Parceria GM-Honda pode dar início a aliança global
Acordo de desenvolvimento conjunto para América do Norte reproduz estratégia da indústria automotiva para ganhar escala
A parceria entre GM e Honda anunciada na quinta (3) segue a onda de alianças na indústria automotiva, que muda para cortar custos.
As despesas aumentaram no século 21: é preciso gastar bilhões de dólares para atender às necessárias normas de redução de emissões e de aumento da segurança dos veículos.
A princípio, o acordo é válido para a América do Norte. A relevância pode ser medida apenas pelos dados dos EUA: somadas, as montadoras que agora se unem comercializaram 4,5 milhões de automóveis nesse mercado em 2019.
Para comparar, 2,26 milhões de carros de passeio foram vendidos por todas as marcas no Brasil no ano passado.
As empresas japonesa e americana já haviam dado um passo importante em abril, quando anunciaram o desenvolvimento conjunto de veículos elétricos com plataforma GM.
O assunto perdeu relevância diante da pandemia, mas agora ganha ares globais. A América do Norte pode ser apenas o primeiro passo.
O comunicado divulgado pelas montadoras diz que “o escopo da aliança proposta inclui uma gama de veículos a serem vendidos sob as marcas distintas de cada empresa, bem como cooperação em compras, pesquisa e desenvolvimento e serviços conectados”. O discurso se alinha com o que foi dito por outras fabricantes que passam pelo mesmo processo de união estável.
A estrutura atual do setor automotivo reforça a expectativa de um avanço da parceria em outros mercados, incluindo o brasileiro. Grande parte dos produtos Honda e GM desenvolvidos e comercializados nos EUA, no México e no Canadá chega ao mercado sul-americano.
O trabalho em conjunto na área de engenharia terá início em 2021. Portanto, em um futuro não tão distante, os modelos Chevrolet Cruze e Honda Civic deverão compartilhar a mesma base e ganhar opções híbridas e elétricas mais modernas. O mesmo pode ocorrer com as próximas gerações dos utilitários compactos Tracker e HR-V.
O casamento não causa estranheza no setor automotivo. As montadoras americana e japonesa têm projetos em conjunto desde o início dos anos 2000, com foco no desenvolvimento de pilhas de combustível e de tecnologia para a automação dos carros.
“Essa aliança ajudará a acelerar o investimento em futuras inovações em mobilidade, disponibilizando recursos adicionais. Dado o nosso forte histórico de colaboração, as empresas perceberam sinergias significativas no desenvolvimento do portfólio atual de veículos”, disse Mark Reuss, presidente da GM.
Em discurso ensaiado, Seiji Kuraishi, vice-presidenteexecutivo da Honda Motor Co. confirmou as pretensões da parceria. “Combinando os pontos fortes de cada empresa e determinando cuidadosamente o que faremos por conta própria e o que faremos em colaboração, nos esforçaremos para construir uma relação ganha-ganha.”
A evolução das plataformas automotivas permite o ”ganha-ganha” mencionado por Kuraishi. É possível construir carros visualmente diferentes sob uma mesma base e na mesma linha de produção, o que proporciona ganho de escala.
Esses produtos compartilhados podem ser híbridos, elétricos ou equipados apenas com motores a combustão. As novas arquiteturas permitem essa flexibilidade sem que seja preciso trabalhar em diferentes áreas de montagem. É o ápice do sistema criado por Henry Ford (1863-1947).
Ao compartilhar pesquisa e desenvolvimento, as empresas também conseguem reduzir o tempo necessário até que um novo carro seja lançado, o que também significa redução de custos. Contudo, surge a preocupação com os empregos na indústria.
A Honda e suas subsidiárias têm 60 fábricas em 27 países, que geram 208 mil empregos.
A GM vem reduzindo seu quadro de pessoal ano após ano, dentro de uma estratégia de encerramento ou venda de marcas e fábricas. Em 2016, a empresa tinha 225 mil funcionários mundo afora. Em 2019, eram 164 mil.
A redução não se deve somente a demissões. A venda da divisão europeia (Opel e Vauxhall) para o grupo PSA Peugeot Citroën, em 2017, levou à desvinculação de milhares de operários, que passaram para a folha de pagamento do grupo francês.
Mas, como todo movimento que busca reduzir custos, há o risco de cortes em massa na América do Norte.