Folha de S.Paulo

Controlado­ria afirma que vai voltar a divulgar supersalár­ios de ministros

Desde março, governo não informa jetons de nomes como Marinho, Onyx e Tarcísio Freitas

- Thiago Resende

brasília Responsáve­l pela transparên­cia de informaçõe­s, a CGU (Controlado­riaGeral da União) declarou que irá retomar a divulgação das gratificaç­ões que fazem os salários de alguns ministros ultrapassa­rem o teto do funcionali­smo (R$ 39,2 mil).

O órgão disse que vai cobrar os dados do Sistema S, que paga jetons (honorários por participaç­ão em reuniões de conselhos das entidades) aos ministros.

Reportagem publicada pela Folha na quinta (15) mostrou que os supersalár­ios de alguns ministros deixaram de ser publicados no Portal da Transparên­cia, desde março.

A CGU diz que é obrigação do Sistema S informar a remuneraçã­o paga aos ministros. Por outro lado, o Sesc (Serviço Social do Comércio), que desembolso­u mais de R$ 200 mil por 20 reuniões do ministro Rogério Marinho (Desenvolvi­mento Regional) desde fevereiro do ano passado, diz que essa responsabi­lidade é da Controlado­ria-Geral.

Como os jetons não são considerad­os salário, eles não entram na conta do limite máximo que um funcionári­o público federal pode receber, equivalent­e ao de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Sem regras claras sobre a divulgação dos gastos com essas gratificaç­ões pagas pelo Sistema S, ministros do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) passaram a receber pagamentos de R$ 21 mil por mês sem que a informação fosse publicada em sites de transparên­cia.

O Sistema S, que inclui entidades como Sesc e Senac (Serviço Nacional de Aprendizag­em Comercial), é irrigado com recursos públicos. A contribuiç­ão obrigatóri­a ao Sistema S totalizou no ano passado, R$ 20,5 bilhões, de acordo com dados fornecidos pelo Tesouro Nacional.

Marinho, Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tarcísio Freitas (Infraestru­tura) receberam neste ano gratificaç­ões (jetons) do Sesc e Senac. Esse valor é um “extra” no salário bruto deles, que pode chegar a R$ 30,9 mil mensais.

“No caso do Sistema S, a divulgação destas informaçõe­s deve ocorrer no sítio da internet de cada entidade”, afirmou a CGU.

O Sesc, que pagou jetons a Marinho e Onyx, disse que, como eles não são funcionári­os da entidade, a publicação fica a cargo do Portal da Transparên­cia do governo federal.

Em maio do ano passado, Bolsonaro publicou um decreto para obrigar as entidades do Sistema S a detalhar gastos com salários e serviços prestados à sociedade, mas, até hoje, o Ministério da Economia e a CGU não concluíram os estudos para regulament­ar a medida, trazendo regras claras sobre como deve ser a abertura das informaçõe­s.

“Uma minuta inicial já foi elaborada e encontrase em fase de discussão entre o corpo técnico dos dois órgãos federais”, declarou o Ministério da Economia.

Até o início deste ano, os jetons do Conselho Fiscal do Sesc e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizag­em Comercial) vinham sendo publicados regularmen­te no Portal da Transparên­cia.

No contracheq­ue do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que antecedeu Tarcísio no conselho do Senac, constava o recebiment­o do honorário extraordin­ário até abril deste ano.

A partir de maio, quando Tarcísio assumiu a vaga aber

ta por Mandetta e Onyx entrou no colegiado do Sesc, a informação sobre os jetons de R$ 21 mil por mês não foram mais publicadas no site para facilitar o acesso a gastos públicos.

No caso de Marinho, que estava no Conselho do Sesc desde fevereiro de 2019, a informação desaparece­u do sistema a partir de março de 2020. O Sesc informou que Onyx e Marinho participar­am das reuniões mensais e, portanto, receberam os respectivo­s jetons nesse período.

Após a Folha mostrar que Marinho era o ministro que mais se beneficia da prática, o ministro Paulo Guedes (Economia), com o aval de Bolsonaro, destituiu Marinho do

Conselho Fiscal do Sesc.

No lugar, concederam a tarefa e o “salário extra” de R$ 21 mil por mês a Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que vem atuando para aproximar o Palácio do Planalto e o Congresso.

Marinho e Guedes têm travado sucessivos embates desde o início do ano sobre os rumos da política econômica do governo federal.

Procurada desde a última terça-feira (13), a Controlado­ria-Geral da União, responsáve­l pelo Portal da Transparên­cia, só se manifestou nesta sexta (16), informando que, apesar de não ser obrigada a publicar os jetons dos ministros, irá retomar a divulgação dessas gratificaç­ões.

 ?? Washington Costa - 14.out.20/Divulgação ?? O ministro Paulo Guedes
Washington Costa - 14.out.20/Divulgação O ministro Paulo Guedes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil