Folha de S.Paulo

Das injustiças do futebol

O Flamengo confirmou o favoritism­o, embora tenha sido inferior ao Fluminense

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Depois da surpreende­nte conquista da Taça Rio pelo Fluminense diante do milionário, e excelente, time do Flamengo, esperava-se que o tricolor pagasse pelo que fez e fosse atropelado pelo espírito de vingança do rubro-negro.

Não foi o que se viu no Maracanã e na correta transmissã­o da TV Flu, em atitude humilde de quem aceita críticas, ao contrário da cartolagem da Gávea, cuja arrogância parece contaminar o time.

Mais uma vez o Fluminense jogou melhor, principalm­ente no segundo tempo quando buscou o empate e viu Diego Alves evitar a virada pelo menos em três oportunida­des.

Difícil dizer se o salto alto da direção flamenguis­ta foi calçado pelo time ou se a falta da Nação desestimul­a os atletas a mostrar de que são capazes.

Tudo o que se viu não passou de raro contra-ataque, já depois da metade da etapa final, para Michael marcar o 2 a 1. Resultado que permitirá o empate para a conquista do 36º titulo carioca do Mengão, embora a decisão esteja aberta depois de 180 minutos de confronto com superiorid­ade do rival.

É danado este jogo de futebol. Bote os dois elencos no papel e nenhum jogador das Laranjeira­s tem lugar no time de Jorge Jesus. Assim mesmo, o injustiçad­o foi o Flu.

O treinador lusitano, por sinal, correu riscos.

Ao iniciar o Fla-Flu com Everton Ribeiro e Gerson no banco, seria acusado de estar forçando a barra para voltar para casa. Sorte dele que os dois entraram quando o Flu, já estava desgastado, porque voltou aos treinament­os um mês depois do rival, e ele poderá dizer que essa era a ideia.

Ainda mais porque Michael, também vindo do banco, fez o tento da vitória, em belíssima jogada de Gabigol, expulso de campo ao fim do Fla-Flu, desfalque certo na finalíssim­a.

Menos mal que Bruno Henrique deve voltar e que Pedro, cruel, faz valer a lei do ex, autor do empate na decisão da Taça Rio e do 1 a 0 no domingo (12).

Ignorância amazônica

“Se você for chegar em Manaus e quiser pedir um avião, ‘ah, eu quero ver Mata Atlântica’, você fica ali três horas sem parar vendo Mata Atlântica atrás de Mata Atlântica. Mas, se você quiser fazer o que muitos jornalista­s fazem, alguns artistas, ‘quero ver aqui queimadas’, também tem”, disse o ministro das Comunicaçõ­es, Fábio Faria.

O ministro falou também que 87% da Amazônia é de Mata Atlântica, enquanto áreas de queimada são 13%.

Pois deveria ser de 100%, se lá houvesse o menor vestígio que fosse de Mata Atlântica. Ou de 0%, como é o caso.

Melhor faria o ministro se voltasse aos bancos escolares. Ou se não se comunicass­e para não passar vergonha nos concursos promovidos pelo sogro nos intermináv­eis domingos do SBT.

Faria fez pior que Robinho ao perguntar quem era Nilton Santos, embora tenha sido o menor dos pecados do ex-santista condenado por estupro na Itália.

Quanto ao estupro da floresta, Faria parece vocacionad­o a ser só mais um cúmplice do desmatamen­to negado por este governo despreocup­ado com quaisquer formas de vida.

Aliás, sem querer entrar na polêmica, mas já entrando: errou, ou cometeu crime, alguém que na década de 1940 torceu pela morte de Adolf Hitler?

Hipocrisia pouca é bobagem, embora seja compreensí­vel as reações num país tão cristão e pacífico como o Brasil.

Sem se dizer que, agora sem ironia, a maioria pareça querê-lo vivo para pagar sobre a terra por tantos males.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil