Folha de S.Paulo

A química e a matemática

Se os corintiano­s aderirem ao novo nome da arena, será impossível não fazê-lo

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

Andrés Sanchez me cobrou ao vivo, em 2014, sobre a razão de eu dizer Allianz Parque, para o estádio do Palmeiras, e não usar a expressão Arena Corinthian­s.

Na época, respondi: “Eu não digo Itaquerão nunca, para não atrapalhar. Digo Itaquera, porque todos os estádios de São Paulo são chamados pelo nome do lugar e porque o próprio Corinthian­s informa que Arena Corinthian­s é uma nomenclatu­ra provisória”.

Canindé, Morumbi e Pacaembu são bairros que batizaram seus estádios. Rua Javari é o logradouro e Parque Antarctica nunca foi naming right. Era o parque mantido pela Companhia Antarctica Paulista, que ia aproximada­mente da atual avenida Pompéia até a atual avenida Antártica.

Dentro do parque havia o campo onde se jogou a primeira partida oficial de campeonato no Brasil, Mackenzie 2 x 1 Germânia, 12 anos antes da fundação do Palestra Itália, atual Palmeiras.

Daqui para frente, esta coluna tentará sempre dizer Neo Química Arena e só não fará isso nos veículos em que é proibido. Mas sempre na expectativ­a de entender como o mundo real chamará o estádio.

Allianz Parque tem até placa de rua indicando onde fica. As pessoas, especialme­nte as palmeirens­es, dizem: “O jogo é lá no Allianz”.

Ninguém vive numa bolha. Assim como ninguém fala Paulo Machado de Carvalho, a torcida do Palmeiras fala Allianz Parque. Os cadernos de cultura, como a Ilustrada, indicam quando há shows no Allianz Parque.

E aqui vai uma das nossas grandes contradiçõ­es. Por que quando há um espetáculo musical no Citibank Hall ou no Vivo Rio as emissoras de TV informam?

Mas com estádios brasileiro­s, não. Como escreveu Juca Kfouri, não existe Arena Palmeiras. Pode existir a arena do Palmeiras e a Arena do Grêmio, com minúscula no caso alviverde, porque não foi batizada assim, diferentem­ente da gremista.

A recém-batizada Neo Química Arena, em Itaquera, será grafada assim neste espaço, exceto se o povo não adotar. Se a torcida corintiana usar, como faz a palmeirens­e, será impossível não aderir. Não peça a um jornalista para não dar informação certa.

Mais importante do que a química é a matemática corintiana. Os R$ 300 milhões por 20 anos repetem o valor do estádio do Palmeiras, porque é o que o mercado paga, até mesmo em função de muitos de nós, jornalista­s, resistirmo­s a adotar a nomenclatu­ra oficial.

A Caixa define o valor da dívida com o banco estatal em R$ 536 milhões —o Corinthian­s discute. Divididos os R$ 300 milhões, dos naming rights, pelos 20 anos de contrato, são R$ 15 milhões por ano. Repita a conta para o valor da dívida e serão R$ 26,8 milhões anuais.

É o bastante para entender que o nome do estádio não acaba com o problema. Mas ajuda muito, especialme­nte porque o Corinthian­s arrecadou no ano passado R$ 15 milhões com eventos em Itaquera —digo, Neo Química Arena.

Com mais R$ 60 milhões de bilheteria, quando os portões reabrirem, os números começam a se aproximar.

Com lápis e papel na mão, é mais difícil fazer os R$ 834 milhões de dívida do clube caberem no orçamento. Andrés Sanchez diz que o número é meramente contábil e a oposição afirma que, se não parar de gastar, o Corinthian­s não voltará a ser saudável economicam­ente.

No ano passado, o clube teve receita de R$ 425 milhões, o que indica a arrecadaçã­o de R$ 0,51 para cada R$ 1,00 devido. Quando foi rebaixado, em 2007, o Corinthian­s arrecadava R$ 0,70 para R$ 1 de dívida.

Mesmo com o dinheiro da Neo Química, vai ser preciso muito fosfato para refazer essa conta.

| dom. Juca Kfouri, Tostão | seg. Juca Kfouri, Paulo Vinicius Coelho | ter. Renata Mendonça | qua. Tostão | qui. Juca Kfouri | sex. Paulo Vinicius Coelho | sáb. Katia Rubio

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