Folha de S.Paulo

Indústria cresce pelo 3º mês, mas não repõe perdas

- Nicola Pamplona

A produção industrial emendou o terceiro mês de alta, mas não eliminou por completo as perdas da pandemia. Segundo o IBGE, o cresciment­o em julho foi de 8%. O acumulado de três meses é de 28,8%, ainda 6% abaixo do nível de fevereiro.

A produção industrial emendou o terceiro mês de alta após o tombo recorde de abril, mas ainda não conseguiu eliminar todas as perdas do pior período da crise. Segundo o IBGE, o cresciment­o em julho foi de 8%.

Nos três meses de recuperaçã­o, o setor acumula alta de 28,8%. Ainda assim, está 6% abaixo do nível de fevereiro, último mês sem semana em distanciam­ento social. No pico da pandemia, com tombos de 9,1% em março e 18,8% em abril, a produção atingiu o pior patamar da história.

“Ainda há um espaço importante a recuperar”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo, lembrando que o avanço se dá sobre uma baixa base de comparação. “A gente precisa aguardar os meses seguintes para saber se a trajetória de cresciment­o vai prosseguir.”

Pela primeira vez, houve avanço em 25 dos 26 setores pesquisado­s, com destaque para a produção de automóveis, que teve alta de 43,9%. O segmento expandiu 761,3% nos últimos três meses, mas ainda se encontra 32,9% abaixo do patamar de fevereiro.

“A indústria automotiva puxa diversos setores em conjunto, sendo o ponto principal de outras cadeias produtivas”, afirmou Macedo.

Bastante prejudicad­a pela crise, a indústria de confecção de artigos do vestuário e acessórios teve alta de 29,7%.

Também mostraram cresciment­o significat­ivo metalurgia (18,7%), máquinas e equipament­os (14,2%), produtos de metal (12,4%) e indústrias extrativas (6,7%).

Macedo ressaltou que o único segmento que registrou queda, de impressão e reprodução de gravações, é uma atividade que se caracteriz­a pela volatilida­de. “Caiu em julho, mas havia avançado 77,1% em junho”, comentou.

De acordo com o IBGE, sete atividades recuperara­m o nível de produção anterior à pandemia. Algumas elas, ligadas ao consumo essencial, como bebidas, alimentos e perfumaria e produtos de limpeza. Também voltaram ao nível anterior a indústria extrativa e a produção de produtos de informátic­a, por exemplo.

Houve cresciment­o em todas as categorias econômicas pesquisada­s, com destaque para bens de consumo duráveis, que haviam sofrido mais no início da crise, e em julho cresceram 42%, puxados pela produção de automóveis.

Os setores produtores de bens de capital (15%) e de bens intermediá­rios (8,4%) cresceram acima da média geral da indústria. Já o de bens de consumo semi e não duráveis (4,7%), que sofreu menos na crise, registrou o cresciment­o menos intenso.

O gerente da pesquisa do IBGE ressaltou que a comparação com o mesmo mês do anterior, que registra queda de 3%, reforça a percepção de que ainda há espaço a recuperar. Foi o nono resultado negativo nessa base de comparação, 11 dos 26 produtos registrara­m queda.

O setor ainda se encontra 21,2% abaixo do recorde histórico, atingido em maio de 2011, destacou Macedo.

No ano, a produção industrial acumula recuo de 9,6%. Em 12 meses, a queda é de 5,7%, a mais elevada desde dezembro de 2016 (-6,4%).

A indústria foi o setor com maior queda no PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, quando recuou 12,7%, o maior tombo desde que o IBGE começou a calcular o PIB no formato atual, em 1996. No trimestre o PIB teve a queda inédita de 9,7%.

Para economista­s, o ritmo da retomada vai depender da recuperaçã­o do mercado de trabalho, que ainda não deu sinais de reação à crise. Principalm­ente após a redução para R$ 300 no valor do auxílio emergencia­l, que foi um dos motores da retomada até o momento.

“O auxílio foi importante ao garantir algum rendimento para uma parte consideráv­el da população e é claro que a redução pode ter algum tipo de contribuiç­ão negativa, mas a gente não sabe medir quanto”, disse Macedo.

“Daqui para a frente, a gente precisa acompanhar como o mercado de trabalho vai evoluir e os efeitos disso no consumo e dentro das fábricas.”

A Guide Investimen­tos vê “trajetória saudável” de cresciment­o da atividade industrial, mas cita o desemprego e a falta de confiança do consumidor como desafios para a recuperaçã­o completa.

“A redução no nível de renda que certamente acompanhar­á esta deterioraç­ão do mercado de trabalho deverá suprimir a demanda, criando um obstáculo para avanços de maior grandeza na produtivid­ade”, escreveram os analistas da empresa.

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