Folha de S.Paulo

Partidos do centrão se apoiam em Bolsonaro para crescer no Nordeste

Recém-alinhadas ao presidente, legendas como PP e PSD miram prefeitura­s de cidades da região

- João Pedro Pitombo

Recém-alinhados ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os principais partidos do centrão — bloco parlamenta­r que inclui legendas como PP, PSD, PL, PTB, Solidaried­ade, PROS e Avante— preparam uma ofensiva sobre prefeitura­s de cidades do interior no Nordeste.

A intenção é ganhar musculatur­a para trilhar um caminho próprio na eleição de 2022, quando 7 dos 9 governador­es de estados nordestino­s encerram seus mandatos sem possibilid­ade de reeleição.

Para ganhar maior protagonis­mo, os partidos do centrão contam com o apoio do governo federal e do presidente, que tem inaugurado obras e já fez quatro visitas à região nos últimos três meses.

Em contrapart­ida, o presidente aposta em uma rede de aliados no Nordeste para tentar ganhar terreno em uma região na qual teve menos votos que Fernando Haddad (PT) na eleição de 2018.

Bolsonaro afirmou na última semana que não apoiará candidatos no primeiro turno das eleições municipais. Contudo, a avaliação dos líderes partidário­s é a de que a força da máquina federal, com obras e recursos para os municípios, pode fazer a diferença.

Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) vê o estreitame­nto com o governo federal como uma relação de ganha-ganha. De um lado, o partido ajuda o presidente a enfrentar temas impopulare­s no Congresso Nacional. De outro, o governo acena com mais gastos com obras de infraestru­tura.

“Sempre tivemos esta visão pragmática na relação com o governo federal. Somos um partido de resultados”, afirma Ciro Nogueira.

O estreitame­nto coincide com o avanço da popularida­de do presidente no Nordeste. Pesquisa Datafolha divulgada em agosto revelou que 33% dos eleitores da região consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom contra 27% da pesquisa anterior, de junho.

O aumento da popularida­de foi impulsiona­do, dentre outros fatores, pelo auxílio emergencia­l pago durante a pandemia. Nos quatro últimos meses o benefício foi de R$ 600, e ele ganhará mais quatro parcelas de R$ 300 até dezembro, depois das eleições.

“Não tenho dúvida de que o presidente Bolsonaro será o principal cabo eleitoral nas eleições deste ano”, afirma o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), que apoia o presidente na esfera federal, o governador Rui Costa (PT) no estado e o prefeito ACM Neto (DEM) em Salvador.

A expectativ­a é que o presidente participe de novas inauguraçõ­es e vistorias em estados do Nordeste antes da eleição. Ainda neste mês de setembro, ele deve visitar as obras da ferrovia Oeste-Leste, na Bahia.

Em clima de campanha, terá mais uma oportunida­de para estreitar o contato com parlamenta­res da região, que buscam dar impulso para os candidatos a prefeito que disputam a eleição deste ano e que formarão sua base de apoio na busca pela reeleição, em 2022.

Mesmo antes da eleição, os partidos do centrão haviam ganhado musculatur­a no Nordeste. As legendas atraíram novos prefeitos durante a janela partidária em abril, período no qual os prefeitos podem mudar de legenda sem sofrer punição.

O campeão em prefeitos no Nordeste agora é o PSD, que cresceu de 241 para 273 chefes do Executivo municipal, superando o MDB.

O partido se alinhou a Bolsonaro e indicou o deputado federal Fábio Faria (RN) para o recriado Ministério das Comunicaçõ­es.

A segunda legenda com mais prefeitos passou a ser o PP, que tinha 142 e saltou para 252. Com o avanço, o partido superou MDB, PSB e PSDB.

A meta dos partidos para este ano é consolidar essa dianteira e ampliar ainda mais a base de prefeitos e vereadores, mirando inclusive capitais.

O PP vai disputar as prefeitura­s de Maceió e João Pessoa, capitais dos estados dos dois líderes do centrão que disputam a indicação para disputar a presidênci­a da Câmara dos Deputados em 2021: Arthur Lira (AL) e Aguinaldo Ribeiro (PB).

Em Maceió, o candidato do PP à prefeitura será o deputado estadual Davi Davino Filho, que já conseguiu o apoio do Republican­os, PSL e DEM. Uma vitória na capital alagoana é considerad­a fundamenta­l para consolidar um projeto para 2022, quando o governador Renan Filho (MDB) encerra seu mandato.

Na capital paraibana, o PP lançou a candidatur­a do exprefeito Cícero Lucena e começa a compor um amplo arco de alianças, incluindo o apoio do governador João Azevêdo, que trocou o PSB pelo Cidadania.

O PROS, que também faz parte do centrão, concentrar­á suas energias em Fortaleza, onde lançou o deputado federal Capitão Wagner.

O capitão da Polícia Militar, que é aliado de Bolsonaro, deve polarizar com o candidato, ainda não definido, apoiado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PDT.

O desfecho das urnas poderá resultar em um redesenho das forças políticas da região. No Piauí, por exemplo, esse movimento foi antecipado com o rompimento de Ciro Nogueira com o governador Wellington Dias (PT).

“O governador foi mesquinho. Preferiu ter uma visão partidária e abriu mão de uma ponte junto ao governo federal”, afirma Nogueira.

Dias credita o rompimento ao senador, que teria se afastado para organizar a oposição e ser candidato ao Governo do Piauí em 2022: “Eu respeito, é um direito dele”.

O PP governa 89 dos 224 municípios do estado e tem como meta crescer ainda mais neste ano, quando terá candidatos em 150 cidades. Em Teresina, a legenda apoiará a candidatur­a de Kleber Montezuma (PSDB).

Na contramão do Piauí, o PP e outros partidos do centrão seguem aliados a outros governador­es de esquerda da região, caso de Rui Costa (PT) na Bahia, Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco e Flávio Dino (PC do B) no Maranhão, mesmo com apoio a Bolsonaro.

A estratégia de um pé em cada canoa vai se refletir na eleição municipal de formas distintas. No Recife, PSD, Republican­os, PROS e Avante estão unidos em torno da candidatur­a do deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos (1955-2014).

Já em Salvador, o cenário é de pulverizaç­ão: mesmo aliados a Rui Costa, PP, PSD e PL não vão embarcar na candidatur­a de Major Denice (PT). Os partidos vão apoiar, respectiva­mente, os nomes de Olívia Santana (PC do B), Pastor Sargento Isidório (Avante) e Bruno Reis (DEM).

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Alan Santos - 21.ago.2020/Presidênci­a da República O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cercado por apoiadores ao sair do aeroporto de Mossoró, no Rio Grande do Norte
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Alan Santos - 21.ago.2020/PR Bolsonaro ao lado de policiais em Mossoró (RN)
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