Folha de S.Paulo

Messi poderá repetir Jordan com sua ‘última dança’ no Barcelona

- Alex Sabino e Bruno Rodrigues

Ao saber que o final da trajetória dos dois em Chicago se aproximava, o técnico Phil Jackson disse a Michael Jordan que a temporada de 1997/1998 seria a “última dança” da parceria nos Bulls.

“Last Dance” virou o nome do aclamado documentár­io de 10 episódios lançado neste ano e que retrata a carreira de Jordan no Chicago Bulls até 1998, quando deixou o clube e se aposentou pela segunda vez após seis títulos (1991 a 1993 e 1996 a 1998).

O cenário de despedida previament­e anunciada de uma lenda do esporte do time em que fez história tem semelhança­s com o que Lionel Messi poderá encarar nos próximos meses, a partir do dia 27, quando deverá estrear no Campeonato Espanhol, em casa, contra o Villarreal.

Deverá ser uma longa cerimônia de adeus para o atacante, que definiu o Barcelona como o clube da sua vida. Também uma última tentativa de conquistar o título nacional e, mais importante do que isso, a Champions League.

Com seu pedido negado de deixar agora o Barcelona, Messi terá de cumprir o contrato que termina em junho de 2021. É quando poderá sair de graça para qualquer outra equipe. Seu desejo de abandonar o time que o formou e o anúncio de que permanecer­ia quase monopoliza­ram por dez dias o noticiário da bola.

Jordan parou de jogar em 1998, mas teve um retorno às quadras em 2001 pelo Washington Wizards, onde permaneceu por três anos.

Ninguém espera que Messi se aposente do futebol no próximo ano. Era bem provável que, se ele saísse do Barça neste mês, assinasse contrato com o Manchester City (ING), onde está Pep Guardiola. O técnico que representa para ele algo semelhante ao que Phil Jackson foi para Jordan.

Se realmente deixar o Barcelona, Messi vai se mudar da Espanha, já que é impensável vê-lo com a camisa do Real Madrid, o único time do país que poderia contratá-lo.

Sua escolha por outro grande europeu poderá mantê-lo na Champions League, mas os torcedores das pequenas equipes do país, aquelas sem chance de ir ao torneio continenta­l, terão uma possível última chance de ver o argentino ao vivo. O que pode tornar cada rodada do como visitante um acontecime­nto.

Isso, é claro, se a presença de público em jogos de futebol for readmitida no país nos próximos meses.

Há outros dados em comum. Tanto Messi quanto Jordan encontrara­m sérias divergênci­as com seus superiores. De acordo com a imprensa argentina, o atacante não suporta o presidente Josep Maria Bartomeu. O americano tinha sérios problemas de relacionam­ento com o gerente-geral Jerry Krause. Mas este pelo menos foi o responsáve­l pela montagem das equipes campeãs nos anos 1990.

Bartomeu foi eleito dois meses depois do título europeu de 2015, conquista que a equipe não repetiu desde então.

Jordan tinha em Jackson um técnico que o entendia e tirava o melhor dele. O relacionam­ento de Messi com o recém-contratado Ronald Koeman é uma incógnita, embora o holandês tenha dito querer montar um time baseado no talento do camisa 10.

O atleta já deixou claro que, para a temporada ser vitoriosa, muito precisa mudar. Ele deseja a montagem de um time competitiv­o, para vencer.

Na visão do atacante, o primeiro passo dado por Koeman (dispensar seu amigo Luis Suárez) foi equivocado. Ele é saudoso de quando fazia parte de um time com outras peças talentosas, como Jordan teve em suas campanhas vencedoras no Chicago Bulls.

Messi teve isso nas campanhas dos títulos europeus de 2009, 2011 e 2015, ao lado de Xavi, Iniesta, Henry e depois Suárez e Neymar. Sem grandes parceiros do lado, sua última dança ficará prejudicad­a.

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