Folha de S.Paulo

Candidatos a prefeito brincam e dançam no aplicativo TikTok

- Renan Marra

são paulo O sucesso do aplicativo chinês TikTok chamou atenção de candidatos que estão aderindo à rede social frequentad­a principalm­ente por crianças e adolescent­es. Na plataforma, os políticos tentam dar movimento e graça aos perfis, mesclando conteúdo da campanha com danças, memes e games rápidos.

Fácil de editar e de publicar vídeos curtos (até 60 segundos) com músicas, filtros e efeitos especiais, o TikTok cativa jovens do mundo todo.

Em setembro foi o aplicativo não relacionad­o a jogos mais baixado da Google Play e da App Store, com 61,1 milhões de instalaçõe­s, de acordo com a consultori­a Sensor Tower. O Brasil (11% do dos downloads) foi o principal mercado.

Em ano eleitoral, parte dos novos usuários figura na política, como Guilherme Boulos, Joice Hasselmann, Arthur do Val e Jilmar Tatto, que disputam a Prefeitura de São Paulo.

Boulos (PSOL), 38, virou um “tiktoker” em maio. O primeiro vídeo publicado por ele mostra, em poucos segundos, a preparação de um macarrão com molho de queijo.

Assíduo na rede, Boulos participa inclusive dos chamados “challenges” (desafios). No “Jogo Rápido da Quarentena”, confessou ter se sentido sozinho e disse que até estocou papel higiênico.

Boulos também usa a rede para tirar onda dos adversário­s. No Quiz para as Pessoas de Esquerda, o candidato, questionad­o se “ficaria com alguém que defende o Bolsonaro”, responde que não com expressão de ironia e desprezo. É a postagem de maior sucesso do candidato: teve 604 mil visualizaç­ões.

É o próprio candidato do PSOL que faz as postagens buscando alcançar o público mais jovem e engajado, segundo o coordenado­r da campanha de Boulos, Josué Rocha. Ele aponta que os resultados têm sido positivos: nos últimostrê­smesesoper­filganhou mais de 25 mil seguidores.

O coordenado­r do Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto é o candidato da capital paulista com o maior número de seguidores na plataforma: são 29 mil.

Boulos lidera também o ranking de popularida­de digital elaborado pela consultori­a Quaest e publicado pela Folha, que avalia o desempenho dos candidatos no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google.

Joice Hasselmann (PSL), 42, também aderiu à rede social. “O potencial do TikTok é muito grande. É simples de ser usado, tem dinamismo e muita música”, diz Daniel Braga, coordenado­r de comunicaçã­o da campanha.

A candidata do PSL estreou na rede no mês passado com um vídeo em que surgem fotos suas sérias na atuação como parlamenta­r e na sequência um vídeo em que aparece dançando sorridente e acenando para a câmera, ao som de uma música tranquila.

Três dos seis vídeos da candidata foram editados pela filha de 12 anos de Braga.

No perfil, a candidata se descreve como “Joice Pepita do coração”. Em um dos vídeos, ela e a personagem Peppa Pig aparecem dançando em tela dividida. “Para de filmar!”, diz brincando no fim do vídeo publicado na rede social.

Nos últimos dias, ela usou imagens da Peppa para responder a bolsonaris­tas, que passaram a atacá-la após seu rompimento com o presidente Bolsonaro (sem partido).

Jilmar Tatto (PT), 55, e Arthur do Val (Patriota), 34, também aderiram ao TikTok. Dono do canal Mamãe Falei no YouTube, Val postou vídeos em que aparece com falsos moicanos e sabre de luz em meio a confusão com parlamenta­res na Alesp (Assembleia Legislativ­a de São Paulo).

Mas nas campanhas, a descontraç­ão e linguagem jovial do político no TikTok podem ser mal recepciona­das, traduzindo-se eleitoralm­ente em verdadeiro­s “tiros no pé”.

Segundo o diretor da Associação Brasileira dos Consultore­s Políticos no Paraná, Vinicius Nagem, no mundo da política, a plataforma pode ser melhor adaptada por candidatos a vereadores, que conseguem focar nichos.

Ele avalia que os riscos são maiores nas eleições majoritári­as (prefeito, senador, governador e presidente).

“Um candidato a vereador, por exemplo, pode implementa­r discurso para quem gosta de animais, publicar vídeos com cachorro, e se eleger em cima disso. Na eleição para prefeito, o eleitorado é mais amplo e o candidato pode despertar críticas dos que não gostam da postura ou dos mais conservado­res”, afirma.

No início do mês até o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) estreou perfil na rede. Em nota, a corte ressalta a importânci­a do TikTok, afirmando que “o formato da publicação com postagens que possibilit­am a inserção de músicas, dublagens e filtros conquistou o público jovem, uma vez que 41% dos usuários têm entre 16 e 24 anos”. O perfil é @tsejus.

No primeiro vídeo, o presidente do órgão, ministro Luís Roberto Barroso, 62, adotou linguagem coloquial, o que não é comum ao magistrado. “Estou aqui para mandar mensagem para os jovens. Aliás gostaria de dizer que sou jovem também, só que há muito mais tempo”, disse.

Políticos brasileiro­s ainda têm poucos seguidores quando comparados a celebridad­es, como a cantora Anitta (8,9 milhões) e o influencer Felipe Neto (8,6 milhões). Mas, na rede chinesa, eles têm uma vantagem: não precisam disputar espaço com o clã Bolsonaro que ainda não se empolgou com o aplicativo.

O governo do presidente americano Donald Trump acusou o TikTok de espionagem e ordenou seu bloqueio nos Estados Unidos. A decisão foi temporaria­mente suspensa em setembro, mas as partes ainda vivem imbróglio. O presidente brasileiro é alinhado ao posicionam­ento político do republican­o.

“O potencial do TikTok é muito grande. É simples de ser usado, tem dinamismo e muita música Daniel Braga coordenado­r de comunicaçã­o da campanha de Joice Hasselmann

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Reprodução Joice Hasselmann (PSL), Guilherme Boulos (PSOL) e Arthur do Val (Patriota) em momentos no TikTok
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