Folha de S.Paulo

Paulo Guedes proíbe sua equipe de conversar comigo, declara Maia em entrega de texto

- Danielle Brant, Iara Lemos, Isabella Macedo, Gustavo Uribe e Fábio Pupo

Depois de quase um ano de promessas, o governo encaminhou, no início da noite desta quinta-feira (3), a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que prevê mudanças no funcionali­smo do país. O evento, porém, foi ofuscado por episódio que evidenciou os atritos entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro Paulo Guedes (Economia).

O texto foi entregue pelo ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) a Maia. Também participar­am do ato os líderes do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).

Em coletiva, Maia afirmou ser possível avançar rapidament­e na tramitação da reforma pelo menos na Câmara dos Deputados.

“Não podemos mais tirar dinheiro da sociedade com os impostos e do outro lado sair muito pouco em serviços para a sociedade”, disse. “Entra R$ 1 aqui, certamente sai menos de R$ 0,20 do outro lado.”

A harmonia exibida na entrega foi quebrada após o evento. Em entrevista à GloboNews, o deputado fez fortes críticas ao ministro Paulo Guedes (Economia) e disse que ambos não têm conversado.

“Ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem [quarta], a gente tinha um almoço com o Esteves [Colnago] e com o secretário do Tesouro para tratar do Plano Mansueto, e os secretário­s foram proibidos de ir à reunião”, disse Maia, que afirmou ter decidido que a relação da Presidênci­a da Câmara será com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

“E o ministro Ramos conversa com a equipe econômica, para não criar constrangi­mento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos, de forma nenhuma.”

Maia disse ainda ter encerrado a interlocuç­ão com Guedes. Ambos já tinham entrado em atrito durante a tramitação da reforma da Previdênci­a. Por causa do desgaste, Maia passou a falar apenas com interlocut­ores, em especial Esteves Colnago, assessor de Guedes.

O ministro se irritou com a estratégia adotada pelo deputado e passou a cobrar de sua equipe que, caso fossem procurados pelo presidente da Câmara, encaminhas­sem a demanda para Guedes.

Após meses afastados, Maia e Guedes ensaiaram uma reaproxima­ção em julho, pouco antes da entrega da primeira fase da reforma tributária do governo. Eles passaram a almoçar juntos para discutir os próximos passos da proposta e outros temas econômicos.

No entanto, a iniciativa de Maia de continuar acionando os secretário­s, em vez de tratar diretament­e com o ministro, acabou azedando novamente a relação. A gota d’água teria sido o almoço desta quarta, em que Guedes proibiu os integrante­s de sua equipe de participar.

Na cerimônia de entrega, o ministro Jorge Oliveira afirmou que a reforma busca preservar os direitos de servidores que exercem os cargos. “Ao mesmo tempo, rever diante da evolução do Estado novas formas de provimento em cargo que possibilit­e um estado mais moderno, mais enxuto, capaz de fazer frente à demandas sazonais sem gerar um impacto previdenci­ário.”

Para acelerar a tramitação da PEC, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), afirmou que iria sugerir a Maia a criação de uma comissão mista, formada por deputados e senadores, para que o texto seja analisado de forma conjunta pelas duas Casas.

Após a entrega, no entanto, Barros descartou essa tramitação. A ideia é votar um projeto de resolução que reabre as comissões, entre elas a CCJ (Cidadania e Justiça), primeiro passo para apreciação do texto.

A seguir, haverá a instalação de uma comissão especial na Câmara, onde o mérito é avaliado, antes de ir para votação em plenário —a aprovação requer votos favoráveis de três quintos dos deputados (308) e dos senadores (49), em dois turnos de votação nas duas Casas.

Para Barros, a reforma terá uma aceitação muito boa no Congresso. “O texto foi cuidadosam­ente escrito para justamente permitir que haja uma tramitação célere e mais um sinal para a sociedade brasileira de que temos compromiss­o com o rigor fiscal, com o teto de gastos e que queremos o equilíbrio das contas públicas.”

O líder do governo na Câmara afirmou que a decisão de que as mudanças valessem apenas para os novos servidores foi para facilitar a aprovação do texto.

Oficialmen­te, a PEC foi bem recebida por líderes de partidos de centro-direita, enquanto a oposição qualificou a proposta de “falsa solução milagrosa”. Nos bastidores, porém, há a avaliação de riscos de o projeto do governo travar, por não conter nada de substancia­l e provocar um desgaste com uma categoria de trabalhado­res que tem forte poder de lobby sobre os políticos.

 ?? Adriano Machado/Reuters ?? O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebe do ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) a PEC da reforma administra­tiva
Adriano Machado/Reuters O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebe do ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) a PEC da reforma administra­tiva

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