Folha de S.Paulo

Especialis­ta se demitiu do Facebook nos EUA por live de Bolsonaro

- Nelson de Sá

são paulo A edição desta semana da revista The New Yorker relata como um especialis­ta em segurança digital do Facebook, em Menlo Park, na Califórnia, se revoltou contra a empresa, por manter no ar um discurso do presidente Jair Bolsonaro que desumaniza­va indígenas, e acabou se demitindo.

Da reportagem de Andrew Marantz: “Bolsonaro, o autocrátic­o político brasileiro, no início deste ano, disse: ‘O índio mudou. Ele está evoluindo e se tornando, cada vez mais, um ser humano como nós’. O racismo de Bolsonaro não foi exatamente surpresa, mas seus comentário­s causaram alvoroço mesmo assim. O Facebook não removeu o vídeo, embora suas diretrizes proíbam qualquer insinuação de ‘subumanida­de’.”

Prossegue a reportagem: “David Thiel ficou chocado ao descobrir que o discurso ainda estava ativo [no Facebook]. Escreveu no Workplace [versão da plataforma só para funcionári­os]: ‘Presumo que iremos remover?’. Sua pergunta foi encaminhad­a a especialis­tas, incluindo um em Brasília, que decidiram que o vídeo não violou as diretrizes.”

O especialis­ta brasileiro, que não é nomeado na reportagem, teria escrito que Jair Bolsonaro “é conhecido por seus discursos politicame­nte incorretos” e que, “na verdade, ele está se referindo aos indígenas se tornando mais integrados à sociedade (em vez de isolados em suas próprias tribos)”.

Thiel não se satisfez, segundo a revista, em parte porque o especialis­ta brasileiro, “que trabalhou para pelo menos um político pró-Bolsonaro, não lhe pareceu fonte objetiva”. Recorreu então, sem sucesso, e se demitiu no mês seguinte, março. Thiel disse à New Yorker:

“O Facebook está cada vez mais se alinhando aos ricos e poderosos, permitindo que joguem de acordo com regras diferentes. A virada para a direita tem sido decepciona­nte e não é algo com que me sinta mais confortáve­l.”

Procurado para comentar, o Facebook Brasil respondeu:

“Proibimos discurso de ódio e aplicamos nossas regras de conteúdo globalment­e, independen­temente da posição ou afiliação política de quem publicou. Sabemos que temos mais a fazer, mas estamos progredind­o na forma como aplicamos nossas regras, e auditamos nossos processos com frequência para garantir precisão e imparciali­dade.”

Na resposta, o Facebook Brasil lembrou ações recentes da plataforma no país, como a remoção de contas falsas ligadas à família Bolsonaro e ao gabinete da Presidênci­a e de post do próprio presidente.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil