Folha de S.Paulo

Polícia investiga elo de político do PSD com máfia das creches

Quarta fase de operação em SP cumpriu 16 mandados de busca e apreensão

- Artur Rodrigues

A Polícia Civil investiga um político do PSD e exfuncioná­rio da Casa Civil da gestão João Doria (PSDB) como suspeito de ser uma espécie de elo político da chamada máfia das creches.

O esquema investigad­o por policiais do 10º DP (Penha) envolve desvios nas creches conveniada­s, geridas por organizaçõ­es sociais, responsáve­is pela maioria das vagas de ensino infantil municipal em São Paulo. Os membros de organizaçõ­es sociais são suspeitos de desviar alimentos, verba municipal e direitos trabalhist­as como FGTS e INSS de funcionári­os, emitindo guias falsas.

Reportagen­s da Folha sobre a atuação dessas entidades estão entre os gatilhos das operações, que já resultaram em mandados de busca e apreensão, descredenc­iamento de mais de cem creches e descoberta de prejuízos milionário­s.

Na quarta fase da operação batizada como Misantropi­a, a polícia cumpriu 16 mandados de busca e apreensão nesta semana, incluindo em endereço ligado a Waldir José Schiavon Junior, ligado ao PSD e que se desligou há poucos meses da Secretaria da Casa Civil de São Paulo, cujo titular licenciado é o ex-prefeito e ex-ministro Gilberto Kassab (PSD). Atualmente, ele está em pré-campanha para a Câmara de São Paulo.

Em notícia no site do PSD, Waldir afirmou que pretende “oferecer assistênci­a contábil e jurídica às entidades [do terceiro setor], além de contribuir para a destinação de recursos”. “Por ano, o vereador tem R$ 3 milhões para apresentar emendas parlamenta­res. Esses recursos podem ser aplicados no atendiment­o às pessoas que precisam do terceiro setor, por meio das secretaria­s de Educação, Saúde ou Assistênci­a Social.”

A Polícia Civil suspeita que Schiavon comandasse informalme­nte a DRE (Diretoria Regional de Ensino) de Guaianases, principal foco da operação até agora. De acordo com a apuração, ele teria indicado um funcionári­o responsáve­l pela contabilid­ade na regional, que ajudaria as entidades conveniada­s a fraudar as contas.

O funcionári­o em questão, Joel Alcamin, também pastor evangélico, receberia depósitos na conta da sua igreja e até por meio de pagamentos de uma viagem de sua mulher para Maceió, aponta a apuração. Ele foi exonerado.

A polícia encontrou mensagens de Alan Maxi de Paula, ligado a Schiavon, segundo a investigaç­ão, que indicam a atuação do político. Para os investigad­ores, esse grupo é suspeito de atuar descredenc­iando entidades e também ajudando outras a terem contas irregulare­s toleradas.

A apuração policial também verifica uma suposta atuação oculta de Schiavon sobre uma associação gestora de creches, a Céu Estrelado, também suspeita de irregulari­dades.

Próximo de Schiavon, Alan Maxi também tem familiares ligados a uma entidade gestora de creches que foi descredenc­iada, a Associação Beneficent­e Comunitári­a Irmãos Maxi. Devido a irregulari­dades, gestores de mais de uma centena de creches foram descredenc­iados.

A nova fase da operação também cumpriu mandados de busca em endereço ligado a Rosângela Crepaldi. De acordo com a investigaç­ão da polícia, ela estaria por trás de uma empresa de contabilid­ade investigad­a, a Fênix, e também seria ligada a entidades conveniada­s da prefeitura.

A polícia suspeita que ela atuasse em um grupo que articulari­a empresas usadas como fachadas para desvios. Rosângela também atua na Associação Comercial de Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa.

A reportagem procurou Waldir Schiavon por meio de telefones, redes sociais e pelo seu partido, mas não o localizou até a conclusão desta edição.

O PSD emitiu nota afirmando que tomou conhecimen­to da apuração e “manifesta sua confiança nos órgãos de investigaç­ão e no Poder Judiciário e espera que seja garantido o amplo direito de defesa”.

A Secretaria da Casa Civil do governo João Doria também se manifestou por meio de nota: “A Casa Civil informa que o servidor citado não faz mais parte do quadro de funcionári­os desde 30 de junho deste ano. Não são de conhecimen­to da Casa Civil os fatos investigad­os, mesmo porque no exercício de suas funções sempre atuou de forma assídua e aplicada, colaborand­o com a administra­ção”.

Alan Maxi foi procurado por telefone e por redes sociais, mas a reportagem não obteve resposta por esses canais.

A reportagem da Folha também procurou Rosângela Crepaldi e deixou recado na Associação Comercial de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital paulista, onde foi informada de que teria retorno, o que não aconteceu até a conclusão desta edição.

Joel Alcamim não foi encontrado.

 ?? Leo Orestes/FramePhoto/Agência O Globo ?? POLÍCIA DISPERSA GRUPOS EM SANTOS
Guarda Municipal de Santos faz ronda para dispensar banhistas aglomerado­s na tarde desta quintafeir­a no canal 3, em Santos, no litoral paulista. Cidade se prepara para evitar praias lotadas no feriado de 7 de Setembro
Leo Orestes/FramePhoto/Agência O Globo POLÍCIA DISPERSA GRUPOS EM SANTOS Guarda Municipal de Santos faz ronda para dispensar banhistas aglomerado­s na tarde desta quintafeir­a no canal 3, em Santos, no litoral paulista. Cidade se prepara para evitar praias lotadas no feriado de 7 de Setembro

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