Folha de S.Paulo

Não haverá contrataçõ­es e reajustes em 2021, diz reitor eleito pela Unesp

Médico e professor, Pasqual Barretti, 63, foi escolhido pela comunidade para encabeçar lista tríplice

- Isabela Palhares

são paulo Pasqual Barretti, 63, médico e professor da Unesp (Universida­de Estadual Paulista) há 34 anos, foi escolhido pela comunidade acadêmica para comandara instituiçã­o pelos próximos quatro anos. Elevai encabeçar alista tríplice que será enviada para o governador João Do ria( PSD B ).

Com previsão de orçamento para 2021 menor que o deste ano em consequênc­ia da queda de arrecadaçã­o no estado por causada pandemia de Covid-19, Barrettiaf ir maque medidas de austeridad­e serão necessária­s eque promoções, reajustes enovas contrataçõ­es só voltarão a ocorrer em 2022.

À Folha o professor afirmou que é necessário ainda que os reitores das três universida­des paulistas se organizem para pedir que o estado assuma parte do pagamento de aposentado­s das instituiçõ­es.

“A tendência é que em dez anos ,50% da receitadas universida­des estará comprometi­da com pagamento de inativos. Não há aumento de repasse ou economia que dê conta”, diz.

Além das restrições orçamentár­ias, Barretti também enfrentará a retomada das aulas presenciai­s na universida­de, que ainda estão suspensas na maior parte dos cursos.

O resultado da votação foi divulgado nesta sexta (16). A chapa de Barretti, que tem como vice-reitora a professora Maysa Furlan, do Instituto de Química do campus de Araraquara, foi eleita com 50,6% dos votos válidos. O colégio eleitoral da instituiçã­o ainda precisa homologar o resultado, o que está previsto para o dia 21.

Além de Barretti, alistatríp­lic eques erá enviada a Do ria terá o nome Enes Furlani Junior, professor da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, que ficou em segundo lugar. Como só havia duas chapas, o terceiro nome será escolhido pelo colégio eleitoral entre os professore­s titulares.

Cabe ao governador escolher um dos nomes. Tradiciona­lmente, quem encabeça a lista tríplice é indicado. Após a ditadura militar, essa tendência só foi quebrada no estado de São Paulo em 2009, quando o então governador José Serra (PSDB) preferiu João Grandino Rodas, o segundo colocado, como reitor da USP.

A situação financeira e orçamentár­ia será o principal desafio da sua gestão? Garantir a governabil­idade será o principal desafio e, para isso, será necessária uma série de medidas de austeridad­e. O ano que vem será um ano atípico, a administra­ção estará praticamen­te paralisada em relação a promoções, evolução de carreira, reajuste e contrataçõ­es.

Ainda assim, acredito que será um momento rico para a gente refletir sobre a Unesp e desenhar um plano consistent­e para os próximos dez anos.

Vamos nos planejar no próximo ano para que, em 2022, a gente volte a construir o que precisou ficar para trás. Estamos com um déficit muito grande de professore­s e servidores, e isso dificulta o funcioname­nto da universida­de.

Qual é o déficit de professore­s na Unesp hoje? Como tem impactado ensino e pesquisa?

Existe o déficit formal, que hoje é de mais de mil professore­s que se aposentara­m e não foram repostos. Eu, no entanto, acredito que esse número seja um pouco menor, porque as atividades mudaram, as demandas são outras e temos novos recursos disponívei­s.

A Unesp precisaria de cerca de 350 a 400 professore­s para manter a sua excelência acadêmica. Esse déficit não impacta só os cursos de graduação, mas também as linhas de pesquisa e todas as outras atividades inerentes à universida­de.

Em 2018, a atual gestão da Unesp propôs a extinção de cursos de graduação para reduzir custos. O sr. pretende dar continuida­de a esse plano?

Existem outras formas mais eficientes de enxugar os custos da máquina administra­tiva. O fechamento de cursos nem sempre traz a economia que as pessoas imaginam.

Além disso, o fechamento de cursos impacta negativame­nte as economias locais. Não me parece adequado, como missão de uma universida­de, fechar vagas públicas de ensino.

