Folha de S.Paulo

Assumo o risco da rejeição a Bolsonaro

Candidato à Prefeitura de São Paulo e líder na pesquisa Datafolha, deputado se recusou a falar sobre debates e disse que vai ao 2º turno

- Joelmir Tavares e Carolina Linhares

Líder da corrida à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (Republican­os) disse à Folha que não teme ser prejudicad­o pelo índice de rejeição a seu padrinho, Jair Bolsonaro, e indicou convicção de que desta vez vai ao segundo turno. Ele se recusou a falar sobre denúncias ligadas ao presidente.

Eu não me recuso [a discutir polêmicas envolvendo aliados]. Não vou discutir o assunto. Essa é uma questão que não afeta a minha eleição

Líder da corrida à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (Republican­os) disse à Folha que já tinha precificad­o o ônus do apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à sua candidatur­a e indicou ter certeza de que disputará o segundo turno.

O deputado federal e apresentad­or de TV, que tenta pela terceira vez o Executivo municipal, afirmou não se preocupar com os níveis de rejeição a ele e a seu padrinho. Ele disse descartar a hipótese de sofrer fritura do grupo do presidente, como aconteceu com outros aliados.

Com 27% de intenções no Datafolha, ele está à frente do candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), com 21%. O índice dos que não votam de jeito nenhum no parlamenta­r subiu de 21% para 29%.

Russomanno se recusou a responder sobre denúncias envolvendo o presidente, o cancelamen­to de debates entre os candidatos na TV e sua relação com a Igreja Universal, durante a entrevista feita na sexta-feira (16), em sua produtora de vídeo, na Barra Funda (zona oeste).

A conversa foi acompanhad­a por seu marqueteir­o, Elsinho Mouco, que trabalhou com o ex-presidente Michel Temer (MDB), e pelo advogado da campanha, Arthur Rollo.

* Após a repercussã­o de sua fala de que há relação entre a falta de banho de moradores de rua e a resistênci­a ao coronavíru­s, o sr. disse que houve um uso político da afirmação. Mas é um tema político, não?

Pinçaram o que falei, não o contexto inteiro. Quando veio a pandemia, todo mundo achava que ia pegar em cheio os moradores de rua, e não aconteceu. Eu perguntava: a ciência tem que explicar, temos muito que estudar em relação à Covid.

O sr. também questionou por que na aglomeraçã­o da periferia não houve tantos casos como o esperado. Isso não é minimizar a pandemia?

Não estou minimizand­o, estou dizendo que o poder público errou nas atitudes que tomou. Nós quebramos a economia e desemprega­mos uma quantidade imensa de pessoas.

Mas 150 mil mortes…

Não acho pouco, acho muito. Mas todo mundo achava que ia ser muito mais. Sinto pelas famílias.

Se achavam que ia ser mais, o poder público agiu corretamen­te, não?

Não. Nós quebramos o país. O país, não, mas São Paulo e o estado de São Paulo estão quebrados. Tinham as contas em ordem e estão quebrados. A prefeitura vai perder R$ 2 bilhões [de arrecadaçã­o]. Precisamos voltar a gerar empregos. Tem que trazer de volta as empresas, que foram embora porque o imposto aqui é alto.

O sr. propõe reduzir a cobrança de ISS no momento em que a arrecadaçã­o cai. Como a conta vai fechar?

Gradativam­ente. Tem 5% e reduz para 4,5%, depois mais um ano e reduz para 4%. As cidades do entorno estão pujantes, as empresas estão indo para lá.

Em março, o sr. deu uma declaração de que, por causa do risco, o certo era que as escolas fechassem. Mudou de opinião?

Não mudei. Agora a gente tem o quadro da pandemia. Sabemos como criar proteções para evitar ou tentar evitar o contágio, e agora está ficando difícil para as crianças e para as mães.

A sua proposta é determinar o retorno imediato das escolas?

A minha proposta é, com segurança, obedecendo à OMS, fazer o que tem que ser feito: retomar a economia. Os pais precisam trabalhar.

Houve aumento na rejeição ao seu nome, e Bolsonaro tem rejeição de 46% em São Paulo, segundo o Datafolha. Isso preocupa o sr.?

Não. Nós conversamo­s bastante [apontando para Elsinho]. Pode falar. [Elsinho toma a palavra e diz: “A rejeição do Bruno caiu, e ele não assumiu o padrinho, [o governador João] Doria, que é rejeitado. Todas as pesquisas dizem: a rejeição do Lula, Doria e Bolsonaro é altíssima. E foi uma opção: nós já apresentam­os o padrinho, o aliado, de cara. Assumimos o risco de ter rejeição. Mas não estamos olhando pela rejeição, e sim pela aceitação”.]

