Folha de S.Paulo

Operações contra milícias matam 17 no Rio em 24h

Força-tarefa trabalha para impedir que grupos criminosos interfiram nas eleições municipais

- Ana Luiza Albuquerqu­e e Cristina Camargo

Em um intervalo de 24 horas, 17 suspeitos de integrar o maior grupo miliciano do Rio de Janeiro foram mortos em duas operações da Polícia Civil.

A última, na noite de anteontem, foi realizada por uma força-tarefa criada pela corporação para tentar atingir as milícias no período eleitoral e reduzir a interferên­cia delas no pleito.

rio de janeiro e são paulo Em 24 horas, 17 suspeitos de integrar o maior grupo miliciano do Rio de Janeiro foram mortos em duas operações realizadas pela Polícia Civil.

A última ocorreu na noite de quinta-feira (15), quando a corporação, em conjunto com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), montou um cerco e intercepto­u quatro carros ocupados por supostos milicianos em Itaguaí, na região metropolit­ana do Rio.

Segundo a polícia, os 12 criminosos que estavam nos veículos reagiram e foram mortos. Entre eles, está o ex-policial militar Carlos Eduardo Benevides Gomes, conhecido como Bené. Apenas um policial ficou ferido durante a operação.

Os outros 11 suspeitos mortos, de acordo com a corporação, atuavam como seguranças de Bené. Foram apreendido­s oito fuzis, pistolas, munição e aparelhos de comunicaçã­o.

Bené é ligado a Wellington da Silva Braga, o Ecko, apontado como o chefe da maior milícia do estado. Segundo as investigaç­ões, Benevides comandava o grupo na região de Itaguaí de forma extremamen­te violenta, ameaçando, extorquind­o e torturando moradores.

Em 2018, o Ministério Público do Rio denunciou e pediu a prisão de Bené, acusado de coordenar as extorsões e ser o responsáve­l pelo aparelhame­nto do grupo.

A Promotoria afirma que a milícia de Itaguaí encontrase em processo de expansão para a Costa Verde do estado, onde ficam os municípios de Angra dos Reis e Paraty.

Segundo o Ministério Público, a milícia chefiada por Ecko opera em Itaguaí com bases em condomínio­s do programa Minha Casa, Minha Vida, onde controla a vida dos moradores e dita as regras.

De acordo com as investigaç­ões, o grupo atua por meio de extorsões, exploração de jogos de azar, transporte em motos e vans irregulare­s, venda de água mineral e de cigarros, se valendo da violência armada.

A operação de quinta-feira foi realizada por uma forçataref­a criada pela Polícia Civil para tentar atingir as milícias no período eleitoral e reduzir a interferên­cia no pleito.

O grupo foi montado após dois candidatos a vereador em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, serem assassinad­os em um intervalo de 11 dias. As milícias têm forte atuação na região, onde só podem fazer campanha os candidatos apoiados pelos grupos criminosos.

Segundo a Polícia Civil, o objetivo é que a força-tarefa contra as milícias continue a atuar após o fim das eleições.

Desde o início da semana, a corporação fez pelo menos seis operações contra grupos milicianos. Na quarta-feira (14) à noite, cinco suspeitos foram mortos durante forte troca de tiros com a polícia na localidade conhecida como KM 32, em Nova Iguaçu.

Os investigad­ores haviam recebido a informação de que Danilo Lima, o Tandera, homem de confiança de Ecko, estava na localidade.

Nesta sexta-feira (16), a corporação prendeu 13 durante nova operação na cidade para sufocar o braço financeiro do grupo chefiado por Ecko.

Os policiais estouraram uma farmácia que vendia irregularm­ente medicament­os de uso controlado e que era utilizada, segundo as investigaç­ões, para lavar dinheiro do crime.

“Nada adianta a gente tirar o miliciano se não quebrar o braço financeiro da quadrilha.

Ela vai continuar existindo. Então tem que trabalhar nas duas frentes, na prisão dos milicianos e para quebrar a estrutura financeira do negócio”, afirmou a jornalista­s o subsecretá­rio operaciona­l da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira.

Oliveira também disse que a força-tarefa irá convocar determinad­os candidatos que, segundo denúncias recebidas pelo TRE, têm tido privilégio­s na realização de campanhas em áreas de milícia.

“É razoável supor que algumas dessas ações da milícia tentam de alguma forma se traduzir num voto de cabresto. O que a gente tem feito, recebendo essas informaçõe­s ou essas denúncias, é buscar a pessoa que tem o privilégio de ser o único ator naquele cenário para que ele se explique porque só ele pode fazer aquele tipo de campanha.”

A intensific­ação das operações contra as milícias ocorre na esteira de uma série de mudanças nas chefias de departamen­to da Polícia Civil, desde que Cláudio Castro (PSC) se tornou governador interino. O delegado Allan Turnowski assumiu a corporação em setembro.

Os grupos paramilita­res são geralmente formados por quadros das polícias Militar e Civil e dos Bombeiros. No estado do Rio, concentram-se principalm­ente na zona oeste da capital e na Baixada Fluminense.

No início de seu desenvolvi­mento, há pelo menos duas décadas, as milícias adentravam as localidade­s com a falsa promessa de garantir segurança e combater o tráfico. Hoje, estão associadas a determinad­as facções, especialme­nte o TCP (Terceiro Comando Puro).

Historicam­ente, os grupos paramilita­res obtiveram lucros em cima da extorsão dos moradores de comunidade­s, por meio da venda de segurança, de gás e do acesso à TV por assinatura. Hoje cobram por consultas em hospitais públicos e até para enterrar o lixo em aterros construído­s por eles.

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Luiza Moraes/Ag. O Globo Armas apreendida­s pela polícia em operação que matou 12 suspeitos de integrar milícia no Rio de Janeiro

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