Indústria cresce pelo 3º mês, mas não repõe perdas
A produção industrial emendou o terceiro mês de alta, mas não eliminou por completo as perdas da pandemia. Segundo o IBGE, o crescimento em julho foi de 8%. O acumulado de três meses é de 28,8%, ainda 6% abaixo do nível de fevereiro.
A produção industrial emendou o terceiro mês de alta após o tombo recorde de abril, mas ainda não conseguiu eliminar todas as perdas do pior período da crise. Segundo o IBGE, o crescimento em julho foi de 8%.
Nos três meses de recuperação, o setor acumula alta de 28,8%. Ainda assim, está 6% abaixo do nível de fevereiro, último mês sem semana em distanciamento social. No pico da pandemia, com tombos de 9,1% em março e 18,8% em abril, a produção atingiu o pior patamar da história.
“Ainda há um espaço importante a recuperar”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo, lembrando que o avanço se dá sobre uma baixa base de comparação. “A gente precisa aguardar os meses seguintes para saber se a trajetória de crescimento vai prosseguir.”
Pela primeira vez, houve avanço em 25 dos 26 setores pesquisados, com destaque para a produção de automóveis, que teve alta de 43,9%. O segmento expandiu 761,3% nos últimos três meses, mas ainda se encontra 32,9% abaixo do patamar de fevereiro.
“A indústria automotiva puxa diversos setores em conjunto, sendo o ponto principal de outras cadeias produtivas”, afirmou Macedo.
Bastante prejudicada pela crise, a indústria de confecção de artigos do vestuário e acessórios teve alta de 29,7%.
Também mostraram crescimento significativo metalurgia (18,7%), máquinas e equipamentos (14,2%), produtos de metal (12,4%) e indústrias extrativas (6,7%).
Macedo ressaltou que o único segmento que registrou queda, de impressão e reprodução de gravações, é uma atividade que se caracteriza pela volatilidade. “Caiu em julho, mas havia avançado 77,1% em junho”, comentou.
De acordo com o IBGE, sete atividades recuperaram o nível de produção anterior à pandemia. Algumas elas, ligadas ao consumo essencial, como bebidas, alimentos e perfumaria e produtos de limpeza. Também voltaram ao nível anterior a indústria extrativa e a produção de produtos de informática, por exemplo.
Houve crescimento em todas as categorias econômicas pesquisadas, com destaque para bens de consumo duráveis, que haviam sofrido mais no início da crise, e em julho cresceram 42%, puxados pela produção de automóveis.
Os setores produtores de bens de capital (15%) e de bens intermediários (8,4%) cresceram acima da média geral da indústria. Já o de bens de consumo semi e não duráveis (4,7%), que sofreu menos na crise, registrou o crescimento menos intenso.
O gerente da pesquisa do IBGE ressaltou que a comparação com o mesmo mês do anterior, que registra queda de 3%, reforça a percepção de que ainda há espaço a recuperar. Foi o nono resultado negativo nessa base de comparação, 11 dos 26 produtos registraram queda.
O setor ainda se encontra 21,2% abaixo do recorde histórico, atingido em maio de 2011, destacou Macedo.
No ano, a produção industrial acumula recuo de 9,6%. Em 12 meses, a queda é de 5,7%, a mais elevada desde dezembro de 2016 (-6,4%).
A indústria foi o setor com maior queda no PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, quando recuou 12,7%, o maior tombo desde que o IBGE começou a calcular o PIB no formato atual, em 1996. No trimestre o PIB teve a queda inédita de 9,7%.
Para economistas, o ritmo da retomada vai depender da recuperação do mercado de trabalho, que ainda não deu sinais de reação à crise. Principalmente após a redução para R$ 300 no valor do auxílio emergencial, que foi um dos motores da retomada até o momento.
“O auxílio foi importante ao garantir algum rendimento para uma parte considerável da população e é claro que a redução pode ter algum tipo de contribuição negativa, mas a gente não sabe medir quanto”, disse Macedo.
“Daqui para a frente, a gente precisa acompanhar como o mercado de trabalho vai evoluir e os efeitos disso no consumo e dentro das fábricas.”
A Guide Investimentos vê “trajetória saudável” de crescimento da atividade industrial, mas cita o desemprego e a falta de confiança do consumidor como desafios para a recuperação completa.
“A redução no nível de renda que certamente acompanhará esta deterioração do mercado de trabalho deverá suprimir a demanda, criando um obstáculo para avanços de maior grandeza na produtividade”, escreveram os analistas da empresa.