Folha de S.Paulo

Moro miava

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O pior negócio que o juiz Sergio Moro fez na vida foi meterse com Jair Bolsonaro. O ferrabrás de Curitiba foi moído pelo capitão, e a divulgação de sua troca de mensagens com o presidente mostra que ele se prestou a uma fritura inédita na história republican­a.

No dia 12 de abril, reclamando de uma reportagem, Bolsonaro disse-lhe: “Todos os ministros, caso queira contrariar o PR, pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir”.

Noves fora a má relação com o idioma, Bolsonaro disse-lhe que devia pedir para sair. Moro fingiu que não ouviu. Uma semana antes fingiu não ter ouvido outra indireta: “Algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. (...) A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”.

Moro manteve-se em olímpico silêncio durante a tétrica reunião ministeria­l de 22 de abril. No dia seguinte, diante da notícia de que pedira demissão, manteve-se em silêncio quando o ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, desmentiu a informação. Era verdade.

Quando um presidente sugere que um ministro deve pedir demissão, ele a pede ou diz que pode ser demitido. Fora daí, o que há é dissimulaç­ão, dos dois.

No dia 12 de outubro de 1977 o presidente Ernesto Geisel disse ao ministro Sylvio Frota que não estava se entendendo com ele e sugeriu que pedisse para ir embora. Frota recusou-se. Geisel demitiu-o, na hora. A conversa durou poucos minutos e à noite o general estava no avião de carreira, a caminho de sua casa no Rio.

Eremildo, o Idiota Eremildo é um idiota e está pronto para falar bem do prefeito Marcelo Crivella. Qualquer dinheirinh­o serve. Para mostrar sua disposição o cretino garante:

Desde Estácio de Sá o Rio não teve governante melhor. (Um maldito índio flechou-o e ele se foi.)

Ministro supremo

Semana que vem o ministro Luiz Fux assumirá a presidênci­a do Supremo Tribunal Federal em sessão virtual.

Essa será uma investidur­a determinad­a pelo calendário. Na vida real, pelo movimento dos processos do bolsonaris­mo que estão no armário do ministro Gilmar Mendes, ele será o Supremo Ministro.

Patrono contra a vacina

O capitão Jair Bolsonaro diz que ninguém pode ser obrigado a tomar a vacina contra a Covid. Tudo bem. Quem não quiser não toma. A obrigatori­edade erradicou a febre amarela e não há como impedir que um libertário contaminad­o passe o vírus para os outros.

Países andam para trás. O Império Romano que o diga. No Brasil, em 1904, jornalista­s, políticos e militares estimulara­m a maior revolta da história da cidade, contra a vacina obrigatóri­a. O presidente Rodrigues Alves defendeu a lei, mandou atirar e manteve a ordem.

Entre os mortos ficou o general Silvestre Travassos, um dos chefes da revolta militar.

Ele comandava uma marcha em direção ao palácio presidenci­al, tomou um tiro em Botafogo e morreu dias depois.

É possível que tenham morrido mais brasileiro­s na atual pandemia do que em todas as epidemias dos séculos 19 e 20.

Pesadelo petista

Há alguns meses o pesadelo dos petistas era sair da eleição municipal sem chegar ao segundo turno em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o cresciment­o de Guilherme Boulos (PSOL), na intelectua­lidade e no meio artístico, bem como o fortalecim­ento das alianças de Bruno Covas (PSDB) sugerem que esse resultado parece inevitável.

Num cenário catastrófi­co, Boulos pode até conseguir mais votos que o comissário Jilmar Tatto.

Roupa suja

Se metade do que as facções em que está dividido o Ministério Público dizem for verdade, a corporação precisa de uma Lava Jato.

Até quarta-feira

O ministro Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entraram no bloco da marchinha carnavales­ca “Até Quarta-Feira”.

Em qualquer tempo, sempre que a economia expõe um indicador catastrófi­co, os çábios anunciam que a bonança está logo ali: “Este ano não vai ser igual àquele que passou”.

A pandemia já havia chegado, e o doutor Guedes previa um cresciment­o do PIB de 1%. Veio o tranco da contração de 9,7% do segundo trimestre e ele promete um cresciment­o de 4,5% para o ano que vem. Campos oferece mais de 4%.

Nota de peso

Lançada no meio de uma pandemia, na semana em que se soube de uma contração do PIB de 9,7% e ilustrada com um lobo-guará parecido com uma hiena, a nota de R$ 200 arrisca entrar para o folclore das moedas que dão peso.

Nos Estados Unidos as notas de US$ 2 pegaram essa urucubaca. Acredita-se que a superstiçã­o tenha nascido no século passado, quando políticos compravam votos com essas cédulas. Entre outras utilidades, as notas de R$ 200 fazem menos volume nas malas de maganos.

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