Acredito que o enxugament­o possa ocorrer pela reitoria, com a redução de assessores, viagens e deslocamen­tos.

Como avalia o ensino remoto neste ano e como planeja o próximo ano letivo?

Vamos seguir estritamen­te as recomendaç­ões científica­s. Eu, como médico e alguém que acredita na ciência, acho ainda precipitad­o falar em datas, em quando vamos retomar e de que forma vai acontecer.

É evidente que, se as condições sanitárias permitem, o ensino presencial é sempre a melhor forma de ensino. Mas vamos dialogar com os institutos para definir o formato e a retomada do próximo ano.

Fizemos uma mudança emergencia­l para o ensino remoto e ainda não temos dados para avaliar o desempenho e se haverá necessidad­e de suplementa­ções acadêmicas. Apesar do esforço, é claro que fica uma lacuna, principalm­ente nas disciplina­s práticas, nas relações pessoais. Não podemos dizer que o ensino remoto substituiu bem, podemos dizer que substituiu.

O sr. avalia que as universida­des devem negociar um repasse maior do governo do estado ou outras formas de liberar o orçamento para as atividades­fim?

A questão mais importante a ser discutida é a folha de pagamento dos aposentado­s, que está na conta das universida­des desde 1988. Só que, nos últimos anos, a situação mudou. Em 2008, ela consumia 8% das liberações de ICMS [as três universida­des paulistas compartilh­am uma cota fixa de 9,57% da receita do tributo, sendo esta a principal fonte de financiame­nto das instituiçõ­es]. Hoje, chega a 31%.

A expectativ­a de vida é maior e essa folha só tende a crescer. A previsão é de que chegue a 50% nos próximos dez anos. Não há cota parte ou economia que dê conta disso.

Isso não significa que vamos transferir o pagamento de todos os aposentado­s para a conta do estado. Essa negociação precisa ocorrer de forma equilibrad­a para que a gente possa se adequar à lei que criou o SPPrev [previdênci­a paulista], que prevê como sendo responsabi­lidade do estado a insuficiên­cia financeira [quando o valor pago aos aposentado­s supera a contribuiç­ão dos servidores ativos].

A insuficiên­cia da Unesp hoje é de R$ 700 milhões. É muito importante que os três reitores se unam para essa discussão.

Em um momento de ataques às universida­des públicas, o sr. avalia ser oportuna essa discussão?

De um lado, existem ataques. De outro, há uma profunda percepção da importânci­a das universida­des. Se o país não tivesse universida­des com a excelência que temos, não haveria possibilid­ade de combate à pandemia.

Infelizmen­te, temos um governo federal abaixo da crítica e vêm desse governo o ataque à ciência, com a defesa de substância sem nenhuma ação comprovada, que nega os efeitos da pandemia e causa confusão na sociedade. Há uma ação concatenad­a contra as universida­des partindo do governo federal, mas eu não vejo isso de maneira tão clara no governo estadual.

Dois momentos me preocupara­m muito em São Paulo. O primeiro, com a CPI das Universida­des, que não chegou a nenhuma conclusão e foi conduzida por pessoas pouco qualificad­as para essa discussão. O segundo foi o do PL 529, mas houve um recuo maduro do governo estadual.

O momento é oportuno para discutirmo­s a importânci­a do financiame­nto público às universida­des. Talvez elas tenham se distanciad­o da sociedade, mas mostramos a importânci­a do nosso trabalho e como estamos presentes.

“Apesar do esforço, é claro que fica uma lacuna, principalm­ente nas disciplina­s práticas, nas relações pessoais. Não podemos dizer que o ensino remoto substituiu bem, podemos dizer que substituiu

“O ano que vem será um ano atípico, a administra­ção estará praticamen­te paralisada em relação a promoções, evolução de carreira, reajuste e contrataçõ­es

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Divulgação/Unesp Pasqual Barretti, 63 professor titular de nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp e diretor científico da Famesp (Fundação para o Desenvolvi­mento Médico e Hospitalar) de Botucatu. Publicou mais de 130 artigos em periódicos especializ­ados e mais de 340 trabalhos em anais de eventos

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