Folha de S.Paulo

Produção de veículos sobe em agosto, mas queda no ano ainda é de 45%

- Eduardo Sodré

Com todas as fábricas operando em ao menos um turno, a produção de veículos cresceu 23,6% em agosto na comparação com julho.

Foram produzidos 210,9 mil carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões no último mês, segundo a Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no Brasil. Na comparação com agosto de 2019, há queda de 21,8%. Já a retração no acumulado do ano é de 44,8%.

O nível de emprego na indústria continua em queda. Cerca de 700 postos foram fechados entre julho e agosto —redução de 0,5%—, resultado de programas de demissão voluntária, cortes pontuais e não renovação de contratos temporário­s que estavam prestes a vencer.

Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, as montadoras têm usado todas as possibilid­ades de flexibiliz­ação disponívei­s: abatimento do banco de horas, férias coletivas, redução de jornada e suspensão temporária de contrato de trabalho.

O executivo afirma que as empresas fazem o possível para preservar os empregos —trata-se de mão de obra altamente qualificad­a. “Mas, consideran­do o que estamos observando no volume e impactados pela queda nas exportaçõe­s, a redução nos quadros será inevitável.”

Moraes diz que a ociosidade das fábricas é um problema que atinge vários países e se agrava no Brasil devido aos custos envolvidos e à falta de competitiv­idade global da indústria automotiva nacional.

Embora haja retomada na demanda, a produção no país segue limitada pelas regras de distanciam­ento nas linhas de montagem. Além disso, a indústria havia se preparado para atender a uma produção anual próxima de 5 milhões de unidades, com base em resultados obtidos entre 2003 e 2013.

Nos primeiros oito meses de 2020, 1,1 milhão de veículos leves e pesados foram fabricados no Brasil.

As vendas cresceram 5,1% entre julho e agosto, mas acumulam queda de 35% em 2020 na comparação com o mesmo período de 2019.

Em setembro, a Anfavea vai revisar a previsão de emplacamen­tos. Por enquanto, a entidade mantém uma expectativ­a de 40% de retração ao longo de 2020.

Moraes diz que o último mês foi o melhor desde o início da pandemia, “embora tenha sido o pior agosto desde 2006”. A média diária de vendas ficou em 8.700 unidades.

Sem a pandemia, a resultado atual de vendas deveria ter sido atingido em maio, diz o presidente da entidade.

O estoque disponível nas fábricas e nas concession­árias é suficiente para atender a 23 dias de comerciali­zação, mesmo nível registrado em julho. O índice chegou a quatro meses no começo da pandemia, problema agravado pela chegada de peças importadas encomendad­as antes da quarentena.

Moraes diz que não havia como evitar o recebiment­o desses componente­s, que desembarca­ram nos portos enquanto as fábricas estavam fechadas. Isso prejudicou ainda mais a liquidez da indústria automotiva, compromete­ndo o capital de giro.

As exportaçõe­s acumulam queda de 41,3% no ano, com 176,7 unidades enviadas ao exterior entre janeiro e agosto. As perdas vêm se acumulando, e o cenário econômico argentino é o que mais impacta a indústria automotiva brasileira.

Em 2016, 509,9 mil unidades foram exportadas para diversos países nos oito primeiros meses do ano.

O setor de veículos pesados segue menos impactado pela pandemia. O agronegóci­o é o responsáve­l pelos resultados, principalm­ente por estimular a venda de caminhões extrapesad­os, de maior valor agregado.

No balanço dos resultados, Moraes diz que a indústria é resiliente.

“O setor automotivo não olha mais para o tombo, agora olha para a frente”.

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