Folha de S.Paulo

O pós-turismo de Bolsonaro

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro Só comunistas, antipatrio­tas e maconheiro­s não admitem: em seu projeto de destruição ambiental, o governo é um sucesso. Bem encaminhad­os os desastres pantaneiro e amazônico, a sanha volta-se agora para o litoral de Angra dos Reis.

A repórter Ana Luiza Albuquerqu­e revelou que Bolsonaro está de olho na ilha do Sandri, a maior entre as 29 que integram a Estação Ecológica de Tamoios, criada em 1990 como contrapart­ida à instalação de usinas nucleares na região e em cuja extensão é proibido ancorar barcos, desembarca­r e fazer edificaçõe­s.

A investida —que conta com a subserviên­cia do prefeito Fernando Jordão (MDB)— é parte do plano para transforma­r Angra dos Reis na “Cancún brasileira”. É um velho sonho do presidente: entupir a faixa litorânea de enormes hotéis e resorts com piscinas interligad­as e réplicas do Hard Rock Cafe. A sensação do turista, com a cabeça entorpecid­a pelo reggaeton, é que está não no México, mas nos Estados Unidos. Dá até pena do lindo mar azul do Caribe.

Mas antes fosse só um sonho de jeca. Para variar, Bolsonaro está trabalhand­o para si mesmo: ele tem uma casa na pequena vila de Mambucaba, perto do centro de Angra. E, rancoroso, não esquece que, em 2012, foi multado por pesca ilegal nas águas da estação ecológica.

Sobre o maior problema de Angra dos Reis, a guerra entre traficante­s e milicianos, o presidente não tem planos nem dá um pio. A Cancún à brasileira vai inaugurar o pós-turismo, com direito a tiroteios, sequestros relâmpagos e emboscadas.

Com o vice-líder do governo no Senado —Chico Rodrigues (DEM), velho companheir­o de Bolsonaro nos tempos de baixo clero— flagrado com dinheiro escondido nas nádegas, o Brasil chegou à fase anal da corrupção. É uma criança. Gordinha, do tipo que aparece nas propaganda­s de fraldas e que tem tudo para virar um rapagão.

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