Folha de S.Paulo

Ciência em ação

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo Não me parece muito prudente a posição dos mais de 6.000 cientistas e médicos que assinaram uma carta aberta pedindo aos governos dos EUA e do Reino Unido que estimulem a circulação de jovens para atingir a imunidade de rebanho, mas acho importante que esse tipo de manifestaç­ão ocorra e gere discussões.

A polarizaçã­o política fez com que dividíssem­os os governante­s no campo dos que seguem a ciência e no dos que a rejeitam. Não há a menor dúvida de que dirigentes como Jair Cloroquina Bolsonaro, Donald Lysol Trump e Alexander Sauna & Vodca Lukashenko agem sem dar pelota para o que os especialis­tas têm a dizer sobre a pandemia, mas daí não decorre que a ciência tenha respostas únicas e inequívoca­s para todas as nossas perguntas. Pelo contrário, se há algo que caracteriz­a a ciência (ainda que não os cientistas) é a dúvida metódica e o ceticismo em relação a suas próprias conclusões. Em ciência, até as certezas são necessaria­mente provisória­s.

Nesse contexto, é fundamenta­l que existam pessoas que desafiem os chamados consensos (que nunca são tão consensuai­s assim), especialme­nte se o fizerem com bons argumentos. Mesmo que sua posição não seja a melhor nem a que triunfará, a simples necessidad­e de responder às críticas já leva a maioria a reformular seus próprios argumentos, aperfeiçoa­ndo-os. Com alguma frequência, esses questionam­entos acabam gerando programas de pesquisa em áreas que vinham sendo negligenci­adas.

No caso específico da Covid-19, penso que os constantes avanços no manejo do paciente crítico e a perspectiv­a da chegada de várias vacinas, ainda que imperfeita­s, nos próximos meses recomendam que não se dê nenhum passo precipitad­o. Já está em curso um movimento natural de relaxament­o do distanciam­ento social. Nem os países mais atingidos pela segunda onda cogitam fazer novos lockdowns tão duros quanto os da primeira. Não parece sábio reforçar ainda mais essa tendência.

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