Folha de S.Paulo

Disparam matrículas em creches de SP sem confirmaçã­o dos pais

Matrículas em processo, como são chamadas a vagas sem efetivação, somaram 10.779 registros em setembro

- Aline Mazzo

são paulo As matrículas em creches da rede municipal da capital paulista que não foram confirmada­s pelos pais ou responsáve­is dispararam no terceiro trimestre de 2020. Até o fim de setembro, 10.779 inscrições ainda não haviam sido efetivadas pelas famílias das crianças.

Quando a Secretaria Municipal da Educação disponibil­iza a vaga para um aluno, a família precisa ser notificada, confirmar interesse e garantir essa matrícula com a entrega dos documentos. Se a disponibil­idade da vaga ainda não foi informada ou os responsáve­is não efetivaram a inscrição, essa matrícula aparece como “em processo” nos dados de demanda escolar, divulgados a cada três meses.

No levantamen­to de setembro, as matrículas efetivas somam 357.512 registros —15.546 a mais do que em junho. Já as inscrições em processo, que ainda não foram confirmada­s, saltam de 1.060 no trimestre anterior para 10.779 atualmente.

Na última quarta-feira (15), a Folha mostrou que famílias que aguardavam na fila da creche estavam sendo surpreendi­das com a matrícula compulsóri­a das crianças sem aviso ou autorizaçã­o dos responsáve­is. Algumas em unidades ainda estão em obras. A medida, segundo funcionári­os das DREs (Diretorias Regionais de Ensino) e de creches e especialis­tas, seria uma manobra para inflar os dados de matrículas da rede.

Após a publicação da reportagem, o secretário municipal da Educação, Bruno Caetano, negou que houvesse uma “aceleração artificial da criação de vagas” e garantiu que somente as inscrições em creches efetivadas pelas famílias, com entrega de documentos, são contabiliz­adas no número total de inscrições. “As matrículas que não forem confirmada­s pelos pais vão aparecer como matrículas em processo na publicação da demanda escolar”, disse (leia ao lado).

Caetano também afirmou que a secretaria tem tido mais dificuldad­e em localizar as famílias dos alunos nesse período de pandemia para avisar sobre a disponibil­idade das vagas, mas garantiu que ninguém será prejudicad­o.

“O prazo de aceite da matrícula é de dez dias e começa a valer a partir do momento que a família é notificada. Antes disso, a matrícula não foi processada. A vaga não foi garantida nem perdida”, disse.

Pais de crianças que estão na fila da creche disseram à reportagem que os filhos passaram a constar como matriculad­os no sistema da prefeitura desde o fim de setembro, poucos dias após a Secretaria Municipal da Educação enviar um memorando às DREs (Diretorias Regionais de Educação) que orientava que alunos da fila fossem matriculad­os em 2020, mesmo ingressand­o na rede apenas em 2021. Chamadas de vagas virtuais, as matrículas poderiam causar distorção nos registros, segundo especialis­tas.

Em setembro de 2017, a prefeitura assinou um acordo com o Tribunal de Justiça no qual se compromete­u a criar 85,5 mil vagas em creche até o fim de 2020. Até setembro, haviam sido criadas 73.333 novas vagas, segundo a demanda escolar.

O dados do terceiro trimestre ainda apontam uma fila de espera com 6.670 nomes, a menor fila da história, segundo a gestão Bruno Covas (PSDB). Em setembro de 2019, havia 71.078 crianças à espera de inscrição em creche.

Para Salomão Ximenes, professor de políticas públicas da UFABC (Universida­de Federal do ABC) e membro do comitê de monitorame­nto das creches junto ao Tribunal de Justiça, o alto número de matrículas em processo pode causar um esvaziamen­to da fila de espera.

“Essa é uma matrícula fictícia. É um dado vazio. Não há efetivamen­te a vaga, pois as creches não estão funcionand­o, e também não há a família atendida. Você tem apenas a redução da demanda”, diz.

Na quinta-feira (15), o secretário Bruno Caetano afirmou que a rapidez na oferta de vagas foi causada, principalm­ente, pela introdução do programa de transporte escolar para creches. “Com o transporte escolar conseguimo­s ocupar melhor as vagas existentes. Por isso que esse encaminham­ento das vagas foi feito de maneira mais rápida nesses três meses”, justifica Caetano.

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Zanone Fraissat - 14.out.20/Folhapress Futuro local da CEI Pitangueir­as, na zona sul de Sâo Paulo, que passa por obras
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Fonte: Secretaria Municipal de Educação

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