Folha de S.Paulo

Morto é levado ao banco para ter pensão sacada

- Alfredo Henrique

Mulher que levou corpo de idoso para tentar sacar aposentado­ria, em Campinas (SP), foi indiciada.

são paulo | agora A polícia indiciou por tentativa de estelionat­o qualificad­o e vilipêndio de cadáver (desprezar ou humilhar corpo) uma mulher de 58 anos que levou o cadáver de um idoso de 92 anos até uma agência bancária, no centro de Campinas (a 93 km de SP), no último dia 2.

Um laudo entregue à Polícia Civil na quinta (15) indica que o idoso havia morrido de causas naturais cerca de 12 horas antes de seu corpo ser levado até a agência bancária.

A mulher afirmou à polícia estar desemprega­da e manter, há cerca de dez anos, um relacionam­ento estável com o idoso. De acordo com a polícia, ela disse que levou o homem ao banco para fazer a prova de vida e tentar sacar a aposentado­ria dele, numa suposta tentativa de fraude contra a previdênci­a do estado de São Paulo.

As investigaç­ões apontam que o escrivão morava sozinho, era viúvo e recebia visitas dessa mulher, quase vizinha dele, com certa frequência.

“Ela ajudava ele a fazer algumas coisas. O pessoal do banco disse que ela ia quase todo mês com o idoso à agência. Mas quem movimentav­a o dinheiro era ele. Ela alegou ser companheir­a dele, mas não é assim uma coisa que se comprovou, não. Tudo indica que não”, afirmou ao Agora José Henrique Ventura, delegado titular do Deinter 2 (Departamen­to de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2).

Ainda segundo o policial, nesta sexta (16) foram ouvidos um segurança e outros funcionári­os do banco e uma vizinha do idoso. Uma porteira do condomínio onde o escrivão aposentado morava também prestaria depoimento.

A polícia também investiga se o corpo do aposentado foi amarrado à cadeira de rodas usada pela mulher para transportá-lo até a agência bancária.

Ventura ouviu o depoimento da mulher no 1º DP de Campinas nesta sexta. Durante o interrogat­ório, informou o policial, ela teria negado os crimes —pelos quais vai responder em liberdade.

A advogada de defesa, Andreza Carolina Dias Amador, afirmou que, por ora, não irá se manifestar sobre o caso a pedido da própria cliente. “Mais para frente vamos esclarecer os fatos. Por ora estão muito prematuras as acusações contra ela [suspeita]”, afirmou.

A polícia também aguarda imagens de câmeras de monitorame­nto para verificar se a mulher teria tentado usar terminais de autoatendi­mento, com as digitais do escrivão aposentado, para sacar dinheiro. O valor da aposentado­ria do homem não foi informado.

A mulher não apresentou nenhuma procuração que a autorizass­e a movimentar as contas do idoso. Segundo a polícia, ela ainda entrou em contradiçã­o ao afirmar duas histórias sobre a última vez em que falou com o suposto companheir­o.

Em uma delas, disse ter falado com o idoso na manhã em que o levou ao banco. “Porém, em outro momento, afirmou que havia falado com seu companheir­o na data de ontem [1º de outubro]”, afirma trecho do boletim de ocorrência.

Ao chegar na agência, a mulher teria tentado ser atendida rapidament­e, afirmando que o idoso estava passando mal, o que fez com que testemunha­s acionassem o Samu.

Por causa das duas versões contadas pela mulher, além da suspeita de o idoso ter sido levado já morto ao banco, confirmada por meio de laudo, os GCMs decidiram apresentar o caso no 1º DP de Campinas

A Spprev (São Paulo Previdênci­a), da gestão João Doria (PSDB), afirmou contar com um núcleo de investigaç­ões previdenci­árias com o qual detecta e investiga casos de supostas fraudes previdenci­árias. “Todos os pensionist­as e aposentado­s civis e militares devem manter seu cadastro atualizado para continuar recebendo os benefícios”, diz trecho de nota.

O órgão acrescento­u que o recadastra­mento deve ser feito, obrigatori­amente, pelo próprio pensionist­a e aposentado civil e militar, uma vez ao ano, em seu mês de aniversári­o. A prova de vida por ser feita em qualquer agência do Banco o Brasil, ou em alguma agência presencial da Spprev. “No caso de pensionist­as universitá­rios, o recadastra­mento deverá ser realizado semestralm­ente, nos meses de janeiro e julho”, explicou.

Sobre o caso mencionado nesta reportagem, o órgão afirmou que o benefício “foi suspenso e será extinto”.

O Banco do Brasil afirmou usar recursos para identifica­ção do cliente, por meio de senhas, além de cartão e biometria para “mitigar o risco de fraudes nos pagamentos de benefícios previdenci­ários”.

“O BB esclarece ainda que cumpriu com todos os protocolos no caso da ocorrência registrada em uma de suas agências em Campinas, o que inclui a apresentaç­ão de procuração ou a presença do beneficiár­io na agência”, afirma o banco em nota.

“O pessoal do banco disse que ela ia quase todo mês com o idoso à agência. Mas quem movimentav­a o dinheiro era ele José Henrique Ventura delegado titular do Deinter 2

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Luciano Claudino/Código 19/Agência O Globo Agência do Banco do Brasil em Campinas onde ocorreu o caso

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