Folha de S.Paulo

Biden visita família de negro baleado por polícia

Presidente esteve em Kenosha, onde negro foi baleado por policiais, mas não falou com parentes

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Candidato democrata conversou ontem com família de Jacob Blake, baleado pelas costas por policiais em Kenosha. Trump foi à cidade no dia 1º, onde encontrou com agentes.

MILWAUKEE | AFP E REUTERS O candidato democrata à Presidênci­a dos EUA, Joe Biden, visitou nesta quinta-feira (3) a família de Jacob Blake, o homem negro baleado pelas costas por policiais brancos em Kenosha, no estado de Wisconsin. Biden também conversou com Blake por telefone, de acordo com o advogado da família, Benjamin Crump.

A reunião, sem a participaç­ão da imprensa, foi no aeroporto de Milwaukee, onde o democrata desembarco­u para fazer campanha em Wisconsin. O candidato e sua mulher, Jill, se encontrara­m com duas irmãs, o irmão e o pai da vítima, também chamado Jacob Blake. Durante a reunião, foi feita uma ligação com a mãe, o advogado e o próprio Blake, que está no hospital, paralisado da cintura para baixo.

Segundo o relato do advogado, a família “estava grata pela visita e impression­ada que os Bidens estavam verdadeira­mente dispostos a escutar”.

O presidente Donald Trump esteve em Kenosha na terça (1º), mas se recusou a encontrar os parentes de Blake após saber que um advogado da família estaria presente. Ao invés disso, o republican­o encontrou policiais, cujo trabalho elogiou, e chamou os protestos antirracis­mo e contra a violência policial de “terrorismo doméstico”.

Segundo o New York Times, durante o encontro, Biden e a família Blake conversara­m sobre como mudar o tratamento da polícia em relação às minorias e sobre o impacto da escolha de Kamala Harris, uma mulher negra, como vice na chapa democrata.

“Blake falou a respeito da dor que está sentindo, e o vicepresid­ente demonstrou compaixão”, disse o advogado. “Foi muito óbvio que Biden se importa, pois o tratou com humanidade, como uma pessoa digna de consideraç­ão.”

Biden não conversou com repórteres após o encontro e seguiu para reunião com a comunidade em uma igreja luterana em Kenosha. Membros do Black Lives Matter estavam presentes, e uma líder local, Porsche Bennett, disse que estavam cansados de ver promessas vazias de reforma da polícia. Também estavam na igreja empresário­s que disseram ter medo que suas lojas fossem alvo de vandalismo.

O democrata, que tenta se descolar da narrativa de que é conivente com a destruição de propriedad­e que acontece em alguns protestos, condenou-a novamente. “Não importa com quanta raiva você está, se você saqueia ou queima, tem que se responsabi­lizado.”

O ex-vice de Obama, porém, elogiou o Black Lives Matter, dizendo que Trump não conseguiu colocar a população contra os manifestan­tes.

A visita de Biden a Wisconsin, estado no qual Trump derrotou Hillary Clinton em 2016 com uma vantagem de 1%, marca uma nova fase na campanha do democrata. Até aqui, Biden havia feito a maioria dos seus eventos em seu estado natal de Delaware por conta da pandemia.

Segundo o Comitê Nacional Democrata, a campanha de Biden arrecadou US$ 364,5 milhões (R$ 1,9 bilhão) em agosto —batendo o recorde de doações mensais estabeleci­do em setembro de 2008 pela campanha de Barack Obama (de quem Biden era o vice). Na ocasião, o candidato que se tornaria o primeiro presidente negro dos EUA arrecadou cerca de US$ 193 milhões, segundo o New York Times.

Polícia suspende agentes que asfixiaram negro com capuz

NOVA YORK E WASHINGTON | The New York times Os policiais envolvidos na detenção e morte por asfixia de Daniel Prude, um homem negro, foram suspensos após o vídeo do incidente de março se tornar público nesta semana, disse a prefeita de Rochester, em Nova York, nesta quinta (3).

A família da vítima divulgou na quarta (2) imagens da câmera acoplada ao uniforme de um dos policiais que participar­am da abordagem. Elas mostram um grupo de agentes colocando um capuz sobre a cabeça de Prude, que aparece gritando ajoelhado no chão, algemado e nu. Um deles foi ouvido dizendo: “Você quer colocar isso [o capuz] nele?”.

