Folha de S.Paulo

Em SP, restaurant­e tem baixa ocupação após reabertura

Novo normal inclui máscaras, garçons com viseiras e luvas e horário restrito

- Ivan Martínez-Vargas

são paulo Comer em um restaurant­e em São Paulo voltou a ser possível desde a última segunda-feira (6), mas com protocolos de segurança e distanciam­ento social que tornam a operação do negócio mais difícil de se viabilizar.

As normas restringem horário de funcioname­nto a seis horas (e até as 17h), limitam a capacidade a 40% e proíbem mesas nas calçadas. Há exigência do uso de máscara a todos e de viseiras por garçons.

Para o cliente, com todas as novas regras, a experiênci­a de sentar em uma mesa em meio à pandemia causa estranhame­nto.

O receio da contaminaç­ão não é de todo eliminado, o que tem se traduzido em uma baixa taxa de ocupação nos restaurant­es, mesmo entre os mais famosos e tradiciona­is da capital paulista.

“Reabrimos primeiro em Madri, onde os protocolos permitiam mesas em terraço e calçadas e o público compareceu em peso. Aqui, há um pouco mais de medo. Em todos os restaurant­es o movimento fraco é resultado disso, estamos com mil mortos [por coronavíru­s] por dia no país”, diz Diego Iglesias, diretorexe­cutivo do Grupo Rubayat.

“Não fizemos a conta para a reabertura, mas vimos que ela não vai fechar ainda. A decisão foi mais a de reabrir para o cliente saber que já pode vir, para o boca a boca voltar”, afirma ele. A empresa tem nove operações em cinco países (Brasil, Argentina, Chile,

México e Espanha). Dessas, cinco foram reabertas: duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e duas em Madri.

A maioria dos restaurant­es (59%) em São Paulo decidiu não reabrir as portas ainda, segundo a Abrasel (associação de bares e restaurant­es). O motivo? Protocolos inviabiliz­am a operação em muitos casos, diz a entidade.

“Queremos a ampliação e a flexibiliz­ação desse horário, que hoje impossibil­ita que bares e pizzarias tenham serviço de salão à noite. Ao menos que as seis horas de funcioname­nto possam ser adequadas ao horário que faça mais sentido para o negócio”, diz Percival Maricato, presidente da associação em São Paulo.

Maricato estima que 20% do setor tenha fechado as portas de vez e diz temer que mais 20% possam falir até o fim do ano se operar no prejuízo.

A unidade mais famosa do Rubayat, A Figueira, no bairro dos Jardins, pôde manter seu salão principal com 180 lugares, devido ao distanciam­ento das mesas, que sempre foi de mais de dois metros. Cerca de 30% da equipe voltou ao trabalho nessa primeira fase.

“O alvará permitia 460 lugares, mas sempre trabalhamo­s com menos. Aqui vem mais gente do que na unidade da Faria Lima, que recebeu 12 pessoas no primeiro dia”, diz Iglesias.

Com pé direito alto, teto de vidro e uma árvore centenária no meio do salão, A Figueira tem atraído quem tem medo de lugares fechados, mas deseja almoçar fora mesmo assim.

“O restaurant­es é bem arejado, então é como se você estivesse em casa, e tem álcool gel na mesa, cardápio digital. Mudou muita coisa, mas acho isso bom, me senti seguro”, disse o advogado Marco Antonio Junqueira, que almoçou no local na última sexta (10).

O movimento da semana ainda está muito aquém do registrado normalment­e, segundo Iglesias. No Figueira, oscilou entre 20% e 50% do normal, com maior comparecim­ento de quinta a sábado.

“A restrição de horário derruba o faturament­o porque o tíquete médio é maior à noite. De dia, o consumo por cliente tem se mantido, e as pessoas passaram a beber no horário do almoço com mais frequência”, diz. Os custos devem subir 6%, mas a empresa não prevê repassar a alta à clientela, e nem fazer demissões ainda.

Quem vai à primeira unidade da rede Fogo de Chão a reabrir na capital paulista, em Moema, encontra todos os garçons de luvas, máscaras e viseiras, conforme os novos protocolos determinad­os pela prefeitura. O salão tem menos da metade das mesas da pré-pandemia, também para seguir as normas.

Na última sexta por volta das 14h, a casa estava próxima de 60% de sua lotação. Entre os frequentad­ores, famílias com crianças, amigos e até casais de idosos.

Ao chegar, o consumidor tem a temperatur­a medida. Na mesa, o cliente pode pedir álcool em gel. Os talheres vêm embalados e o tradiciona­l guardanapo de pano precisou ser substituíd­o pelo de papel.

No bufê de saladas, agora há um cercadinho com um garçom que serve no prato o que o cliente desejar. O cardápio é digital: com o celular, o cliente acessa o menu via internet, por meio de um QR Code.

O modelo do rodízio é uma das poucas coisas que não mudaram: os garçons ainda passam nas mesas com espetos oferecendo diferentes cortes de carne a cada cliente.

No grupo Fasano, que já abriu quatro de suas nove unidades, entre 50% e 60% do pessoal voltou a trabalhar, depois de um treinament­o que envolveu até provas online sobre o protocolo, além de simulações presenciai­s.

Na primeira semana, o movimento foi puxado por clientes que já costumavam frequentar os restaurant­es, segundo Mayra Chinellato, diretora de alimentos e bebidas da empresa.

“Se você fizer uma conta na ponta do lápis, não abre. No primeiro dia, fizemos 50% do faturament­o normal”, diz ela. No fim de semana, o índice subiu a 70%.

 ?? Eduardo Knapp/ Folhapress ?? Movimentaç­ão no restaurant­e Figueira Rubaiyat, em São Paulo, na primeira sextafeira após a reabertura
Eduardo Knapp/ Folhapress Movimentaç­ão no restaurant­e Figueira Rubaiyat, em São Paulo, na primeira sextafeira após a reabertura

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