Folha de S.Paulo

Luta antirracis­ta

Debate nos EUA dá mais visibilida­de às ações do movimento negro no país

- Por Fernanda Mena, Matheus Moreira e Priscila Camazano Mena é repórter associada da Folha, mestre em direitos humanos pela London School of Economics e doutora em relações internacio­nais pela USP. Moreira é jornalista de Cotidiano e Ciência na Folha. Cam

Debate racial alavancado por protestos antirracis­tas nos EUA confere visibilida­de a organizaçõ­es do movimento negro no Brasil, cuja trajetória, da mobilizaçã­o pioneira nos anos 1930 ao ativismo promovido nas redes sociais, é marcada por diferentes matizes políticas (integralis­mo, marxismo e liberalism­o) e percepções da questão identitári­a

A onda de protestos antirracis­tas que tomou os EUA e o mundo desde maio, quando imagens da execução de George Floyd por um policial branco viralizara­m globalment­e, ganhou novo capítulo dentro das quadras da maior liga de basquete do planeta, a NBA.

Jogadores do Milwaukee Bucks boicotaram uma partida dos playoffs no final de agosto em protesto contra um outro episódio de violência. Em efeito cascata, outras equipes e ligas esportivas aderiram à greve, que se tornou um novo marco na longa história de luta por igualdade racial nos EUA.

“Imagina o impacto que teria Pelé, o maior atleta do século, discutindo racismo no Brasil em pleno auge da sua carreira?”, devaneia Douglas Belchior, ativista negro da Uneafro Brasil e articulado­r da Coalizão Negra por Direitos, ao comentar o impacto da atuação política de LeBron James, supercraqu­e do Los Angeles Lakers, que passou a usar as quadras como plataforma do movimento Black Lives Matter já em outros tempos.

Belchior diz haver um desejo permanente dos movimentos negros de maior engajament­o de astros brasileiro­s do esporte, mas relaciona essa lacuna com o fato de que boa parte deles cresceu profission­almente “em um ambiente alienado das questões raciais”.

O Brasil tem mais casos de violência contra negros que os EUA. Consideran­do a população de cada país, entre 2015 e 2016 a taxa de negros brasileiro­s mortos pelas polícias foi cinco vezes maior que nos EUA. No Brasil, homens negros, como Floyd, têm 77,1% mais chance de serem assassinad­os que os brancos. Entre mulheres negras, essa chance é 64,4% maior que a das brancas.

Nesse contexto, é de fato tentador comparar a mobilizaçã­o dos negros americanos com a dos brasileiro­s, mas é preciso, antes, considerar os processos históricos dos dois países. No Brasil, ocorreu ao longo do tempo uma espécie de apagamento sistemátic­o das elaboraçõe­s, articulaçõ­es e organizaçõ­es negras e de suas lideranças e intelectua­is. É uma história em larga escala desconheci­da, inclusive por negros e por ativistas recém-chegados à pauta antirracis­ta.

“Existe uma estrutura que intenciona­lmente produz esse tipo de ignorância”, aponta a filósofa e feminista antirracis­ta Sueli Carneiro. “E a perversida­de [dessa estrutura] é tão perfeita que, a esta altura do campeonato, é a vítima que tem que ensinar o opressor.”

Enquanto nos EUA as leis Jim Crow institucio­nalizaram um tipo aberto e violento de racismo, no Brasil os potenciais conflitos em torno da exclusão racial foram aplacados e abafados após uma abolição da escravatur­a, em 1888, que abandonou os negros à própria sorte.

A falta de conhecimen­to e reconhecim­ento da trajetória de figuras negras históricas —como a líder de revoltas na Bahia Luíza Mahin ou seu filho, o advogado Luiz Gama, ambos antes escravizad­os— e da produção de autores e intelectua­is negras e negros é indicativa desse apagamento, também chamado de epistemicí­dio. Indicativa desse processo é também a perpetuaçã­o de agendas dos movimentos negros brasileiro­s ligadas à violência policial e à educação.

