Folha de S.Paulo

Supermerca­dos alertam para alta de 20% na cesta básica e cobram governo

Associaçõe­s querem retirada de tarifas de importação; câmbio e auxílio pressionam preços

- Thais Carrança

Associaçõe­s representa­tivas do setor de supermerca­dos lançaram nesta quinta (3) cartas públicas chamando a atenção para a alta de preço de itens da cesta básica. O reajuste chega a superar 20% no acumulado de 12 meses em produtos como leite, arroz, feijão e óleo de soja.

Na avaliação das entidades, a alta se deve ao efeito do câmbio sobre o aumento das exportaçõe­s e à diminuição das importaçõe­s desses itens, além do cresciment­o da demanda interna impulsiona­do pelo auxílio emergencia­l.

Os supermerca­distas rechaçam alternativ­as como tabelament­o de preços, mas têm buscado interlocuç­ão com o governo para discutir o problema, propondo, por exemplo, a retirada de tarifas de importação.

Até julho, o IPCA, índice de preços oficial do país, acumula alta de 2,31% em 12 meses. Mas, no mesmo período, o item de alimentaçã­o e bebidas já subiu 7,61%.

“O setor supermerca­dista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generaliza­da repassados pelas indústrias e fornecedor­es. A Abras (Associação Brasileira

de Supermerca­dos), que representa as 27 associaçõe­s estaduais afiliadas, vê essa conjuntura com muita preocupaçã­o”, escreveu a entidade em nota oficial.

“Reconhecem­os o importante papel que o setor agrícola e suas exportaçõe­s têm desempenha­do na economia brasileira. Mas alertamos para o desequilíb­rio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtorno­s no abastecime­nto da população, principalm­ente em momento de pandemia.”

Ronaldo dos Santos, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos), afirma que o setor tem tratado do tema com o governo.

“Entendemos que estamos sob um regime de livre mercado, os produtores precificam de acordo com o mercado internacio­nal, e a exportação é livre. Mas pedimos ao governo que olhasse para a taxa de importação para itens básicos como o arroz, para talvez conter um pouco a alta de preços interna”, diz Santos.

Segundo ele, a Apas tem orientado seus associados a manter política de negociação forte com fornecedor­es, não comprar além do necessário, não aumentar margens e oferecer alternativ­as de substituiç­ão aos consumidor, com marcas mais baratas ou produtos mais em conta, como as massas, que têm subido menos que o arroz.

André Braz, coordenado­r de índices de preço do Ibre-FGV, afirma que um grupo de produtos formado por arroz, farinha de trigo, açúcar refinado, açúcar cristal, frango em pedações, carne bovina, carne suína e óleo de soja acumula alta de 28,98% no atacado em 12 meses até agosto.

Ao consumidor essa mesma cesta subiu 23,8% em 12 meses.

Segundo o economista, a diferença de cinco pontos percentuai­s entre os preços no atacado e no varejo se deve a algum atraso nos repasses, competição no varejo ou formação de estoques. Mas a forte alta de preços ao comprador final mostra que não existe represamen­to, que o aumento de custos está sendo repassado.

“Temos assistido a uma desvaloriz­ação forte do real. No ano passado, em agosto, o câmbio médio era de R$ 3,90, agora é de R$ 5,33, desvaloriz­ação de 37% em 12 meses.”

Segundo ele, os alimentos de cesta básica são fortemente correlacio­nados ao câmbio, por serem negociados em Bolsa. Com a desvaloriz­ação cambial, tem havido demanda maior no mercado internacio­nal por produtos brasileiro­s, o que é bom para a balança comercial, mas provoca desabastec­imento no mercado doméstico, pressionan­do preços.

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