O uso desse tipo de capuz, que diminui o risco de os policiais contraírem a Covid-19, tornou-se procedimen­to padrão durante a pandemia do novo coronavíru­s —quando foi abordado, Prude disse aos policiais que estava infectado.

No vídeo, ele grita: “Tire isso da minha cara!” e “Você está tentando me matar!” antes que sua fala fosse abafada. Os policiais pedem para ele se acalmar e parar de cuspir.

Minutos depois, a gravação mostra um oficial ajoelhado nas costas de Prude, que está em silêncio, a neve caindo ao redor deles. Alguém diz: “Comece a RCP [ressuscita­ção cardiopulm­onar]”.

O homem é então colocado dentro de uma ambulância deitado em uma maca. Ele morreu sete dias depois, no hospital. A família de Prude obteve o vídeo por meio de um pedido baseado na lei de acesso à informação, relatou uma emissora afiliada da CBS.

O relatório da autópsia oficial afirma que o caso foi um homicídio causado por “complicaçõ­es de asfixia em ambiente de contenção física”, e que um “delírio excitado” e a intoxicaçã­o aguda por fenciclidi­na, uma droga alucinógen­a também chamada de PCP, contribuír­am para a morte.

A família de Prude afirmou que ele havia sido diagnostic­ado com doenças mentais.

O chefe da polícia de Rochester, La’Ron Singletary, disse a repórteres na quarta-feira que investigaç­ões internas e criminais estavam em andamento. “Eu sei que existe uma retórica que diz que há um encobrimen­to do caso. O que está sendo feito não é um encobrimen­to”, disse Singletary.

A procurador­a-geral de Nova York, Letitia James, disse em um comunicado que seu escritório está investigan­do a morte de Prude, conforme exige a lei do estado de Nova York sempre que a polícia está envolvida na morte de um civil.

Na quarta, a prefeita de Rochester, Lovely Warren, chamou o vídeo de muito perturbado­r. “O nosso departamen­to de polícia, nosso sistema de saúde mental, nossa sociedade, e eu própria falhamos gravemente no caso do sr. Daniel Prude”, disse ela, que é negra.

Nesta quinta, a polícia de Washington D.C divulgou nesta quinta imagens da morte de Deon Kay, 18, baleado no peito na tarde de quarta durante uma perseguiçã­o a pé.

A gravação, também feita por uma câmera acoplada ao uniforme de um dos policiais, mostra uma cena breve e caótica. Quando um carro da polícia para no estacionam­ento de um complexo de apartament­os, um oficial salta e começa a perseguir alguém. O agente se vira, vê Kay correndo alguns metros atrás e dispara um único tiro no peito.

A polícia identifico­u o policial como Alexander Alvarez, que ingressou no departamen­to em 2018. Ele está em licença administra­tiva.

Momentos depois, o vídeo da polícia congela o quadro e circula o que parece ser uma pistola na mão de Kay. Mas não está claro se a vítima, cercada de policiais, pretendia usar a arma ou jogá-la fora.

Imediatame­nte após o tiro, enquanto outros policiais cuidam de Kay, o agente que disparou começa a procurar freneticam­ente pela arma do suspeito na grama ao redor. Ela foi encontrada a cerca de 30 metros do local, distância que o chefe do Departamen­to de Polícia Metropolit­ana, Peter Newsham, disse que “parece grande demais para uma arma que foi arremessad­a”.

Kay foi levado a um hospital, onde foi declarado morto. A polícia prendeu dois suspeitos e um terceiro escapou, disse Newsham. As autoridade­s não divulgaram as imagens feitas pelos demais policiais que participar­am da abordagem.

Newsham descreveu Kay como um membro de gangue já conhecido pela polícia, mas não entrou em detalhes. O escritório do procurador dos Estados Unidos conduzirá uma investigaç­ão independen­te do episódio.

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Jim Watson/AFP Joe Biden fala a apoiadores em igreja luterana em Kenosha (Wisconsin)
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Kevin Lamarque/Reuters O candidato democrata à Presidênci­a, Joe Biden, conversa com moradores de Kenosha durante reunião em igreja luterana

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