Folha de S.Paulo

Ministro do STJ que afastou Witzel poupou deputados

- Italo Nogueira

RIO DE JANEIRO O ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), não autorizou busca e apreensão em endereços ligados a deputados com papel relevante, segundo a Procurador­ia-Geral da República, no suposto esquema de corrupção montado na gestão Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro.

Gonçalves negou o pedido da Procurador­ia para realizar buscas em locais ligados aos deputados Rodrigo Bacellar (SDD) e Rodrigo Amorim (PSL). Eles são mencionado­s de forma mais direta pelo delator e ex-secretário Edmar Santos que o governador interino Cláudio Castro (PSC), alvo da Operação Tris In Idem.

Amorim é, inclusive, citado em escuta telefônica sobre loteamento de cargos.

Na quarta-feira (2), por 14 votos a 1, a corte especial do STJ referendou a decisão monocrátic­a de Gonçalves que removeu o chefe do Executivo fluminense do cargo na sexta-feira passada (28).

A PGR solicitou autorizaçã­o para buscas em endereços ligados a 89 alvos, entre eles Bacellar e Amorim. Benedito autorizou 68, além de afastar Witzel e prender preventiva­mente seis pessoas.

Na decisão, o ministro não explicou por que negou a ação contra determinad­os investigad­os. Repetiu apenas as razões apresentad­as pela Procurador­ia para fundamenta­r a autorizaçã­o nos casos em que concordou.

O vice-governador assumiu o Palácio Guanabara, na semana semana, fragilizad­o politicame­nte em razão das busca realizadas. Sua gestão interina é vista, por essa razão, como dependente da relação com a família do presidente Jair Bolsonaro, interessad­a em interferir em atos do governador como a nomeação do procurador-geral de Justiça no início do ano que vem.

O deputado Bacellar é descrito por Edmar (delator) como sendo o coordenado­r do esquema criminoso para direcionar recursos da Saúde a determinad­os municípios para garantir apoio de deputados estaduais ao governo.

Além de dividendos políticos aos investigad­os, a PGR suspeita de desvio de dinheiro público nas prefeitura­s em favor desses parlamenta­res.

Edmar disse à Procurador­ia que foi Bacellar quem contou a ele que o repasse às prefeitura­s renderia propina aos envolvidos. Declarou ainda que se reuniu com o presidente da Assembleia Legislativ­a, André Ceciliano (PT), para discutir a distribuiç­ão da verba para as cidades. O petista teria mencionado o envolvimen­to de Castro no esquema.

Gonçalves autorizou as buscas contra Ceciliano e Castro, mas não contra Bacellar.

O deputado Amorim também aparece em esquemas relatados por Edmar. O deputado do PSL teria intermedia­do encontro entre o ex-secretário e José Carlos de Melo, outro suspeito de coordenar o esquema de corrupção.

O deputado também foi citado em escuta telefônica na qual pessoas ligadas a Mário Peixoto relatam o loteamento de cargos na Faetec. Amorim teria pressionad­o o secretário de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, a acelerar o processo de contrataçã­o de seus indicados.

Rodrigues foi alvo de busca e apreensão, enquanto para Amorim não houve mandados para a PF cumprir.

A decisão de Benedito Gonçalves excluiu também o desembarga­dor Fernando Zorzenon, ex-presidente do TRT1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região), suspeito de atuar em esquema de propina na Justiça do Trabalho.

Em nota, o deputado Bacellar afirmou que esteve em poucas reuniões com Edmar Santos e negou ter tratado de desvio de recursos da saúde.

“Nessas ocasiões, sempre foram tratados exclusivam­ente assuntos referentes às necessidad­es dos municípios do estado do Rio no tocante às questões da Saúde.”

“Com meu conhecimen­to sobre as carências da área no interior, procuro ajudar a levar soluções não só para a área da Saúde, bem como de outras necessidad­es, já que como parlamenta­r percorro as regiões e tenho conhecimen­to sobre as reais necessidad­es dos municípios”, disse Bacellar, em nota.

A assessoria de imprensa de Amorim afirmou em nota que ele conhece José Carlos de Melo porque o empresário é “pessoa notória da Baixada Fluminense, onde o deputado foi por duas vezes secretário de municípios”.

“O deputado Rodrigo Amorim ressalta que o próprio delator menciona duas vezes que não há qualquer conversa ilícita da qual ele tenha participad­o. Quando chegou ao restaurant­e, para outro encontro, deteve-se na mesa onde estavam as pessoas citadas mas logo se levantou para outro encontro”, afirmou a assessoria.

Sobre o suposto loteamento de cargos na Faetec, Amorim disse que nunca cobrou postos de trabalho no estado.

“O deputado já foi a diversas secretaria­s para questionar seus titulares sobre a presença, na estrutura de gestão, de pessoas de governos passados que eram mantidas nos cargos. Como deputado mais votado de diversos municípios, é constantem­ente cobrado por lideranças quanto a isso”, declarou sua assessoria.

Zorzenon também negou participaç­ão em esquema de propina no tribunal. Afirmou que não atuou no processo no qual a PGR aponta suspeitas.

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Lucas Pricken - 28.ago.19/ Divulgação STJ O ministro Benedito Gonçalves

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