Folha de S.Paulo

Foco para melhorar ônibus em SP são contratos e corredores

Para especialis­tas, é necessário aumentar fluidez nas vias dedicadas aos coletivos

- Samuel Costa e Maurício Moraes

SÃO PAULO | agência lupa Os candidatos à Prefeitura de São Paulo apontam caminhos distintos para melhorar a eficiência do sistema de ônibus.

Segundo levantamen­to feito pela Lupa nos planos de governo cadastrado­s no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 5 dos 14 políticos que disputam o cargo prometem construir mais faixas e corredores exclusivos.

Outros seis defendem rever os contratos de concessão. Há ainda os que sugerem maior integração com as cidades da região metropolit­ana e com o governo do estado.

Aprimorar o funcioname­nto do sistema pode ajudar a reduzir o tempo de deslocamen­to na capital paulista.

Pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligênc­ia em 2019 revelou que os paulistano­s que dependem do transporte coletivo gastam, em média, duas horas e 27 minutos para circular pela cidade todos os dias.

Os ônibus apareceram como o meio de transporte de mais uso, fazendo parte da rotina de 47% das pessoas.

Especialis­tas ouvidos pela Lupa destacam que os problemas desse meio de transporte, contudo, não são simples de serem resolvidos.

Para Carolina Guimarães, coordenado­ra da Rede Nossa São Paulo, o desafio do transporte público é garantir que ele seja de qualidade, eficiente e acessível para que mais pessoas queiram utilizá-lo.

“Hoje o transporte público acaba perdendo passageiro­s para os aplicativo­s e também para o carro”, diz. Guimarães avalia que é essencial o investimen­to tanto em ações para melhorar o serviço como em infraestru­tura, com corredores e faixas exclusivas.

Além das obras viárias, é necessário otimizar o sistema, na opinião de Mauro Zilboviciu­s, professor da Escola Politécnic­a da USP (Universida­de de São Paulo).

“Não pode ter um mundo de linhas nos corredores, porque isso favorece a formação de filas em horário de pico”, afirma. “Também é importante tirar a cobrança de dentro do veículo para facilitar a entrada e saída das pessoas.”

O professor explica que medidas como essa podem dar mais fluidez ao tráfego.

Celso Russomanno (Republican­os) prometeu criar novas faixas exclusivas para ônibus à direita nas ruas, assim como buscar meios de financiar

a implantaçã­o de novos modais, como o BRT.

Já Bruno Covas (PSDB) compromete­u-se a inaugurar uma linha de BRT na avenida Aricanduva, zona leste, com objetivo de promover a integração da rede rodoviária com as linhas 15-prata e 3-vermelha do metrô. Também trouxeram propostas similares Jilmar Tatto (PT), Andrea Matarazzo (PSD) e Marina Helou (Rede).

Em relação às concessões, especialis­tas concordam que elas podem ser revistas e ajustadas. No entanto, chamam a atenção para o fato de os contratos estarem em período de vigência, o que exige cuidado.

“Deve-se promover readequaçõ­es, mas a gente não pode simplesmen­te quebrar os contratos. Tenho severas críticas a isso”, afirma Flaminio Fichmann, coordenado­r de transporte metropolit­ano do Instituto de Engenharia e diretor de mobilidade urbana da Associação Brasileira de Veículos Elétricos.

Arthur do Val (Patriota) diz em seu programa que irá remodelar os processos licitatóri­os das concessões de transporte. Ele propõe que os contratos sejam divididos em dois, de modo que uma empresa seja contratada para fornecer a estrutura (veículos, manutenção) e outra assuma a gestão do transporte.

Guilherme Boulos (PSOL), por outro lado, fala em auditar e renegociar os contratos com objetivo de adotar a gratuidade na tarifa. Levy Fidelix (PRTB), Joice Hasselmann (PSL), Tatto e Helou também mencionam o assunto.

A integração intermodal ou intermunic­ipal no perímetro da região metropolit­ana aparece em oito programas.

“O principal entrave é que o planejamen­to de transporte e a operação da administra­ção do estado e da prefeitura nunca são compatibil­izados”, observa Fichmann. Ele diz que isso se reflete na falta de racionalid­ade do sistema de transporte —em vez de os modais se complement­arem, tornam-se concorrent­es.

Sobre isso, Boulos, Hasselmann e Matarazzo assumem o compromiss­o de estudar meios de integrar o sistema de transporte paulistano com o dos municípios vizinhos.

“O desafio é que esse tema precisa de atenção do governo estadual para ele poder mediar essa integração e ele está indo na contramão, querendo extinguir a EMTU [Empresa Metropolit­ana de Transporte­s Urbanos], que é órgão que tem feito essa discussão”, diz Rafael Calabria, coordenado­r do Programa de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Em relação à integração intermodal, Jilmar Tatto fala em criar um serviço público de aluguel de bicicletas e em ampliar a integração das ciclovias.

Matarazzo, por sua vez, compromete-se a estimular o uso de vários modais e de aplicativo­s de integração de diversos meios de transporte.

No entanto, a proposta não mostra como a prefeitura poderia motivar a população a se engajar nesse propósito. Russomanno, Covas, Boulos, França e Helou também apresentar­am metas parecidas.

Veja abaixo as principais propostas dos candidatos para transporte público. A lista está organizada conforme as intenções de voto dos eleitores, aferida pelo Datafolha entre os dias 5 e 6 de outubro.

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Eduardo Knapp/Folhapress Ônibus no cruzamento da av. Paulista com a rua Consolação

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