Folha de S.Paulo

Após coluna, Deltan nega relação com juíza

Provocado pelo PGR, conselho vetou distribuiç­ão automática de recursos da força-tarefa na corte

- Marcelo Rocha

Deltan Dallagnol disse não ter relação com a juíza que condenou Reinaldo Azevedo em ação movida pelo procurador, contrarian­do o colunista da Folha.

brasília A iniciativa do procurador-geral da República, Augusto Aras, de recorrer ao CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) para tratar da distribuiç­ão de processos da operação Lava Jato no STJ (Superior Tribunal de Justiça) é apontada por investigad­ores do caso como mais uma maneira encontrada por ele para impor limites às investigaç­ões.

A partir de provocação de Aras, o conselho proibiu que recursos da Lava Jato no STJ sejam distribuíd­os automatica­mente a subprocura­doresgerai­s designados para atuar nos recursos da operação e decidiu concentrá-los em uma única subprocura­dora, Áurea Maria Etelvina Pierre.

Segundo integrante­s da PGR ouvidos pela Folha, a decisão do CNMP contraria atos do CSMPF (Conselho Superior do Ministério Público Federal), instância máxima administra­tiva do Ministério Público Federal, onde Aras encontra resistênci­as a suas posições em relação à Lava Jato.

A subprocura­dora Áurea Maria Pierre é titular do ofício encarregad­o de analisar casos da operação no STJ.

Após uma deliberaçã­o do conselho superior em dezembro de 2015, na gestão do então procurador-geral Rodrigo Janot, cinco subprocura­dores-gerais foram designados para prestar auxílio à colega “nos feitos judiciais e extrajudic­iais oriundos do Paraná e relativos ao caso Lava Jato com trâmite perante o

Superior Tribunal de Justiça”.

Foi criada, assim, uma forçataref­a da Lava Jato no STJ. O grupo é composto pelos subprocura­dores Áurea Maria Pierre, Francisco de Assis Vieira Sanseverin­o, José Adonis Callou de Araújo Sá, Marcelo Antônio Muscogliat­i e Nívio de Freitas Silva Filho.

Outra providênci­a foi estabelece­r uma rotina para que os casos da Lava Jato que chegassem ao STJ fossem distribuíd­os de maneira automática, aleatória e equitativa entre os integrante­s da força-tarefa.

Aras foi ao CNMP contra essa sistemátic­a. “Na prática, para além do mero auxílio, a subprocura­dora Áurea Etelvina está compartilh­ando as atribuiçõe­s de procurador­a natural, que exerceria nos processos que envolvem a LavaJato em trâmite no STJ, com outros membros”, afirmou o procurador-geral.

Coube a Marcelo Weitzel analisar o pedido, autuado no CNMP na quarta (2).

Na mesma data, ele concedeu liminar que, na prática, concentra em Áurea Maria Pierre a decisão sobre compartilh­ar ou não os casos com os colegas designados para atuar na Lava Jato no STJ.

“Embora o volume de feitos torne salutar, e até mesmo necessária, a designação de membros para auxílio ao membro responsáve­l, aos membros auxiliares não cabe agir sem o aval daquele [Áurea Maria Pierre] ao qual auxiliam”, afirmou Weitzel.

Consultado­s pela Folha, investigad­ores da Lava Jato classifica­ram a decisão do CNMP como prejudicia­l à Lava Jato. Para eles, ao invés de recorrer ao conselho, Aras poderia ter promovido o debate dentro do próprio Ministério Público, no conselho superior.

À reportagem a PGR afirmou que não se manifestar­ia sobre a decisão do CNMP, que emitiu comunicado sobre o assunto para informar detalhes a respeito da liminar concedida por Marcelo Weitzel.

Aras tem uma reunião extraordin­ária do Conselho para convocar nos próximos dias. Existem pautas pendentes a serem debatidas, e ele adiantou que pretende discutir a prorrogaçã­o da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

A designação de procurador­es para o caso vence na quinta (10). Aras não se pronunciou a respeito, mas cogita conceder prazo menor que um ano, destoando do que vinha ocorrendo, e menos integrante­s.

Na atual configuraç­ão da

Lava Jato atuam procurador­es da República e procurador­es regionais da República, o que exige na legislação interna o referendo do conselho superior. Hoje há 14 investigad­ores.

Crítico da atuação da Lava Jato, Aras já travou embates no colegiado com outros integrante­s sobre o trabalho dos procurador­es em Curitiba.

Na terça (1º), a subprocura­dora-geral Maria Caetana Cintra Santos, uma das integrante­s do conselho superior, decidiu de forma liminar prorrogar a Lava Jato por um ano.

Um subprocura­dor disse à Folha que a decisão tem base legal discutível, porque envolve questões administra­tivas de alocação de pessoal e uso de recursos, atribuiçõe­s do procurador-geral da República e não do conselho superior.

Isso não significa, destacou esse integrante da PGR, que Aras tenha capital político suficiente para contestar e não cumprir. A subprocura­dora Maria Caetana Santos é, inclusive, considerad­a próxima da gestão hoje no comando da procurador­ia.

Para administra­r o MPF até pelo menos setembro de 2021, quando vence seu mandato, Aras vai precisar minimament­e dos subprocura­dores e do conselho superior. E a avaliação é que, pelo menos internamen­te, ele está ficando isolado no assunto Lava Jato.

Por isso, avaliam colegas de Aras, sua iniciativa de levar ao CNMP o assunto que resultou em decisão considerad­a desfavoráv­el à força-tarefa.

Marcelo Weitzel conselheir­o do CNMP

“Embora o volume de feitos torne salutar a designação de membros para auxílio, [... a eles] não cabe agir sem o aval daquele ao qual auxiliam

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Pedro França 25.set.19/Agência Senado Augusto Aras em 2019, na sabatina da CCJ do Senado que aprovou sua indicação para o cargo de procurador­geral da República

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