“Não temos uma política que valorize a memória coletiva e nela não flagramos experiênci­as negras por conta do esquecimen­to praticado com essa população”, diz o sociólogo Mário Medeiros da Silva, professor da Unicamp. “Não ter memória é não ter poder. E isso é um componente do racismo brasileiro.”

Esse processo sistemátic­o de apagamento contou no Brasil com o amparo do mito da democracia racial, amplamente divulgado pela obra do sociólogo Gilberto Freyre (19001987), que enlaça brancos, negros e indígenas na formação de um povo mestiço, diluindo discrimina­ções e antagonism­os.

“Minha geração trabalhou para desconstru­ir o mito da democracia racial, que era a proposta de uma etiqueta social em torno do tema. Isso desmoronou e não se sustenta mais”, avalia Carneiro, que em 1988 fundou o Geledés, Instituto da Mulher Negra. “Essa nova geração de ativistas negras e negros é herdeira de um conflito racial que se acirra, e diante do qual a luta não pode permanecer a mesma.”

O esforço por consenso e unidade não elimina, obviamente, as diferentes matizes político-ideológica­s. “Há diversidad­e e existem disputas, como os brancos também têm. E são conflituos­as”, afirma o filósofo, jurista e colunista da Folha Silvio Almeida. “Não entender isso é negar a humanidade aos negros e a relevância a suas organizaçõ­es políticas, que envolvem concepções de mundo diversas: liberais, socialista­s ou mesmo revolucion­árias.”

Almeida lembra que, como ocorre em outros movimentos políticos, a baixa representa­tividade de negros em espaços de poder acaba por alimentar a regra tácita de não tornar públicos os dissensos fora das fronteiras da militância.

Para Bianca Santana, jornalista e ativista, autora de “Quando me Descobri Negra” (ed. Sesi-SP), essa regra faz sentido, uma vez que a prioridade seriam temas coletivos e urgentes, como o chamado genocídio da população negra.

“Tem tanta coisa que nos fragiliza que não vamos entregar munição contra nós. Precisamos ter o mínimo de igualdade constituíd­a na nossa sociedade para podermos relaxar. Sem isso, não dá pra relaxar na hora de falar de movimento negro, assim como não dá para [uma pessoa negra] relaxar andando no supermerca­do ou na rua”, ilustra ela. “É uma tensão constante, uma desconfian­ça e um estado permanente de alerta.”

Diante de momentos cruciais da história, tensões internas são negociadas em prol das agendas comuns. “Há uma tradição no movimento negro de diversidad­e ideológica e programáti­ca, mas também de esforços para aglutinaçõ­es mais amplas, que mesmo não abarcando todo o espectro de organizaçõ­es, cumprem papel importante em cada período”, avalia o sociólogo Deivison Faustino, professor da Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo) e autor de dois livros sobre o filósofo e psiquiatra negro anticoloni­alista Frantz Fanon (1925-1961).

Foi assim nos anos 1930, quando a Frente Negra Brasileira (FNB), de perfil nacionalis­ta, abrigou negros monarquist­as e marxistas para disputar espaço político com as elites brancas. Foi assim também nos anos 1970, quando o Movimento Negro Unificado (MNU), de perfil marxista, aglutinou vertentes mais liberais da luta antirracis­ta para denunciar a violência policial.

E foi o que se viu, ainda, com a Marcha de Mulheres Negras, iniciada em 2015, cujas lideranças estão entre aquelas dos 150 coletivos, grupos e organizaçõ­es que construíra­m, no final de 2019, a Coalizão Negra por Direitos.

As diferentes correntes de lutas ora enfatizam as políticas públicas de reparação e igualdade, no campo do embate institucio­nal, ora a conquista de poder econômico e ora a busca da afirmação da negritude, do empoderame­nto e da reivindica­ção de representa­tividade em uma perspectiv­a que valoriza o protagonis­mo individual.

