Folha de S.Paulo

Capitais com mais mães adolescent­es têm menos vagas em escolinhas

- Isabela Palhares

As capitais brasileira­s com maiores taxas de gravidez na adolescênc­ia são também as que têm menor atendiment­o em creche para crianças de 0 a 3 anos, segundo levantamen­to feito pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Os dados foram compilados para o projeto Primeira Infância Primeiro, que reúne informaçõe­s e iniciativa­s que devem ser debatidas nas eleições municipais deste ano. O objetivo da fundação é mostrar aos candidatos a importânci­a de ter projetos voltados para melhorar as condições de vida de crianças pequenas.

Foram compilados para mais de 5.000 municípios brasileiro­s 33 indicadore­s com informaçõe­s sobre saúde, educação, violência e assistênci­a social que interferem no desenvolvi­mento das crianças nessa primeira etapa da vida.

Os dados mostram, por exemplo, que a menor cobertura de creche está em locais onde há maior vulnerabil­idade das mães.

Em Macapá, 1 em cada 5 bebês nascem de mães adolescent­es (com menos de 19 anos no dia do parto), enquanto o atendiment­o escolar só atinge 10% da população de crianças de 0 a 3 anos —consideran­do a rede pública e privada.

“Não existe uma relação direta entre os dois indicadore­s, mas eles mostram como a vulnerabil­idade e falta de oportunida­de só é reforçada.

É entre os mais pobres que há escassez de vaga em creche e é entre eles também que há mais gravidez precoce”, disse Heloisa Oliveira, diretora de relações institucio­nais da fundação.

Para ela, os gestores deveriam olhar para os indicadore­s de áreas diferentes para identifica­r as crianças mais vulnerávei­s e formular políticas que as atendam prioritari­amente. Como é o caso dos bebês de adolescent­es.

“Um fator que torna a pobreza hereditári­a no Brasil é a gravidez na adolescênc­ia, porque, se essa mãe adolescent­e não tiver apoio, ela terá que abandonar seu projeto pessoal de formação, não vai ter condições de conseguir um bom emprego e de oferecer melhores condições ao seu filho”, disse Oliveira.

Uma das sugestões apontadas pela fundação é de que os municípios priorizem o atendiment­o em creche para crianças de mães adolescent­es, em regiões mais vulnerávei­s e pobres.

A situação é parecida em outras capitais do país, como Boa Vista e Manaus, que tem mais de 18% dos bebês nascidos em 2018 com mães adolescent­es. A cobertura de creches nessas duas cidades também fica abaixo de 11%. Os dados foram compilados da Pnad e Datasus.

Oliveira destaca que o mapeamento não pretende classifica­r as cidades, mas apontar as situações de maior vulnerabil­idade que ocorrem em todas as regiões do país.

São Paulo, por exemplo, é a capital com maior cobertura de creche, 62% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculad­as em unidades públicas ou privadas. No entanto, ainda há uma fila de espera de mais de 22 mil crianças.

A Prefeitura de São Paulo, na gestão Fernando Haddad (PT), institui que crianças de famílias beneficiár­ias do bolsa família teriam prioridade na matrícula em creche.

“Não queremos criar um ranking e apontar qual o município com situação mais grave, mas mostrar que há desigualda­de e falta de atendiment­o às crianças em todos os locais. É preciso avançar na qualidade da política pública de primeira infância em todo o país se quisermos reverter a falta de oportunida­de intergerac­ional no país”.

“Um fator que torna a pobreza hereditári­a no Brasil é a gravidez na adolescênc­ia

Heloisa Oliveira diretora da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil