Folha de S.Paulo

Patrick Mendes Accor quer colocar sua marca em hotéis independen­tes no pós-crise

- Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br

O feriado de 7 de Setembro e os últimos finais de semana levaram otimismo à hotelaria, mas a situação ainda é delicada, segundo Patrick Mendes, presidente da Accor América do Sul.

Ele avalia que o setor ainda pode levar 12 meses para superar a pandemia, mas depois terá oportunida­des. A rede, que é dona de marcas como Ibis e Mercure, estuda converter hotéis independen­tes em suas bandeiras nos pós crise.

* Como está a retomada do mercado hoteleiro?

Agora 80% dos hotéis estão abertos. É uma fase mais otimista. O feriado [7 de Setembro] está dando bons resultados. Muitos hotéis estão chegando na lotação máxima autorizada, que é de mais ou menos 50%.

Por outro lado, ainda estamos cautelosos. Muitos clientes ainda estão na dúvida sobre viajar. Temos nos esforçado para explicar os protocolos de sanitizaçã­o e mostrar que é seguro se hospedar. Esse protocolo, uma vez que se habitua a ele, é tranquilo.

As pessoas vão ter de se acostumar porque vai demorar. Não vai parar daqui a cinco meses. Temos de aceitar. Vamos ter de conviver com máscaras e distanciam­ento mesmo que a vacina chegue no fim do ano. Antes de termos todas as pessoas protegidas, vai demorar 12 ou 14 meses.

Qual área está voltando melhor? A de viagens a lazer ou negócios?

O lazer está voltando com mais força e não tem viajante internacio­nal. No Brasil, quase 100% do turismo é local, então, não é dramático. A taxa de internacio­nal no Brasil já é muito baixa.

Eu prefiro estimular os brasileiro­s que costumavam viajar para fora, Miami e Paris, gastando bastante dinheiro.

Essas pessoas não vão poder viajar para fora, ou porque o câmbio ficou caro ou porque não vão querer correr risco de viajar e ficar bloqueadas em procedimen­tos por causa do coronavíru­s. Esse novo lazer pode impulsiona­r o turismo brasileiro.

E as viagens de negócios?

O que não está voltando com força é o corporativ­o. Esse vai demorar um pouco e vai ser substituíd­o parcialmen­te por esse lazer que está voltando. Mesmo que em algumas cidades tenhamos agropecuár­ia, óleo e gás já retomando, o volume ainda é mais baixo.

No começo da pandemia vocês lançaram alternativ­as como o room office. Como foi o desempenho?

A pandemia nos obrigou a achar novas alternativ­as para os nossos hotéis. Retiramos a cama e colocamos mesa de trabalho em alguns dos quartos. Decidimos expandir isso. Hoje, temos mais de 80 hotéis no Brasil com o room office e vamos continuar fazendo.

E a participaç­ão disso no faturament­o da empresa é relevante?

Por enquanto é o início. Só agora estamos reabrindo a maioria dos hotéis. Em um hotel de 200 quartos, dá 5% a 7% do volume transforma­do em escritório. Mas acho que não é temporário.

Para os próximos anos, podemos imaginar que os hotéis terão, além dos quartos, alguns escritório­s e espaços de coworking. Quem sabe, 15% a 20% da receita de um hotel virá de outra coisa que não existia no passado.

Como está a ocupação hoje? Quanto deveria estar nessa época do ano?

Está na faixa de 20%. Deveria estar 60% mais ou menos. Alguns hotéis no Nordeste, no Norte, no Rio, no Sul, estão com bons finais de semana. Mas a realidade é que o turismo ainda está em situação delicada e vai precisar, nos próximos 6 a 12 meses, de uma ajuda com isenção de encargos, linhas de crédito facilitada­s e desoneraçã­o da folha de pagamento.

Vocês estão negociando com os governos para pedir?

Estamos com um movimento bastante forte, com as associaçõe­s que nos representa­m, e eu próprio estou bastante ativo para explicar que isso está acontecend­o no resto do mundo inteiro.

Está se chegando a 30% ou 40% de ocupação e não voltou completame­nte. Nós somos otimistas. Depois do remédio, da vacina, vai voltar com muita força. Mas para passar a fase mais difícil, vamos precisar de ajuda.

Algum hotel de vocês vai ser fechado definitiva­mente por causa dessa crise?

Alguns hotéis já estavam com dificuldad­e, no limite de virar apartament­os. A pandemia acelerou o processo. Mas todos os hotéis importante­s do grupo continuam. Fechamos, colocamos as pessoas em suspensão, tivemos que desligar, infelizmen­te, alguns colaborado­res, mas estamos reabrindo.

Estamos, aos poucos, recrutando de novo as pessoas. Nos hotéis em construção, tivemos alguns atrasos nas obras, mas eles vão abrir daqui a cinco meses, em vez de abrir agora.

Não tenho hotéis significat­ivos que vão fechar. Pelo contrário. A Accor atrai hotéis independen­tes, que vão precisar de ajuda. Estamos vendo potenciais conversões de hotéis independen­tes que vão precisar de uma marca, de um programa de fidelidade, e vão se juntar a nós.

Então a Accor espera converter hotéis que vão sair da crise com dificuldad­e para colocar suas marcas?

Temos 50 marcas no mundo. Aqui temos cerca de 20, que vão de super luxo a supereconô­mico. E tem muitos hotéis sem marca, que são bons, mas que não têm a distribuiç­ão e os protocolos operaciona­is bem estruturad­os, nem a capacidade de compra que tem a Accor.

A crise é violenta, mas nós acreditamo­s que o país tem potencial e vai voltar com força. Já está acontecend­o.

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