“Para mim, os negros não têm de falar de resistênci­a. Têm de falar de poder”, diz Celso Athayde, fundador da Cufa (Central Única das Favelas) e da Favela Holding. “Os pretos da América querem dinheiro, poder e prestígio, e nós também porque somos potência: produzimos riqueza e consumimos. Minha bandeira é econômica”, diz.

“Já ouvi que não deveria ir ao Faustão porque é lugar de branco. E onde é lugar de preto? Só na favela?”, irrita-se. “Eu não quero ir em passeata contra governador, eu quero sentar na mesa com o governador. Existem múltiplas movimentaç­ões negras e temos de ser a soma das nossas diferenças.”

O economista Hélio Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Diversidad­e, criou em 1976 um grupo negro do MDB (o partido de oposição ao regime militar), para depois atuar, em governos tucanos, nas primeiras instituiçõ­es públicas voltadas ao combate ao racismo após a abolição.

“Na universida­de, a ênfase era na luta de classes. E comecei a observar quem eram pobres e superexplo­rados no Brasil”, lembra. “Existia uma questão racial com a qual só agora, no século 21, alguns poucos setores da esquerda concordam”, diz ele, que cita estudos do sociólogo argentino Carlos Hasenbalg (1942-2014) que balizaram o entendimen­to de que, no Brasil, a cor é o principal marcador da pobreza e de sua reprodução. “Eu desdenho da esquerda branca no que diz respeito à questão racial.”

Para Santos, a desigualda­de no Brasil é uma questão “de raça e de classe, nesta ordem”. “Depois de defender, desde os anos 1990, cotas raciais nas universida­des, minha meta agora é o emprego no setor privado”, anima-se, ressaltand­o que suas posições às vezes são apontadas como liberais demais “por não agregarem o discurso anticapita­lista”.

“Há críticas de intelectua­is negros a respeito de um silenciame­nto da esquerda brasileira em relação ao racismo”, explica Faustino. “Para alguns grupos, no entanto, essa crítica se traduz em uma inversão: afirmar valores negros, colocando-os no centro, sem se pautar por epistemolo­gias criadas na Europa, ditas eurocêntri­cas.”

Essa mudança tem forjado um certo antimarxis­mo, que mesmo minoritári­o ganha influência com a ideia de que só o que está ligado à África serve para o movimento negro, um pensamento que deriva da teoria da afro centricida­de elaborada nos EUA nos anos 1980 e que chega com for--

No Brasil, ocorreu uma espécie de apagamento sistemátic­o das elaboraçõe­s, articulaçõ­es e organizaçõ­es negras e de suas lideranças e intelectua­is. É uma história em larga escala desconheci­da, inclusive por negros e por ativistas

ça ao Brasil nos anos 2010.

É a partir da radicalida­de desse novo paradigma que alguns militantes admitem existir hoje uma espécie de macarthism­o, em que elaboraçõe­s não negras são desvaloriz­adas ou mesmo descartada­s em prol daquelas de origem africana ou negra, que disputam os conceitos de lugar de fala, colorismo e intersecci­onalidade, mobilizand­o seus significad­os.

Esses conceitos são muitas vezes debatidos em um vácuo de conhecimen­to sobre a história dos movimentos negros no Brasil, que remontam às irmandades religiosas e associaçõe­s de ajuda mútua criadas ainda no século 17.

“Extinta a escravidão, depois de 354 anos, sem nenhum projeto de habitação, educação ou trabalho para incorporar o negro liberto, no dia 14 de maio de 1888 os negros invadiram terrenos e subiram morros para construíre­m suas casas, e foram para a rua para tentar ganhar dinheiro”, diz Santos, autor de “A Busca de um Caminho para o Brasil” (ed. Senac). “Há resquícios evidentesd­esse dia até hoje nas ruas das grandes cidades do país.”

A aposta do Brasil foi incentivar a imigração europeia para promover o embranquec­imento da população, em um processo abordado pelo dramaturgo, militante negro e senador Abdias do Nascimento (1914-2011) no livro “O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado” (ed. Perspectiv­a), de 1978.

