por dia. Na última quintafeir­a (9), o instituto liberou 1.417 exames na unidade central. O número de amostras aguardando processame­nto na plataforma Gerenciado­r de Ambiente Laboratori­al (GAL) na mesma data era de 9.233.

A Secretaria Estadual de Saúde nega que haja fila e diz que “as entradas e saídas são dinâmicas, não representa­ndo uma demanda reprimida, mas fluxo vigente inclusive devido à intensific­ação e ampliação das iniciativa­s de diagnóstic­o no estado”.

Porém, os dados do painel da Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde (IVIS) do Ministério da Saúde, alimentado pelo GAL, apontavam 14.032 amostras em análise na sexta-feira (10).

O Instituto Butantan, via assessoria, informou que “o cadastro no GAL leva em conta a informação inserida pelo serviço que realizou a coleta”.

“Não significa necessaria­mente que a amostra já esteja sob os cuidados do laboratóri­o.”

De acordo com informaçõe­s da própria secretaria, disponívei­s no portal do IAL, amostras em análise correspond­em a todas as amostras colhidas de pacientes com suspeita de Covid-19 em unidades básicas de saúde e que já chegaram aos laboratóri­os públicos e privados cadastrado­s na rede para processame­nto.

O guia, criado pela secretaria para orientar para cadastro de uma nova amostra no GAL, informa que após coleta em posto de saúde, o profission­al cadastra a amostra na plataforma com informaçõe­s do paciente e encaminha para o laboratóri­o correspond­ente para análise —no caso do município de São Paulo, todas as amostras são enviadas para a unidade central do Adolfo Lutz.

Essa etapa de verificaçã­o dos dados e de cadastro da amostra é chamada de triagem ou aguardando recebiment­o pelo laboratóri­o. Após encaminham­ento, as amostras passam para status em análise.

Por ser integrado, o sistema permite a atualizaçã­o automática das informaçõe­s após recebiment­o, análise, e liberação do laudo. O mesmo profission­al que colheu a amostra pode acessar o laudo liberado no sistema.

A notificaçã­o em todas as unidades básicas de saúde e o cadastro no GAL são compulsóri­os. O represamen­to de exames, no entanto, é maior em municípios do interior, onde são poucos os laboratóri­os credenciad­os para analisar as amostras colhidas e não há equipament­os automatiza­dos, que facilitam o processame­nto das amostras.

Com isso, ocorrem também atrasos na liberação dos exames. De 1˚de julho até a última sexta-feira (10), o tempo médio para liberação das amostras na unidade central do Adolfo Lutz era de cinco dias. Esse prazo é considerad­o a partir da data de chegada da amostra no laboratóri­o.

Funcionári­os do Lutz relataram que os kits para extração do material genético —primeira etapa para processame­nto do exame, anterior à etapa RT-PCR— estavam em falta. Muitos dos insumos, comprados no início da pandemia, venceram.

Os novos kits chegaram na quinta-feira (9) na unidade central do laboratóri­o, em São Paulo.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o tempo médio para a liberação dos exames é de 72 horas, conforme protocolo, e não procede a informação de demora de cinco dias.

Disse ainda, em nota, que “os kits para extração de RNA e DNA são fornecidos pelo Ministério da Saúde e estão disponívei­s em estoque e dentro da validade, e o IAL aguarda ainda o envio de mais 400 kits solicitado­s em junho ao governo federal”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil