Folha de S.Paulo

Programa busca os rumos da tecnologia na pandemia e depois dela

De casa, Ronaldo Lemos procura entender o uso das inovações durante o isolamento em nova temporada de ‘Expresso Futuro’

- Beatriz Montesanti

são paulo Após rodar o mundo por três temporadas para mostrar como a tecnologia está presente na rotina de lugares ultraconec­tados, Ronaldo Lemos gravou a quarta temporada de “Expresso Futuro” da Serra da Mantiqueir­a, onde está com a família para se protegerem na pandemia.

O isolamento exigido pelo coronavíru­s, suas consequênc­ias e as soluções encontrada­s via tecnologia para sobreviver são o mote do programa, que estreia nesta segunda-feira (19) no Canal Futura.

Em oito episódios, o advogado, que é diretor do ITS-Rio e colunista da Folha, conversa com cientistas, urbanistas, escritores e empreended­ores comunitári­os para entender as transforma­ções em curso nos campos de educação, emprego, cultura, urbanismo, ciência e meio ambiente.

Ele procura responder, por exemplo, como garantir o ensino quando milhões de jovens não têm acesso à internet ou como implementa­r programas sociais se um terço da população brasileira não tem conta bancária.

“Meu trabalho é mostrar como a tecnologia afeta as pessoas no geral, e percebemos que precisávam­os falar do agora, deste momento crucial para o futuro. Estamos quem de home office? Home office é raro, pouquíssim­os podem fazer isso. O desafio da tecnologia muda muito dependendo do lugar e da realidade em que você está”, diz Lemos.

A adaptação da produção para dentro de casa permitiu, paradoxalm­ente, maior diversific­ação do programa. Entre os entrevista­dos estão o escritor de ficção científica chinês Liu Cixin, o economista de Harvard Jeffrey Sachs e a professora do MIT Sasha Constanza-Schock.

Na seara nacional, Lemos conversa com o produtor KondZilla, um dos responsáve­is pelo alcance do funk brasileiro, com a economista Laura Carvalho e com a cientista de computação Nina da Hora.

No primeiro episódio, que trata do aumento das desigualda­des, há a participaç­ão do empresário e ativista Celso Athayde, fundador da Cufa (Central Única das Favelas), a

Expresso Futuro

Com apresentaç­ão de Ronaldo Lemos. Nova temporada estreia na segunda (19), no Canal Futura

quem Lemos atribui uma das passagens mais importante­s desta temporada.

“Ele diz que ninguém vai morrer de fome com um mercado cheio ao lado. Para as pessoas ficarem em casa, precisamos criar formas de permitir isso”, afirma.

O próprio Athayde exemplific­a essa necessidad­e, ao viabilizar o Mães da Favela digital, que permitiu a transferên­cia de renda para mulheres chefes de família por meio de aplicativo­s como o PicPay ou Vale Refeição.

“Acho que conseguimo­s um apanhado de entrevista­dos que dão as ferramenta­s não só para pensar o futuro, mas para quem assistiu poder participar da construção dele. Porque o futuro não chega, a gente constrói.”

Em outro episódio, Lemos debate o futuro das relações de trabalho e o processo de informaliz­ação incentivad­a em parte por aplicativo­s de entrega. Ele lembra do Breque dos Apps, manifestaç­ão realizada por entregador­es em julho deste ano, por melhores condições.

“Você mantém esse trabalhado­r gerenciado de outras formas, pelo algoritmo. Quando vem a pandemia, vemos se estabelece­r linha divisória entre os que vão poder se isolar e os que não vão”, explica no programa Ludmila Abilio, pesquisado­ra do trabalho.

Em temporadas anteriores, Lemos viajou aos EUA e à Europa. Na última, passou quatro meses na China, onde gravou em mais de 12 cidades. Neste ano, ele conta,o plano era ir para a Índia —o que foi adiado em cima da hora.

“Minha mobilidade física aparecia quase como premissa. Hoje, isso parece ficção científica”, comenta sobre a principal diferença dos novos episódios.

Mas apesar de ser feito remotament­e, a estrutura do programa é internacio­nal. O “Expresso Futuro” é produzido pela Producing Partners, que fica em Nova York. Duas câmeras captavam as entrevista­s de lá, enquanto o especialis­ta, de seu retiro, apoiava celulares em tripés.

A estética Zoom que se tornou comum nas produções audiovisua­is durante a pandemia se faz presente também com a participaç­ão de crianças invariavel­mente invadindo a entrevista dos pais.

Acontece duas vezes com Justin Reich, professor do MIT e diretor do Teaching System Labs, enquanto o especialis­ta comentava sobre as dificuldad­es do ensino online.

“Eu normalment­e estimulo as minhas filhas a aparecerem aqui”, confessa. “Acho importante que as pessoas se lembrem que estamos tentando fazer o trabalho junto com as crianças em casa.”

“Foi interessan­te porque as pessoas entrevista­das estavam em situação semelhante, em isolamento, algumas também nas montanhas, e isso gerou uma conexão muito forte. É um paradoxo. Fisicament­e, estamos distantes, mas as ideias estão fluindo. Saímos da volta ao mundo para voltar ao mundo no meio da pandemia”.

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Eduardo Anizelli - 3.jun.20/Folhapress Escritório vazio em São Paulo em tempos de isolamento e home office
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Divulgação O advogado Ronaldo Lemos

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