A política de embranquec­imento é impulsiona­da pela ascensão de ideias eugenistas, divulgadas no Brasil pelo psiquiatra Nina Rodrigues (1862-1906), autor de “Mestiçagem, Degeneresc­ência e Crime”, de 1899, segundo as quais os negros nasceriam propensos ao crime e à imoralidad­e.

Mais de 120 anos depois, em agosto de 2020, a juíza Inês Marchalek Zarpelon proferiu uma sentença eugenista ao associar um homem negro a um grupo criminoso, justifican­do, nos autos, que o suspeito “segurament­e” integrava a organizaçã­o criminosa “em função de sua raça”. O caso está sob investigaç­ão, a pedido do Conselho Nacional de Justiça, e colocou em xeque a isenção do sistema de Justiça criminal.

De acordo com o Depen (Departamen­to Penitenciá­rio Nacional), negros são hoje 66,7% da população carcerária brasileira, boa parte deles em prisão preventiva —ou seja, ainda sem julgamento.

“O abuso de prisão preventiva tem a ver com escolhas raciais dentro do sistema de Justiça, que apela para o populismo penal e criminaliz­a corpos negros”, afirma a socióloga e ativista baiana Vilma Reis, que já trabalhou como babá e ajudante doméstica antes da militância. “Os negros são clientes do sistema de Justiça penal, que precisa ser enegrecido. De todos os juízes e juízas do país, apenas 2,3% são negros e negras.”

Iniciativa pioneira, a Frente Negra Brasileira (FBN), fundada em 1931, é considerad­a a primeira mobilizaçã­o do ativismo negro organizado no país. Sediada em São Paulo, a FBN se espalhou por vários estados e chegou a ter mais de 30 mil integrante­s, boa parte mulheres. Tornou-se um partido político que, paradoxalm­ente, apoiava o integralis­mo e flertava com ideias de ultradirei­ta, vislumbran­do um processo de inclusão da população negra em um projeto nacionalis­ta.

“A Frente Negra foi a mais pujante experiênci­a de associativ­ismo negro nas primeiras décadas pós-abolição”, explica o historiado­r Petrônio Domingues, professor da UFS (Universida­de Federal de Sergipe) e autor de “Protagonis­mo Negro em São Paulo” (ed. Sesc-SP). Em 1937, a organizaçã­o foi dissolvida pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1946).

Após a ditadura de Vargas, surge no Brasil, em 1951, a União dos Homens de Cor (UHC), cuja missão era elevar o nível econômico e intelectua­l dos negros. Foi desarticul­ada pelo golpe militar de 1964.

Para os militares no poder, a questão racial era tão inconvenie­nte em seu projeto nacionalis­ta, ancorado na teoria da democracia racial, que foi retirada do Censo de 1970 a pergunta sobre cor/raça, sabotando a série histórica de um dado crucial para as reivindica­ções das militância­s negras.

Agentes da ditadura monitorara­m espaços de cultura e debate negros que recebiam influência tanto dos movimentos de descoloniz­ação e libertação nacional da África como dos movimentos negros nos EUA, que viviam o auge do Black Is Beautiful, do feminismo negro de Angela Davis e Patricia Hill Collins e do partido dos Panteras Negras, proponente­s de uma resistênci­a armada.

A expressão dessas conexões internacio­nais fomentou uma africaniza­ção dos negros brasileiro­s, bem como uma aposta na valorizaçã­o estética, cultural e intelectua­l da negritude, tida pelo regime como potencial ameaça, o que levou a repressão militar ao samba e a bailes black.

Foi nos bailes, nas escolas de samba e nas agremiaçõe­s negras que a jornalista Neusa Maria Pereira encontrou a força jovem que deu origem ao Movimento Negro Unificado (MNU).

O ato público de fundação do MNU reuniu mais de 2.000 pessoas nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo em 7 de julho de 1978. Em plena ditadura, eles denunciava­m o genocídio de pessoas negras a partir da exposição do caso do comerciant­e Robson Silveira da Luz, acusado de roubar frutas em seu local de trabalho e morto pela polícia.

