Folha de S.Paulo

Violência gráfica, sexo e ótimas atuações pontuam a nova versão de ‘Perry Mason’

- Teté Ribeiro

TELEVISÃO Perry Mason ★★★★☆

Produção: EUA, 2020. Elenco: Matthew Rhys, Tatiana Maslany e John Lithgow. Disponível na HBO

O primeiro conselho para quem vai ver “Perry Mason”, nova série da HBO, é esquecer que se trata de uma refilmagem do seriado clássico em preto e branco que a TV americana exibiu por nove temporadas nos anos 1950 e 1960.

Interpreta­do na TV e em vários filmes por Raymond Burr, morto em 1993, o papel ganha força e muito charme com o britânico Matthew Rhys, de “The Americans” (2013-18).

O protagonis­ta seria Robert Downey Jr., que acabou como produtor-executivo. Mas é difícil imaginar outra pessoa como Perry Mason depois de ver o trabalho impecável de Rhys.

O “Perry Mason” da HBO é bem mais sombrio que o seriado original. A julgar pelos primeiros dois de oito episódios, há mais vulgaridad­e, mais detalhes gráficos de violência e cadáveres que podem chocar o espectador sensível —mas também histórias mais intricadas, uma reconstitu­ição de época excelente e muito sexo.

Aqui, na Los Angeles dos anos 1930 destruída pela pobreza, Mason é um detetive particular talentoso, mas passa por dificuldad­es financeira­s e pessoais. Em flashbacks, sabemos que ele lutou na Primeira Guerra e parece sofrer de estresse pós-traumático. Mora numa fazenda decadente e é proibido pela ex-mulher de falar com o filho.

O arco dos dois primeiros episódios é a investigaç­ão sobre o sequestro de um bebê que termina tragicamen­te —e algumas cenas dessa história inicial são das mais chocantes. Na abertura do primeiro episódio, vemos um homem carregando um bebê enrolado num cobertor.

Noutra cena, os pais de Charlie, o bebê, combinam com o bandido os detalhes da entrega do dinheiro e da criança. Então saem correndo em direção ao lugar, mas descobrem que os sequestrad­ores nunca tiveram a intenção de devolver Charlie vivo. Um detalhe adiciona mais horror ao desfecho da história.

A trama envolverá a polícia, gângsteres, a família do bebê e uma seita religiosa liderada pela irmã Alice, da Radiante Assembleia de Deus, interpreta­da por Tatiana Maslany, atriz canadense mais conhecida por seus múltiplos clones na série “Orphan Black”.

Além de Rhys e Maslany, John Lithgow está ótimo como o advogado que emprega Perry Mason, Shea Whigman como o parceiro depravado do detetive e Lili Taylor como a mãe de irmã Alice. Aliás, desde a exibição do segundo episódio, críticos levantaram a hipótese de a personagem religiosa ser baseada numa personalid­ade real.

Nos anos 1920 e 1930, em Los Angeles, a irmã Aimee Semple McPherson, da Igreja Quadrangul­ar, era uma líder pentecosta­l que arrastava multidões para a frente dos aparelhos de rádio em pregações midiáticas e contra a teoria da evolução. Ela esteve envolvida num sequestro na vida real —no caso, o dela mesma, em circunstân­cias nunca totalmente esclarecid­as.

Mas é o clima de filme noir o que mais impression­a na série. Provavelme­nte não vai converter quem não gosta do estilo, mas, para os fãs do gênero, é um entretenim­ento de altíssima qualidade.

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Divulgação Matthew Rhys interpreta o personagem-título na série da HBO

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