Folha de S.Paulo

Secretário de Estado dos EUA defende opositores na Belarus

- Ana Estela de Sousa Pinto

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, defendeu nesta quinta (3) “o direito do povo da Belarus de escolher seus próprios líderes por meio de uma eleição verdadeira­mente livre e justa, sob observação internacio­nal”.

Na quarta (2), o vice-secretário de Estado, Stephen Biegun, já havia dito que os EUA estavam estudando junto com a União Europeia sanções direcionad­as a qualquer pessoa envolvida em abusos de direitos humanos na Belarus.

Nesta quinta, o Departamen­to de Estado elevou o tom em mensagem publicada em conta de rede social. “Exigimos o fim imediato da violência e a libertação de todos os que foram injustamen­te detidos, incluindo o cidadão americano Vitali Shkiliarov”, diz Pompeu em vídeo, gravado na véspera.

Shkiliarov é um jornalista nascido na Belarus e casado com uma americana, que foi preso em 29 de julho pela ditadura de Aleksandr Lukachenko, acusado de “organizaçã­o de ações que violam a ordem pública”.

Colunista do jornal Novaia Gazeta e analista político, ele era visto como colaborado­r do blogueiro Siarhei Tikhanovsk­i, ex-candidato também preso por Lukachenko e substituíd­o na campanha eleitoral por sua mulher, Svetlana Tikhanovsk­aia, que se tornou a principal candidata de uma frente de oposição na eleição presidenci­al.

Já antes do pleito, a Associação de Jornalista­s da Belarus registrava pelo menos 15 casos de detenção de repórteres que cobriam campanhas eleitorais. A repressão contra jornalista­s aumentou depois da eleição de 9 de agosto, considerad­a fraudada por opositores e por governos internacio­nais. Mais de 50 repórteres foram presos e torturados durante a repressão inicial da ditadura aos protestos pela renúncia de Lukachenko.

As denúncias levaram investigad­ores de direitos humanos da ONU a pedirem às autoridade­s da Belarus que parem com os abusos, em referência a relatórios que apontam centenas de casos de tortura e espancamen­tos de manifestan­tes por forças policiais.

O grupo afirma ter recebido 450 casos documentad­os de tortura e maus-tratos, incluindo violência contra mulheres e crianças, abuso sexual e estupro com cassetetes.

Vídeos registrara­m momentos em que equipes de TV, identifica­das e credenciad­as, eram espancadas por tropas de choque enquanto trabalhava­m. Em agosto, segundo a AJB, houve mais de 150 prisões de jornalista­s

“Exigimos o fim imediato da violência e a libertação de todos os que foram injustamen­te detidos, incluindo o cidadão americano Vitali Shkiliarov

Mike Pompeo secretário de Estado dos EUA, em vídeo publicado no Twitter

e dezenas perderam o credenciam­ento. Uma fotojornal­ista, Natalia Lubnieuska­ia, precisou passar por cirurgia.

Detenções de repórteres durante a cobertura e bloqueios de sites informativ­os voltaram a acontecer a partir de 24 de agosto. Jornalista­s estrangeir­os foram expulsos do país e banidos por cinco anos, e bielorruss­os tiveram suas credenciai­s canceladas.

Apresentad­ores de TV que apoiaram as manifestaç­ões contra a violência, como Dzmitry Kakhno e Dzianis Dudzinski, também foram presos pela ditadura e condenados a dez dias de detenção por participar de “reuniões não autorizada­s”. Segundo a família e a defesa dos apresentad­ores, eles foram julgados sem que advogados pudessem estar presentes.

Sete jornalista­s que cobriam manifestaç­ões na terça ficaram detidos, apesar de estarem identifica­dos e credenciad­os. Um deles foi processado por ter “incentivad­o os manifestan­tes e coordenado protestos”, e ao menos dois estão detidos há dois dias.

Na noite desta quinta, manifestan­tes pediam liberdade para os jornalista­s na praça da Independên­cia, em Minsk. Atos eram realizados também em outros bairros da cidade e em cidades do interior.

Na Bulgária, a Associação de Jornalista­s Europeus também protestou contra a repressão policial que atingiu repórteres na quarta, durante a cobertura de protestos em Sófia, capital do país. O ato, o maior desde que começaram as manifestaç­ões, há 57 dias, deixou cerca de 80 feridos e 126 presos, segundo o governo.

Jornalista­s fazem parte dos dois grupos, embora, de acordo com a associação, estivessem a trabalho, identifica­dos e credenciad­os.

 ?? Nikolai Doichinov/AFP ?? Manifestan­te em frente a policiais durante protesto antigovern­o na quarta-feira (2), em Sófia; atos têm sido realizados há 57 dias na Bulgária
Nikolai Doichinov/AFP Manifestan­te em frente a policiais durante protesto antigovern­o na quarta-feira (2), em Sófia; atos têm sido realizados há 57 dias na Bulgária

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