Raízen inaugura maior usina de biogás do mundo em SP
Em evento, Bolsonaro diz que Meio Ambiente ‘não atrapalha a vida do empresário’
guariba (sp) A Raízen, principal grupo sucroenergético do país, inaugurou nesta sexta-feira (16) a maior usina de biogás com produção a partir de derivados da cana-deaçúcar do mundo.
Instalada na usina Bonfim, em Guariba (a 339 km de São Paulo), a planta vai produzir o biogás por meio de vinhaça e torta de filtro, dois subprodutos da cana.
O projeto da planta foi iniciado em agosto de 2018 para diversificar o portfólio do grupo, que já incluía a produção de etanol de primeira e segunda geração e cogeração de energia elétrica.
A usina tem capacidade para produzir 138 mil MWh por ano, o suficiente para abastecer uma cidade como Araraquara, de 238 mil habitantes. O plano é atingir essa capacidade na próxima safra de cana.
A planta é fruto de uma joint venture entre o grupo e a Geo Energética, que já opera uma usina no Paraná. Outras duas estão em desenvolvimento, conforme Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, o que mostra que é um mercado que aos poucos vai ganhar corpo no país.
“No Paraná, ela começou com 4 MWh e está indo para 16 MWh.”
Segundo ele, o potencial é muito grande no setor sucroenergético. “É uma importância extraordinária, só no setor sucroenergético [potencial de] 56 milhões de metros cúbicos/dia, praticamente três vezes o volume de gás que o país importa da Bolívia, 20 milhões de metros cúbicos”, diz. Transformado em diesel equivalente, o produto pode substituir 44% do diesel utilizado por biogás verde.”
Presidente da Raízen, Ricardo Mussa disse que o grupo está entregando “tecnologia aliada à sustentabilidade por meio de uma das maiores plantas de biogás do mundo a partir de subprodutos do processo industrial”.
Com a mesma quantidade de cana será possível aumentar a produção de energia em até 50%, sem alteração na área plantada. Mil toneladas de cana geram 50 MWh no processo de queima da palha da cana, total que agora ganhará mais 25 MWh com a biodigestão de torta de filtro e vinhaça.
O resíduo resultante do processo de produção do biogás será usado como adubo “turbinado”, rico em potássio, fósforo e nitrogênio. A planta vai operar durante todo o ano, produzindo energia durante a safra a partir do processamento da vinhaça, e, na entressafra, a partir da torta de filtro processada.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi à inauguração e disse que a unidade é a materialização da capacidade de empreender do brasileiro.
Disse ainda, ao se referir ao ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) que a pasta não atrapalha a vida dos agricultores, ao contrário do que, segundo ele, ocorria no passado em órgãos como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Bolsonaro disse que “o Ministério do Meio Ambiente não atrapalha a vida do empresário” e que seu governo “não cria dificuldades para vender facilidades”.
O ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia), disse que a planta vai contribuir com a segurança energética do país e é um exemplo de economia de baixo carbono.
“Essa usina de biogás é pioneira, mas em face daquilo que a cana-de-açúcar representa para o país e para o setor energético, tem grande potencial para que isso venha a se multiplicar e possa não só atender à questão da energia mas outras que dizem respeito ao combustível automotivo e complemento ao gás natural.”
Nastari disse que o avanço de usinas de biogás cria uma referência para o uso de resíduos orgânicos em várias áreas. “Não é só no setor sucroenergético, é aproveitamento de resíduos na área de frigoríficos, na área de resíduos de outras culturas, como soja, milho, trigo, arroz. É um potencial enorme, inclusive nos estados em que tem suinocultura, avicultura.”
A Raízen tem 26 unidades de produção de açúcar, etanol e bioenergia, com capacidade para moer 73 milhões de toneladas de cana. Na safra 2019/20, produziu 2,5 bilhões de litros de etanol e 3,8 milhões de toneladas de açúcar.
Durante a solenidade, nenhuma das 16 autoridades sentadas no palco usou máscaras, entre eles o próprio presidente e os ministros Albuquerque, Salles e Braga Netto (Casa Civil).
Bolsonaro e mais quatro políticos usavam camisas do XV de Piracicaba, patrocinado pela empresa —a sede da Raízen fica em Piracicaba.