Folha de S.Paulo

Projeto trava, e ligação de trem a Cumbica deve ter novo atraso

Monotrilho leve ligaria estação da CPTM a terminais de embarque, mas ainda não saiu do papel

- Thiago Amâncio Ministério da Infraestru­tura

As obras da nova ligação entre o aeroporto de Guarulhos e a estação de trem mais próxima deveriam ter começando há um ano para que fosse entregue em maio de 2021, conforme prometido pelo governador João Doria (PSDB) no ano passado. Mas o projeto travou em Brasília e não há nem prazo para sair do papel, em um novo capítulo de uma novela que se arrasta há quase duas décadas.

O projeto de ligação do trem para Cumbica dependia de uma negociação entre a concession­ária do Aeroporto (GRU Airport, controlada pela Invepar) e o governo federal, dono do contrato, articulaçã­o encampada por Doria desde o início de seu governo.

Quando anunciou o “people mover”, monotrilho leve que ligaria a estação AeroportoG­uarulhos, da CPTM (empresa de trens urbanos), de fato ao aeroporto, o governador afirmou que as obras começariam em setembro de 2019.

Um ano depois, o Ministério da Infraestru­tura, que concedeu a administra­ção do aeroporto em 2012 à concession­ária GRU Airport e precisa aprovar a obra, diz a Folha que “o processo [de aprovação dos projetos apresentad­os ao governo federal] segue em tramitação, havendo necessidad­e de análise, por diferentes instâncias, da documentaç­ão relativa à proposta e quanto à comprovaçã­o do interesse público do projeto”.

“Ao mesmo tempo, seguem as tratativas da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] com a concession­ária sobre as condições do investimen­to no contrato de concessão”, diz o governo federal.

Em 2002, ano de eleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), em seu primeiro mandato, assinou um convênio com a Infraero para implementa­r a linha de trem que ligaria a capital a Guarulhos. A promessa era de que as obras começariam em 2003 e ficariam prontas até 2005.

A obra atrasou e, em 2012, o projeto da estação mudou. Se antes deixaria os passageiro­s na entrada do terminal 2 do aeroporto, a nova estação passou para o outro lado da rodovia Hélio Smidt, a mais de 2 km de distância, demandando que quem desembarca lá pegue um ônibus para chegar aos terminais de check-in.

O impasse se deu porque, naquele ano, o aeroporto foi concedido pelo governo Dilma Rousseff (PT) à iniciativa privada e a nova concession­ária, a GRU Airport, disse que pretendia usar parte do terreno previsto para a estação na construção de um empreendim­ento, que poderia ser um hotel ou um shopping, o que inviabiliz­ou que o metrô chegasse

à porta do aeroporto.

Para compensar a ausência da estação de trem dentro de Cumbica, a GRU Airport se compromete­u então a fazer um meio alternativ­o de ligação entre o trem entregue pelo governo do estado, que hoje é feito por linhas de ônibus.

Com a crise econômica a partir de 2014, a concession­ária não fez o empreendim­ento e nem avançou a ideia das estações dentro do aeroporto, alegando que esses não eram compromiss­os contratuai­s.

Quando assumiu o Governo do Estado de São Paulo, João Doria chegou a chamar de bizarra a desconexão entre a estação de trem e o aeroporto. “Não faz sentido transporte público que não leva até o aeroporto. É tão bizarro que é difícil acreditar que isso tenha sido feito no estado de São Paulo”, disse Doria.

A gestão encampou a ideia de um “people mover”, um monotrilho leve que levaria os passageiro­s da estação de trem até as portas dos terminais, que seria tocado pela concession­ária do aeroporto ao custo de R$ 175 milhões, em troca da redução da outorga anual que a GRU Airport paga ao governo federal.

Ou seja, embora as empresas que farão a obra e a operação sejam escolhidas pela concession­ária, o governo federal é que deixa de arrecadar para que o monotrilho exista.

Questionad­a sobre o novo atraso na construção do monotrilho leve, a GRU diz apenas que analisou as propostas recebidas e as encaminhou ao governo federal, sem dar detalhes nem novos prazos.

Procurado, o governo estadual diz apenas que “a responsabi­lidade pela construção do ‘people mover’, que vai interligar a Linha 13 ao saguão de passageiro­s do Aeroporto de Guarulhos, é da concession­ária GRU Airport e da Anac”.

Pelo modelo proposto, o passageiro que chegar à estação Aeroporto da CPTM atravessar­á uma passarela já existente e embarcará no monotrilho leve. O veículo terá três paradas, uma em cada um dos terminais do aeroporto.

Segundo o mapa apresentad­o pelos governos federal e estadual, a estação diante do terminal 1 deverá ficar na área onde hoje ocorre o embarque e desembarqu­e de carros. No terminal 2, a parada deverá ser entre as alas A e B. No terminal 3, o mais novo e utilizado para voos internacio­nais, a estação deve ficar próxima ao prédio do estacionam­ento do aeroporto.

Pista de Congonhas é liberada para aviões de grande porte

Após um mês de obras de recapeamen­to na pista principal do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, aeronaves de grande porte poderão voltar a fazer pousos e decolagens no local a partir deste domingo (6).

O governo federal aproveitou a redução da demanda dos aeroportos durante a pandemia do novo coronavíru­s para fazer a obra, que custou R$ 11,5 milhões. A reforma aumentou a capacidade de drenagem da pista, facilitand­o o escoamento da água da chuva e permitindo mais aderência aos pneus das aeronaves durante pousos e decolagens.

A primeira aeronave de grande porte a pousar lá após o fim das obras deve chegar no voo 3009, entre Belo Horizonte e São Paulo, marcado para as 10h05 de domingo.

Em junho, o governo Doria também concluiu no aeroporto o túnel que ligará o terminal à futura estação Congonhas, do monotrilho da linha 17-ouro do Metrô.

No último sábado (30), no entanto, o Metrô rompeu um dos contratos para construção da linha, o que deve atrasar ainda mais sua conclusão, hoje prevista para 2022.

“O processo [de aprovação dos projetos apresentad­os ao governo federal] segue em tramitação, havendo necessidad­e de análise, por diferentes instâncias, da documentaç­ão relativa à proposta e quanto à comprovaçã­o do interesse público

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Bruno Santos - 6.jan20/Folhapress Passageiro­s fazem fila para pegar trem expresso para o aeroporto de Guarulhos

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