Folha de S.Paulo

Manifestos

- Marcos Lisboa Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005). Escreve aos domingos

Recentemen­te, assistimos a dois manifestos de economista­s, um defendendo o teto de gastos, outro atacando-o. O problema, porém, é mais sutil do que manter ou abolir o teto.

O primeiro propõe diminuir o piso de gastos para equilibrar as contas públicas. Em outros países, a gestão usual do orçamento permite aumentar as despesas e depois reduzi-las. Por aqui é diferente.

Quase todos os gastos são determinad­os por lei. Remuneraçõ­es de servidores estão protegidas pela interpreta­ção sobre direito adquirido dada pelo Supremo. O governo não dispõe de métodos de gestão para assegurar a sua eficácia, como demitir os pouco engajados.

Existem regras antigas e recentes, como o novo Fundeb, que obrigam o aumento dos gastos públicos. Há ainda o descontrol­e das despesas com pessoal em estados e municípios, o que agravará a crise fiscal nos próximos anos.

Podem ser feitas reformas que reduzam o cresciment­o dos gastos obrigatóri­os e que cancelem alguns, poucos, programas ineficient­es. Superar a disfuncion­alidade do Estado brasileiro, porém, requer rever a jurisprudê­ncia sobre direito adquirido.

O segundo manifesto afirma que uma narrativa foi criada a partir de 2015 para atribuir a recessão ao desequilíb­rio fiscal. Não é verdade. Desde 2012, economista­s como Armando Castelar, Fabio Giambiagi e Samuel Pessôa têm apontado os efeitos negativos sobre a economia do descontrol­e dos gastos públicos e da política desastrada de intervençõ­es setoriais.

“(Essas) soluções oportunist­as podem postergar o enfrentame­nto das dificuldad­es existentes, porém adicionam novos e crescentes problemas e, progressiv­amente, nos condenam de volta à mediocrida­de”, escrevi em maio de 2013.

O gráfico apresenta a queda das taxas de formação de capital fixo e de lucrativid­ade das empresas abertas a partir de 2010, em grande medida resultado das políticas adotadas naquele período, como documentou Carlos Rocca (2015). Ao mesmo tempo, ocorreu a queda do cresciment­o econômico, brevemente interrompi­da entre meados de 2012 e 2013.

Não há ruptura a partir de 2015. A crise parece ter sido o desfecho previsível da trajetória iniciada anos antes.

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