Folha de S.Paulo

Assembleia de MG aprova reforma da Previdênci­a

Alíquotas e cálculo de contribuiç­ão estão entre as mudanças principais feitas na proposta de Romeu Zema

- Fernanda Canofre

Com modificaçõ­es no texto original para alíquotas de contribuiç­ão e rejeição da proposta de cobrança de contribuiç­ão extraordin­ária em caso de déficit, a Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais aprovou nesta sexta-feira (4) a reforma da previdênci­a estadual.

Após promulgado, o texto segue para sanção do governador Romeu Zema (Novo).

Minas foi um dos últimos estados a encaminhar reforma para se adequar às novas regras da União. O projeto, que atinge cerca de 470 mil servidores ativos, inativos e pensionist­as, foi apresentad­o em junho ao Legislativ­o.

Apesar da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) com placar de 52 votos a favor e 21 contra, o projeto apresentad­o pelo governo, que inclui ainda um PLC (Projeto de Lei Complement­ar), sofreu mudanças importante­s no Parlamento.

Entre elas, o que é previsto para as alíquotas de contribuiç­ão. Os deputados mantiveram sistema de alíquotas progressiv­as, mas reduziram o percentual para taxas entre 11 e 16%, previstas em sete faixas salariais. O projeto original de Zema previa quatro faixas salariais, com alíquotas entre 13 e 19%.

O cálculo para fixação do valor da aposentado­ria, que o governo propunha ser feito em cima da média de salários de toda a carreira, foi mantido na regra atual: em cima das 80% das maiores remuneraçõ­es. Para novos servidores, será aplicado percentual de 60% em cima dessa média, mais 2% ao ano para cada ano que passar dos 20 de contribuiç­ão.

Houve também alteração para o regime de servidores civis da segurança, como policiais civis e legislativ­os e agentes penitenciá­rios. No texto original, o governo previa regras próprias para a categoria, que agora segue as mesmas válidas para os militares, aprovadas a nível federal em 2019.

As regras de transição também tiveram mudanças. O texto aprovado reduziu de 20 anos para 10 anos o tempo mínimo em cargo público, mantendo a legislação atual.

As idades mínimas gerais passam a ser de 65 anos para homens e 62 para mulheres, como no sistema federal, mas são válidas apenas para quem ingressar a partir do período que a lei começar a valer (90 dias após sanção).

Para professore­s, são de 60 para homens e 57 para mulheres, com tempo de contribuiç­ão de 25 anos de exercício efetivo do magistério.

Para servidores que já estão no serviço público, há duas propostas de transição: aposentar com o somatório de idade e tempo de contribuiç­ão ou com o chamado pedágio, contribuin­do com 50% do tempo faltante para a aposentado­ria. A proposta inicial era que esse período que o trabalhado­r da ativa teria que trabalhar a mais para se aposentar pelas novas regras fosse de 100%.

A Assembleia também subiu a taxação de inativos e pensionist­as para quem ganha a partir de R $3.135— o governo queria cobrança a partir de um salário mínimo.

Os deputados suprimiram a proposta do governador que permitia ao Executivo acionar alíquota de contribuiç­ão extraordin­ária, caso o déficit do sistema previdenci­ário se mantivesse mesmo após a reforma. A proposta previa cobrança suplementa­r à contribuiç­ão normal para ativos, inativos e pensionist­a sem valora ser definido.

O texto de criação de uma nova autarquia para gerira previdênci­a, a MGPrev, presente no PLC que integra a reforma, foi outro ponto rejeitado, mantendo a competênci­a do atual Ipsemg (Instituto de Previdênci­a dos Servidores do Estado de Minas Gerais). A proposta era que o instituto ficasse apenas com questões de saúde.

Em redes sociais, Zema comemorou a reforma, sem comentar as mudanças encaminhad­as pelo Legislativ­o. Segundo ele, a aprovação significa que os mineiros terão um Estado viável e sustentáve­l alongo prazo.

O déficit projetado pelo estado para o próximo ano é quase o dobro daquele registra doem 2019, chegando aR $17,2 bilhões, segundo previsão do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias.

Com relação a 2020, o cresciment­o deve ser de 29,5%.

Segundo a gestão Zema, um dos fatores que contribuem par aos número sé o déficit previdenci­ário, que deve chegar aR $20,8 bilhões negativos em 2021, em valores nominais de receitas e despesas.

Um cálculo do governo aponta que entre 2013 e 2020 o déficit previdenci­ário dos servidores civis chegou a R$ 85,8 bilhões.

O deputado Gustavo Valadares (PSDB), que deixou a liderança de governo no início do ano, mas segue líder do bloco governista na Assembleia, qualificou a matéria como uma das mais importante­s dos últimos anos.

“O que estamos fazendo agora é dando segurança aos servidores de que receberão valor justo e a certeza que receberão esses valores, sem ter risco de que o estado não tenha condições de pagá-los”, afirmou, na sessão que aprovou a reforma.

Para a oposição, o texto que passou nesta sexta foi uma redução de danos diante do que havia sido proposto inicialmen­te pelo governo, graças às emendas apresentad­as.

“O governador Zema encaminhou o projeto no meio de uma pandemia, sem discussão com sindicatos e sema participaç­ão e acompanham­ento presenciai­s dos servidores e suas entidades”, declarou à Folha André Quintão (PT), líder do bloco de oposição.

Denise Romano, coordenado­ra-geral do Sind-UTE (sindicato dos trabalhare­s de educação do estado), avalia que não há nada a comemorar. “O governo do estado de Minas Gerais hoje ficou marcado como governo que retira da professora e concede incentivos fiscais para os grandes empresário­s”, diz.

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