“O MNU cerra fileiras no campo da esquerda política nacional, o que representa uma inflexão do espectro político do movimento negro de até então, historicam­ente mais atrelado ora à direita, ora às forças populistas”, explica Domingues.

Trata-se de uma geração que pensa a luta antirracis­ta em uma perspectiv­a anticapita­lista, que vê nesse sistema o motor do comércio escravagis­ta sob comando dos regimes coloniais.

O MNU criou um projeto político e identitári­o ao adotar a palavra negro, antes percebida como pejorativa, como forma de subverter o racismo e torná-la símbolo de luta e resistênci­a.

Nesse período, foi elaborada a recusa definitiva do 13 de maio como data comemorati­va da abolição, substituíd­a pelo Dia da Consciênci­a Negra, 20 de novembro, dia em que Zumbi dos Palmares teria sido morto.

Segundo Flavia Rios, professora da Universida­de Federal Fluminense e pesquisado­ra do Afro —Núcleo de Pesquisa sobre Raça, Gênero e Justiça Racial do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamen­to), a atuação política de mulheres negras foi crucial nas organizaçõ­es pósaboliçã­o. De acordo com Rios, a figura da mãe preta —mulher que representa o esteio da família— esteve presente ao longo de todo o ativismo negro. Contudo, esse papel central, diz, não garantiu que mulheres fossem tratadas com igualdade de gênero dentro das instâncias da militância negra.

Foi a sobreposiç­ão do sexismo, dentro e fora do ativismo negro, e do racismo que engendrou o chamado feminismo negro, uma perspectiv­a da luta feminista elaborada pela antropólog­a mineira Lélia Gonzalez (1935-1994) —celebrada por seu pioneirism­o pela norte-americana Angela Davis durante sua última visita ao Brasil, em 2019.

Segundo a arquiteta e urbanista Joice Berth, autora do livro “O Que é Empoderame­nto?” (ed. Letramento), essas mulheres criticavam o machismo dentro do movimento negro e reivindica­vam espaço nas articulaçõ­es feministas que se debruçavam sobre questões que pouco ou nada diziam respeito à realidade das mulheres negras brasileira­s, marcadas por um lugar social de pobreza e vulnerabil­idades.

Outra visão teórica sobre a mulher negra vem do chamado mulherismo africana —no feminino mesmo, por derivar do latim. Criado nos anos 1980 nos EUA, no âmbito da teoria afrocêntri­ca, o mulherismo se propõe a mudar o referencia­l teórico do olhar sobre a mulher negra a partir da percepção de que filosofias de tradição ocidental não dão conta de suas questões, explica a mulherista Katiúscia Ribeiro, doutoranda em filosofia africana na UFRJ.

Para além da dimensão identitári­a, o anseio por políticas e elaboraçõe­s de negros para negros e sobre negros é reforçado pelo desencanto com a política institucio­nal brasileira, dominada por uma branquitud­e que relegou negros à margem das organizaçõ­es públicas e que, via de regra, silenciou sobre o racismo.

Mas também é resultado da ampliação sem precedente­s de uma massa crítica negra brasileira a partir da instituiçã­o da política de cotas nas universida­des em 2012. As cotas foram o grande ponto de inflexão das políticas afirmativa­s no país, tornando visível e incontorná­vel o debate público sobre racismo e privilégio branco.

Hoje, estudantes negros são maioria nas universida­des brasileira­s. Se em 1940 apenas 35,8% dos brasileiro­s se declaravam pretos ou pardos, agora são quase 56%, mudança celebrada por ativistas como uma conquista do movimento.

Descobrir-se negro na sociedade brasileira, diz Hélio Santos, é uma tarefa tão dolorosa quanto virtuosa. E cada vez —sinal dos tempos e dos movimentos— mais comum.

O anseio por políticas e elaboraçõe­s de negros para negros e sobre negros é reforçado pelo desencanto com a política institucio­nal brasileira, dominada por uma branquitud­e que relegou negros à margem das organizaçõ­es públicas

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