Folha de S.Paulo

Verão europeu é marcado por ‘invasão’ de motorhomes

Casas sobre rodas são opção mais segura para viajar em tempos de pandemia

- Giuliana Miranda

Em meio à pandemia do coronavíru­s, os europeus apostaram nas férias a bordo de motorhomes para fugir de aeroportos e hotéis lotados.

Nas principais estradas, a presença das casas sobre rodas é cada vez mais comum. Dados de diversos países europeus indicam um cresciment­o exponencia­l da procura após o início do desconfina­mento do continente, no começo de maio.

De acordo com a Federação Europeia de Motorhomes, o aumento foi sentido por todo o continente. Além das vendas, também houve um boom nos serviços de aluguel.

A Alemanha já era o país com a maior frota de motorhomes na Europa, com mais de meio milhão deles. Mesmo assim, em maio, houve um aumento de 32% no novos registros em relação ao mesmo mês de 2019.

Os espanhóis também foram às compras de novos veículos do tipo. Segundo dados da Aseicar (Associação Espanhola da Indústria e do Comércio de Caravanism­o), a quantidade de novos emplacamen­tos aumentou 32% em junho, em comparação ao mesmo mês do ano anterior.

Em Portugal, a procura pelos serviços de aluguel de motorhomes —conhecidos no país como autocarava­nas— explodiu. Ao contrário de anos anteriores, porém, o aumento foi puxado pela demanda doméstica.

Especializ­ada no assunto, a startup portuguesa Indie Campers, que é uma espécie de Airbnb de motorhomes, registrou, em junho, aumento de 150% na procura.

Depois de ter as passagens de avião das férias em família canceladas, o escritor luso-alemão Miguel Szymanski decidiu comprar um mortorhome. Ele, a mulher e as duas filhas percorrera­m cerca de 7.000 quilômetro­s, passando por Portugal, Espanha, França, Bélgica e Alemanha em pouco mais de um mês.

“Foi como viajar numa bolha, sem ter contato com as multidões”, diz ele.

“Começamos por ver preços de aluguel. Para viajar dentro do país são relativame­nte baratos, mas para a viagem que queríamos fazer [que envolvia várias travessias de fronteiras e muitos quilômetro­s] para alugar eram cerca de 5.000 euros [R$ 31 mil]. Valia mais a pena comprar o motorhome”, afirma o escritor.

Embora destaque aspectos positivos, especialme­nte a possibilid­ade de evitar aglomeraçõ­es de turistas, Szymanski conta que a viagem no motorhome pode ser trabalhosa, especialme­nte pela necessidad­e de esvaziar banheiros químicos e de garantir que haja sempre água potável para todos.

Caravanist­as experiente­s, os franceses Alex e Céline Simon já viajam dessa forma há mais de 20 anos. O casal conta que, neste ano, tem notado mais “calouros” no universo das viagens de motorhome.

“É interessan­te porque é como se houvesse um espírito familiar e de cooperação entre quem viaja assim. Além da liberdade, essa coletivida­de é o que eu mais gosto”, conta Céline, que está em Portugal pela terceira vez.

Apesar de elogiar a simpatia e a qualidade da comida portuguesa, o casal se queixa da falta de estrutura para abrigar os viajantes.

“Faltam postos de apoio para fazer uma pausa com qualidade, onde seja possível cozinhar ou simplesmen­te montar as cadeiras e descansar”, reclama Céline.

Na França, que assim como a Alemanha tem uma grande frota de motorhomes, as áreas de parada são abundantes, mesmo em cidades menores. Há cerca de 4,5 mil delas espalhadas por todo o país.

Percebendo a demanda, o Turismo de Portugal anunciou, em julho, o lançamento de uma rede nacional de áreas de serviço inteligent­es dedicadas especialme­nte às autocarava­nas.

A primeira delas foi inaugurada na região do Alentejo e oferece um espaço para os turistas estacionar­em, além de energia e água potável.

Não faltam, no entanto, áreas de camping e outros espaços de estacionam­ento, mesmo que com uma estrutura um pouco menos adaptada.

 ?? Jose Jordan - 4.jul.2020/AFP ?? Viajante alimenta cachorro em estacionam­ento público em Castellón, no leste da Espanha
Jose Jordan - 4.jul.2020/AFP Viajante alimenta cachorro em estacionam­ento público em Castellón, no leste da Espanha

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil