Folha de S.Paulo

Narrador da Globo é a nova voz do game Fifa 21

Gustavo Villani encara ‘gestação’ de 9 meses para estrear na narração do tradiciona­l jogo de futebol e relembra a infância

- Tiago Ribas

Quando era criança, Gustavo Villani sentava em frente à televisão de sua casa em Marília, no interior de São Paulo, e brincava de narrar os gols de Allejo e Gomez no Internatio­nal Superstar Soccer, clássico jogo virtual de futebol do Super Nintendo.

A brincadeir­a se tornou profissão e hoje, aos 39 anos, ele volta às suas origens para narrar o jogo Fifa 21, da Eletronic Arts (EA), que será lançado em 9 de outubro.

“O videogame sempre esteve presente na minha vida. Quando eu vim para o Rio de Janeiro, há uns 8 anos, eu dei uma pausa. Confesso que parei de jogar. Casamento, vida nova no Rio, filhos nasceram... Retomei agora, já sabendo que iria narrar o Fifa 21. Comecei a jogar o Fifa 19 e o Fifa 20 para me basear e ter ideia do que eu deveria fazer. Mas eu sou um pereba, eu confesso. [Risos] Não sou bom”, diz Villani.

Substituin­do o apresentad­or Tiago Leifert, que exercia a função de narrador no game desde a edição de 2013, ele encarou uma cansativa maratona de cerca de nove meses gravando lances de perigo, bolas para fora e golaços que só aconteciam na sua imaginação.

Tudo o que ele recebeu foi um roteiro com situações de jogo que deveriam ser narradas, como um lateral no campo de defesa, um gol de bicicleta no fim do jogo, um tiro de meta, etc. A partir daí, buscava na memória lances similares e os narrava, interpreta­ndo a emoção necessária para o momento e imprimindo seu estilo.

“É um desgaste físico e mental muito grande”, conta. “Você pega uma sessão de 20, 30 gols, e eu tenho que manter um padrão similar ao que as pessoas veem na televisão. Mas, em um jogo de duas horas, se saírem seis gols é muito.”

Ao todo foram 80 sessões de cinco horas de gravação cada uma, realizadas de junho de 2019 a fevereiro deste ano, e que resultaram em 366 horas de material. Os arquivos de áudio foram mandados para o escritório de localizaçã­o da EA em Madri, onde são inclulhos ídos na programaçã­o do jogo para que, juntos, sejam apresentad­os no game como uma narração feita ao vivo em uma transmissã­o de TV.

“Foi uma gestação. Sinto que um filho nasceu, tamanho o alívio. O começo foi tenso, uma novidade para mim. Eu fui me soltando, porque é divertido ao mesmo tempo. Mas é tão maçante. Você fica num cubículo, tantas linhas, tantas vezes, tantos dias, tantas horas...

Vai criando uma ansiedade. Como é que vai ficar? Mas só com o anúncio, já fico mais aliviado”, diz Villani.

Segundo Daniel Perassolli, que comanda a equipe de localizaçã­o de português do Brasil na Electronic Arts, a experiênci­a de Villani como narrador ajudou a equipe a ganhar agilidade nas gravações.

“Sempre que a gente tem uma troca de narradores, a gente fica preparado para jogar no lixo as duas, três primeiras horas de gravação. Afinal, a pessoa está fazendo aquilo pela primeira vez, não está acostumada. A gente não precisou jogar uma linha do Gustavo fora. Desde a primeira que ele narrou a gente se olhou, aqui em Madri, e perguntou ‘o que está acontecend­o?’ Parecia que ele já tinha feito aquilo a vida inteira”, diz.

A escolha de Villani como narrador é uma retomada às origens da série Fifa. Antes de Tiago Leifert, a Eletronic Arts sempre confiava a função no game a profission­ais com anos de experiênci­a no rádio e na televisão.

O primeiro a emprestar sua voz à série foi Milton Leite, também narrador dos canais do Grupo Globo, nas edições de 1999 a 2006. A edição especial da Copa do Mundo de 2006 teve a narração de Eder Luiz, da rádio Transaméri­ca. De 2007 a 2010, a função foi de Nivaldo Prieto, atualmente narrador da Fox Sports.

A agilidade de Villani para fazer as narrações ajudou a equipe a encerrar os trabano estúdio pouco antes do início da fase mais crítica da pandemia do novo coronavíru­s no Brasil, sem prejuízos para o resultado final.

“Quando a gente começou a gravar não estava no horizonte a questão do vírus. No finalzinho a gente chegou a ficar um pouco preocupado, quando começaram a fechar as coisas. Mas deu para fazer tudo. Com algumas precauções a mais, tudo o que a gente precisava gravar a gente gravou”, diz Perassolli.

A narração de Villani será acompanhad­a pelos comentário­s de Caio Ribeiro, que já fazia dupla com Tiago Leifert nas edições anteriores do game. Além deles, o dublador André Sauer participa do game como repórter de estúdio, anunciando resultados de outros jogos da rodada virtual.

“Para mim foi uma alegria muito grande fazer o jogo, foi algo transforma­dor. É um ponto de contato com uma molecada que está sendo introduzid­a no futebol pelo game. Gente que pode me acompanhar por muitos anos”, completa Villani.

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Eletronic Arts/Divulgação Villani será o narrador do game Fifa 21

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