Polícia investiga elo de político do PSD com máfia das creches
Quarta fase de operação em SP cumpriu 16 mandados de busca e apreensão
A Polícia Civil investiga um político do PSD e exfuncionário da Casa Civil da gestão João Doria (PSDB) como suspeito de ser uma espécie de elo político da chamada máfia das creches.
O esquema investigado por policiais do 10º DP (Penha) envolve desvios nas creches conveniadas, geridas por organizações sociais, responsáveis pela maioria das vagas de ensino infantil municipal em São Paulo. Os membros de organizações sociais são suspeitos de desviar alimentos, verba municipal e direitos trabalhistas como FGTS e INSS de funcionários, emitindo guias falsas.
Reportagens da Folha sobre a atuação dessas entidades estão entre os gatilhos das operações, que já resultaram em mandados de busca e apreensão, descredenciamento de mais de cem creches e descoberta de prejuízos milionários.
Na quarta fase da operação batizada como Misantropia, a polícia cumpriu 16 mandados de busca e apreensão nesta semana, incluindo em endereço ligado a Waldir José Schiavon Junior, ligado ao PSD e que se desligou há poucos meses da Secretaria da Casa Civil de São Paulo, cujo titular licenciado é o ex-prefeito e ex-ministro Gilberto Kassab (PSD). Atualmente, ele está em pré-campanha para a Câmara de São Paulo.
Em notícia no site do PSD, Waldir afirmou que pretende “oferecer assistência contábil e jurídica às entidades [do terceiro setor], além de contribuir para a destinação de recursos”. “Por ano, o vereador tem R$ 3 milhões para apresentar emendas parlamentares. Esses recursos podem ser aplicados no atendimento às pessoas que precisam do terceiro setor, por meio das secretarias de Educação, Saúde ou Assistência Social.”
A Polícia Civil suspeita que Schiavon comandasse informalmente a DRE (Diretoria Regional de Ensino) de Guaianases, principal foco da operação até agora. De acordo com a apuração, ele teria indicado um funcionário responsável pela contabilidade na regional, que ajudaria as entidades conveniadas a fraudar as contas.
O funcionário em questão, Joel Alcamin, também pastor evangélico, receberia depósitos na conta da sua igreja e até por meio de pagamentos de uma viagem de sua mulher para Maceió, aponta a apuração. Ele foi exonerado.
A polícia encontrou mensagens de Alan Maxi de Paula, ligado a Schiavon, segundo a investigação, que indicam a atuação do político. Para os investigadores, esse grupo é suspeito de atuar descredenciando entidades e também ajudando outras a terem contas irregulares toleradas.
A apuração policial também verifica uma suposta atuação oculta de Schiavon sobre uma associação gestora de creches, a Céu Estrelado, também suspeita de irregularidades.
Próximo de Schiavon, Alan Maxi também tem familiares ligados a uma entidade gestora de creches que foi descredenciada, a Associação Beneficente Comunitária Irmãos Maxi. Devido a irregularidades, gestores de mais de uma centena de creches foram descredenciados.
A nova fase da operação também cumpriu mandados de busca em endereço ligado a Rosângela Crepaldi. De acordo com a investigação da polícia, ela estaria por trás de uma empresa de contabilidade investigada, a Fênix, e também seria ligada a entidades conveniadas da prefeitura.
A polícia suspeita que ela atuasse em um grupo que articularia empresas usadas como fachadas para desvios. Rosângela também atua na Associação Comercial de Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa.
A reportagem procurou Waldir Schiavon por meio de telefones, redes sociais e pelo seu partido, mas não o localizou até a conclusão desta edição.
O PSD emitiu nota afirmando que tomou conhecimento da apuração e “manifesta sua confiança nos órgãos de investigação e no Poder Judiciário e espera que seja garantido o amplo direito de defesa”.
A Secretaria da Casa Civil do governo João Doria também se manifestou por meio de nota: “A Casa Civil informa que o servidor citado não faz mais parte do quadro de funcionários desde 30 de junho deste ano. Não são de conhecimento da Casa Civil os fatos investigados, mesmo porque no exercício de suas funções sempre atuou de forma assídua e aplicada, colaborando com a administração”.
Alan Maxi foi procurado por telefone e por redes sociais, mas a reportagem não obteve resposta por esses canais.
A reportagem da Folha também procurou Rosângela Crepaldi e deixou recado na Associação Comercial de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital paulista, onde foi informada de que teria retorno, o que não aconteceu até a conclusão desta edição.
Joel Alcamim não foi encontrado.