Morto é levado ao banco para ter pensão sacada
Mulher que levou corpo de idoso para tentar sacar aposentadoria, em Campinas (SP), foi indiciada.
são paulo | agora A polícia indiciou por tentativa de estelionato qualificado e vilipêndio de cadáver (desprezar ou humilhar corpo) uma mulher de 58 anos que levou o cadáver de um idoso de 92 anos até uma agência bancária, no centro de Campinas (a 93 km de SP), no último dia 2.
Um laudo entregue à Polícia Civil na quinta (15) indica que o idoso havia morrido de causas naturais cerca de 12 horas antes de seu corpo ser levado até a agência bancária.
A mulher afirmou à polícia estar desempregada e manter, há cerca de dez anos, um relacionamento estável com o idoso. De acordo com a polícia, ela disse que levou o homem ao banco para fazer a prova de vida e tentar sacar a aposentadoria dele, numa suposta tentativa de fraude contra a previdência do estado de São Paulo.
As investigações apontam que o escrivão morava sozinho, era viúvo e recebia visitas dessa mulher, quase vizinha dele, com certa frequência.
“Ela ajudava ele a fazer algumas coisas. O pessoal do banco disse que ela ia quase todo mês com o idoso à agência. Mas quem movimentava o dinheiro era ele. Ela alegou ser companheira dele, mas não é assim uma coisa que se comprovou, não. Tudo indica que não”, afirmou ao Agora José Henrique Ventura, delegado titular do Deinter 2 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2).
Ainda segundo o policial, nesta sexta (16) foram ouvidos um segurança e outros funcionários do banco e uma vizinha do idoso. Uma porteira do condomínio onde o escrivão aposentado morava também prestaria depoimento.
A polícia também investiga se o corpo do aposentado foi amarrado à cadeira de rodas usada pela mulher para transportá-lo até a agência bancária.
Ventura ouviu o depoimento da mulher no 1º DP de Campinas nesta sexta. Durante o interrogatório, informou o policial, ela teria negado os crimes —pelos quais vai responder em liberdade.
A advogada de defesa, Andreza Carolina Dias Amador, afirmou que, por ora, não irá se manifestar sobre o caso a pedido da própria cliente. “Mais para frente vamos esclarecer os fatos. Por ora estão muito prematuras as acusações contra ela [suspeita]”, afirmou.
A polícia também aguarda imagens de câmeras de monitoramento para verificar se a mulher teria tentado usar terminais de autoatendimento, com as digitais do escrivão aposentado, para sacar dinheiro. O valor da aposentadoria do homem não foi informado.
A mulher não apresentou nenhuma procuração que a autorizasse a movimentar as contas do idoso. Segundo a polícia, ela ainda entrou em contradição ao afirmar duas histórias sobre a última vez em que falou com o suposto companheiro.
Em uma delas, disse ter falado com o idoso na manhã em que o levou ao banco. “Porém, em outro momento, afirmou que havia falado com seu companheiro na data de ontem [1º de outubro]”, afirma trecho do boletim de ocorrência.
Ao chegar na agência, a mulher teria tentado ser atendida rapidamente, afirmando que o idoso estava passando mal, o que fez com que testemunhas acionassem o Samu.
Por causa das duas versões contadas pela mulher, além da suspeita de o idoso ter sido levado já morto ao banco, confirmada por meio de laudo, os GCMs decidiram apresentar o caso no 1º DP de Campinas
A Spprev (São Paulo Previdência), da gestão João Doria (PSDB), afirmou contar com um núcleo de investigações previdenciárias com o qual detecta e investiga casos de supostas fraudes previdenciárias. “Todos os pensionistas e aposentados civis e militares devem manter seu cadastro atualizado para continuar recebendo os benefícios”, diz trecho de nota.
O órgão acrescentou que o recadastramento deve ser feito, obrigatoriamente, pelo próprio pensionista e aposentado civil e militar, uma vez ao ano, em seu mês de aniversário. A prova de vida por ser feita em qualquer agência do Banco o Brasil, ou em alguma agência presencial da Spprev. “No caso de pensionistas universitários, o recadastramento deverá ser realizado semestralmente, nos meses de janeiro e julho”, explicou.
Sobre o caso mencionado nesta reportagem, o órgão afirmou que o benefício “foi suspenso e será extinto”.
O Banco do Brasil afirmou usar recursos para identificação do cliente, por meio de senhas, além de cartão e biometria para “mitigar o risco de fraudes nos pagamentos de benefícios previdenciários”.
“O BB esclarece ainda que cumpriu com todos os protocolos no caso da ocorrência registrada em uma de suas agências em Campinas, o que inclui a apresentação de procuração ou a presença do beneficiário na agência”, afirma o banco em nota.
“O pessoal do banco disse que ela ia quase todo mês com o idoso à agência. Mas quem movimentava o dinheiro era ele José Henrique Ventura delegado titular do Deinter 2