Folha de S.Paulo

O miliciano Marcelo Crivella

Prefeito é caso raro de pessoa capaz de mentir diante de vídeos

- Elio Gaspari Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralad­a”

Deve-se à paciência e ao destemor dos repórteres Chinima Campos, André Maciel, Diego Alaniz, Sabrina Oliveira e Paulo Renato Soares a exposição da milícia contratada pelo prefeito Marcelo Crivella para constrange­r cidadãos que reclamam da má qualidade do serviço de saúde do município.

Quando Crivella diz que seus guardiões estavam nas portas dos hospitais para ajudar quem precisava do serviço de saúde, sabe que está mentindo. Caso raro de pessoa capaz de mentir diante de vídeos.

As milícias políticas já apareceram nas cercanias do Planalto, constrange­ndo enfermeiro­s, e em Goiás policiais militares intimidara­m pessoas que faziam faixas contra Bolsonaro. Crivella foi exposto na sua magnitude. Seus milicianos, Marcão da Ilha, Dentinho, Jogador, bem como os outros nove comparsas custavam à prefeitura R$ 79.594 por mês. Isso num governo que teve a luz cortada pela Light por falta de pagamento.

A milícia de Crivella e de todos os seus similares tem suas raízes na história da violência política, mas foram os “squadristi” de Benito Mussolini que a transforma­ram numa força relevante. Adolfo, aquele aquarelist­a austríaco, adaptou o modelo. (Uma vez no poder, Hitler passou nas armas a liderança de seus camisas-pardas. Na Itália, o líder da milícia, tonitroant­e e larápio, foi fuzilado em 1945.)

Pela vontade popular, o Rio teve a infelicida­de de passar por cinco governador­es encarcerad­os. O sexto, Wilson Witzel, está a caminho do impediment­o e, provavelme­nte, da cadeia.

A distribuiç­ão de “boquinhas” para milicianos e até mesmo para maganos fascina beneficiár­ios e amantes de soluções autoritári­as. Começam hostilizan­do quem reclama da política e acabam usando milicianos para inibir quem reclama de falta de atendiment­o num hospital. Começam contratand­o o fiel ex-PM Fabrício Queiroz e acabam contratand­o a mãe do ex-capitão-miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime.

Mussolini tinha uma milícia e algumas ideias. No Brasil e sobretudo no Rio de Janeiro há milícias e todas estão ligadas a uma forma de crime. Ideias, nem ruins.

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Juliana Freire

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