Foco para melhorar ônibus em SP são contratos e corredores
Para especialistas, é necessário aumentar fluidez nas vias dedicadas aos coletivos
SÃO PAULO | agência lupa Os candidatos à Prefeitura de São Paulo apontam caminhos distintos para melhorar a eficiência do sistema de ônibus.
Segundo levantamento feito pela Lupa nos planos de governo cadastrados no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 5 dos 14 políticos que disputam o cargo prometem construir mais faixas e corredores exclusivos.
Outros seis defendem rever os contratos de concessão. Há ainda os que sugerem maior integração com as cidades da região metropolitana e com o governo do estado.
Aprimorar o funcionamento do sistema pode ajudar a reduzir o tempo de deslocamento na capital paulista.
Pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligência em 2019 revelou que os paulistanos que dependem do transporte coletivo gastam, em média, duas horas e 27 minutos para circular pela cidade todos os dias.
Os ônibus apareceram como o meio de transporte de mais uso, fazendo parte da rotina de 47% das pessoas.
Especialistas ouvidos pela Lupa destacam que os problemas desse meio de transporte, contudo, não são simples de serem resolvidos.
Para Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, o desafio do transporte público é garantir que ele seja de qualidade, eficiente e acessível para que mais pessoas queiram utilizá-lo.
“Hoje o transporte público acaba perdendo passageiros para os aplicativos e também para o carro”, diz. Guimarães avalia que é essencial o investimento tanto em ações para melhorar o serviço como em infraestrutura, com corredores e faixas exclusivas.
Além das obras viárias, é necessário otimizar o sistema, na opinião de Mauro Zilbovicius, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
“Não pode ter um mundo de linhas nos corredores, porque isso favorece a formação de filas em horário de pico”, afirma. “Também é importante tirar a cobrança de dentro do veículo para facilitar a entrada e saída das pessoas.”
O professor explica que medidas como essa podem dar mais fluidez ao tráfego.
Celso Russomanno (Republicanos) prometeu criar novas faixas exclusivas para ônibus à direita nas ruas, assim como buscar meios de financiar
a implantação de novos modais, como o BRT.
Já Bruno Covas (PSDB) comprometeu-se a inaugurar uma linha de BRT na avenida Aricanduva, zona leste, com objetivo de promover a integração da rede rodoviária com as linhas 15-prata e 3-vermelha do metrô. Também trouxeram propostas similares Jilmar Tatto (PT), Andrea Matarazzo (PSD) e Marina Helou (Rede).
Em relação às concessões, especialistas concordam que elas podem ser revistas e ajustadas. No entanto, chamam a atenção para o fato de os contratos estarem em período de vigência, o que exige cuidado.
“Deve-se promover readequações, mas a gente não pode simplesmente quebrar os contratos. Tenho severas críticas a isso”, afirma Flaminio Fichmann, coordenador de transporte metropolitano do Instituto de Engenharia e diretor de mobilidade urbana da Associação Brasileira de Veículos Elétricos.
Arthur do Val (Patriota) diz em seu programa que irá remodelar os processos licitatórios das concessões de transporte. Ele propõe que os contratos sejam divididos em dois, de modo que uma empresa seja contratada para fornecer a estrutura (veículos, manutenção) e outra assuma a gestão do transporte.
Guilherme Boulos (PSOL), por outro lado, fala em auditar e renegociar os contratos com objetivo de adotar a gratuidade na tarifa. Levy Fidelix (PRTB), Joice Hasselmann (PSL), Tatto e Helou também mencionam o assunto.
A integração intermodal ou intermunicipal no perímetro da região metropolitana aparece em oito programas.
“O principal entrave é que o planejamento de transporte e a operação da administração do estado e da prefeitura nunca são compatibilizados”, observa Fichmann. Ele diz que isso se reflete na falta de racionalidade do sistema de transporte —em vez de os modais se complementarem, tornam-se concorrentes.
Sobre isso, Boulos, Hasselmann e Matarazzo assumem o compromisso de estudar meios de integrar o sistema de transporte paulistano com o dos municípios vizinhos.
“O desafio é que esse tema precisa de atenção do governo estadual para ele poder mediar essa integração e ele está indo na contramão, querendo extinguir a EMTU [Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos], que é órgão que tem feito essa discussão”, diz Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Em relação à integração intermodal, Jilmar Tatto fala em criar um serviço público de aluguel de bicicletas e em ampliar a integração das ciclovias.
Matarazzo, por sua vez, compromete-se a estimular o uso de vários modais e de aplicativos de integração de diversos meios de transporte.
No entanto, a proposta não mostra como a prefeitura poderia motivar a população a se engajar nesse propósito. Russomanno, Covas, Boulos, França e Helou também apresentaram metas parecidas.
Veja abaixo as principais propostas dos candidatos para transporte público. A lista está organizada conforme as intenções de voto dos eleitores, aferida pelo Datafolha entre os dias 5 e 6 de outubro.