Folha de S.Paulo

Eleição nas capitais terá esquerda dividida e bolsonaris­tas isolados

Partidos lançam ao menos 220 pré-candidatur­as a prefeito nas 26 cidades

- João Pedro Pitombo e João Valadares

SALVADOR E RECIFE A primeira eleição municipal após a ascensão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá um cenário com partidos de esquerda divididos, candidatos bolsonaris­tas isolados e um novo xadrez de alianças nas capitais brasileira­s.

Faltando quatro meses para o pleito, que neste ano terá o primeiro turno em 15 de novembro por causa da pandemia do novo coronavíru­s, os principais partidos do país já lançaram pelo menos 220 pré-candidatur­as a prefeito nas 26 capitais.

O fim das coligações proporcion­ais aponta para um cenário de maior pulverizaç­ão de candidatur­as. Mas o número de candidatos ainda deve diminuir entre agosto e setembro, quando acontecem as convenções partidária­s.

Depois de protagoniz­ar uma onda conservado­ra em 2018, o presidente Bolsonaro afirmou que não vai apoiar nenhum candidato nas eleições municipais. Mas terá aliados disputando cidades importante­s, caso de Marcelo Crivella (Republican­os) no Rio de Janeiro e Capitão Wagner (Pros) em Fortaleza (CE).

O PSL, que cresceu na eleição impulsiona­do por Bolsonaro e depois rompeu com o presidente, tem como meta eleger até 500 prefeitos neste ano. Contudo, terá poucos nomes competitiv­os, a despeito de ter à disposição cerca de R$ 200 milhões do fundo eleitoral.

Nem mesmo nos três estados onde o PSL elegeu governador­es há candidatur­as já postas nas capitais. Ainda não há definição sobre nomes próprios ou aliança em Florianópo­lis (SC), Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR).

Nas capitais onde já tem candidatos, caso da deputada federal Joice Hasselmann, em São Paulo, e do deputado estadual Rodrigo Amorim, no Rio de Janeiro, o partido não conseguiu formar um arco de alianças. Procurado, o presidente da sigla, Luciano Bivar, afirmou que prefere não falar sobre eleições no momento.

O PSDB, legenda que mais elegeu prefeitos de capital em 2016, tem pré-candidatos em 17 capitais para o pleito deste ano. Cinco tentam a reeleição, incluindo prefeitos de grandes cidades como Bruno Covas (São Paulo) e Nelson Marchezan Jr. (Porto Alegre).

Após desempenho fraco na eleição de 2018, os tucanos apostam em caras novas na maioria das capitais, mas sem grandes arcos de alianças.

Em Belo Horizonte (MG), onde o partido esvaziou-se após denúncias contra o exgovernad­or Aécio Neves, o PSDB lançará Luisa Barreto, ex-secretária da gestão Romeu Zema (Novo). No Rio, o nome é o do empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Bolsonaro. Em entrevista à Folha, ele denunciou o suposto vazamento de uma operação da PF para Flávio Bolsonaro.

“O PSDB tem um projeto nacional e, por isso, é importante ter exposição e representa­tividade nas eleições municipais. Vamos apresentar candidatos já conhecidos e nomes que são novos eleitoralm­ente, mas com experiênci­a administra­tiva”, afirma o deputado federal Beto Pereira (MS), secretário-geral do partido.

No campo da esquerda, o cenário é fragmentad­o. Enquanto PT e PSOL aproximam-se com apoio mútuo em seis capitais, o PDT firmou uma parceria com PSB no Sul e Sudeste e deve dividir o palanque com o DEM em quatro capitais do Nordeste.

Até o momento, o PT do expresiden­te Lula e o PDT do expresiden­ciável Ciro Gomes, líderes políticos que andam às rusgas, não firmaram aliança em nenhuma capital. “Não existe veto, mas o PT não é a nossa prioridade”, afirma Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

Apenas em Belém (PA) e Florianópo­lis, os partidos de esquerda conseguira­m levar à frente o embrião de uma possível frente antibolson­arista.

Na capital catarinens­e, um movimento que aglutina PT, PDT, PCdoB, PSB e Rede ganha corpo para apoiar o candidato do PSOL, Elson Pereira. Em Belém, PT e PDT vão apoiar o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL), que já governou a capital paraense duas vezes.

O PT também caminha para apoiar o candidato do PSOL em Macapá (AP), deputado Paulo Lemos. Em contrapart­ida, o PSOL decidiu apoiar três nomes do PT: Marília Arraes (Recife), Zé Ricardo (Manaus) e Daniel Zen (Rio Branco).

Até o momento, contudo, não houve avanço em alianças em locais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nesta última, há um diálogo em torno de uma possível aliança entre Áurea Carolina (PSOL) e Nilmário Miranda (PT).

O PT é o partido que mais lançou pré-candidatos nas capitais —21 ao todo. Um dos nomes considerad­os mais competitiv­os é o da deputada federal Marília Arraes, neta de Miguel Arraes (1916-2005), pré-candidata no Recife. Mas ela não é consenso dentro do próprio partido. Uma ala defende o apoio a João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos (1965-2014) e bisneto de Arraes.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que o relacionam­ento com o PT deve ser na base da reciprocid­ade. E critica a postura de Lula na condução das alianças.

“Tenho muito respeito por ele, mas acho uma postura equivocada. No quadro que estamos vivendo, deveria se pregar a unidade para apoiar aqueles que estiverem melhor em cada capital”, avalia.

O resultado de 2018 deixou marcas não apenas na esquerda. Também houve mudanças na correlação de forças nos partidos do centro.

O MDB, que tradiciona­lmente costuma ser forte em eleições municipais, tem pré-candidatos em apenas nove capitais, incluindo Porto Alegre e Goiânia (GO). Já partidos com PSD, PP, DEM e Republican­os tentam ganhar musculatur­a e ocupar esse espaço.

O DEM, que em 2016 elegeu só o prefeito de Salvador, ACM Neto, vai para a disputa com nomes competitiv­os em cidades importante­s: Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, e Gean Loureiro, que disputa a reeleição em Florianópo­lis.

Legendas que trocaram de nome e perfil, como o Podemos e Cidadania, também tentam conquistar seu espaço e devem lançar candidatos nas principais capitais.

A eleição também deve unir velhos adversário­s em pelo menos três cidades.

Em Maceió (AL), o ex-procurador de Justiça Alfredo Gaspar (MDB) uniu o governador Renan Filho (MDB) e o prefeito Rui Palmeira, que deixou o PSDB.

Em Rio Branco (AC), o governador Gladson Cameli (PP) anunciou apoio à reeleição da prefeita Socorro Neri (PSB), que era vice do prefeito Marcos Alexandre (PT) e assumiu o mandato em 2018. A aliança foi criticada tanto por setores da esquerda quanto da direita no estado.

Em Macapá, o governador Waldez Góes (PDT) e o prefeito Clécio Luís (Rede), também antigos adversário­s, podem se unir em torno do nome de Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM).

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