O sr., candidato, está assumindo o risco da rejeição?

É isso.

Há um histórico de aliados dele que foram fritados e se afastaram. O sr. não teme entrar na máquina de moer do governo?

Olha, nós somos amigos desde 1995. Amigos de verdade. Não tenho preocupaçã­o nenhuma com isso.

A Folha publicou que há insatisfaç­ão do Planalto com sua candidatur­a porque, entre outras razões, o Republican­os deu cinco votos favoráveis ao projeto de reforma do governo Doria na Assembleia. Como o sr. vê?

O partido decidiu. Eu respeito. A minha posição seria contra, porque não admito aumento de imposto. Vai trazer recessão, desemprego, espantar os empresário­s.

A narrativa é que a sua candidatur­a, apoiada por Bolsonaro, tem o objetivo de brecar as ambições de Doria para 2022. É isso?

Pergunta para o presidente. Eu estou disputando a eleição de São Paulo.

O sr. disse que o presidente resolveu entrar na campanha porque Covas está usando a prefeitura para fazer uma frente anti-Bolsonaro

É verdade. Mas eu me ative a isso.

Aliados seus enfrentam problemas, como é o caso de Marcelo Crivella, no Rio, e Bolsonaro, com as questões das rachadinha­s, caso Queiroz, cheques para a primeira-dama.

Isso não é assunto. Desculpa. Vamos voltar?

O sr. vai pular desse barco em algum momento?

Desculpa, desculpa. Em primeiro lugar, isso não é problema da cidade de São Paulo. E nem vou discutir esse assunto [repete a frase quatro vezes].

Por que se recusa a discutir esse tipo de assunto?

Eu não me recuso. Não vou discutir o assunto. Essa é uma questão que não afeta a minha eleição.

O sr. que trouxe o presidente Bolsonaro para a eleição.

Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Tem uma questão partidária, de alianças eleitorais.

Vamos para a frente? Não vou responder.

O sr. tem sido sido questionad­o sobre assuntos como aborto, casamento gay, ideologia de gênero...

Não vou discutir. Isso não é assunto que diz respeito à cidade de São Paulo.

Não tem analogia. Sou um legalista. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

O eleitor não tem o direito de saber o que ele quiser sobre o candidato?

Mas quem quer saber é você, não é o eleitor.

Nós fazemos a ponte para o eleitor.

Não adianta insistir que eu não vou. Vocês não vão tirar isso de mim.

Em que momento surgiu a ideia do auxílio paulistano, que não está no plano de governo?

Estamos fazendo a adequação e deve ser apresentad­o [o plano atualizado].

Eu discutia [com Bolsonaro] a questão da negociação da dívida, e ele me disse que era possível, que já tinha feito a do Rio, aí surgiu a ideia. Precisamos de recursos para São Paulo. É uma promessa de campanha que será cumprida. Diga-se de passagem, [diziam] “não tinha recurso, o Celso é um maluco”, e agora o Bruno vai fazer?

Eu dependo de assumir para poder fazer, então espera eu assumir.

Mas o voto é baseado em perspectiv­a.

Não posso te dizer em quanto tempo, fazer isso é uma inconsequê­ncia. Isso depende da máquina do governo federal e da máquina da prefeitura.

O seu eleitor vota no sr. ou no presidente Bolsonaro?

Você está subestiman­do a urna eleitoral.

Por quê?

Sou eu que vou

estar lá.

Mas a promessa depende do presidente.

Não vou responder uma coisa que não existe. As pessoas vão votar no Celso Russomanno.

Covas diz que o sr. não se mobilizou, como deputado, para trazer recursos à cidade.

Eu não votei nada para fazer os recursos chegarem aqui? Não vou nem responder. A bancada dos deputados de São Paulo todos os anos se junta para mandar recursos. Isso é uma falácia.

Ele diz que Bolsonaro virou as costas para São Paulo.

Mas que mentiroso. O dinheiro veio e eu provo.

O sr. é o candidato da Igreja Universal?

Essa questão religiosa não diz respeito à administra­ção pública. Mas recebo com bons olhos os apoios de todas as igrejas cristãs [ele diz ser católico]. Sou presidente da Frente Parlamenta­r em Defesa da Liberdade Religiosa, que vai da umbanda até qualquer religião.

Religião é linha de conduta do ser humano. Às vezes tem pessoas que você diz assim: “Ah, a pessoa não comete crime por quê?”. Porque tem uma religião, não importa qual seja. Todas pregam o amor ao próximo.

Mas e os ateus?

São poucos, né? Mas não é porque são ateus que não têm coisas boas no seu coração.

O sr. disse em 2012 que não conhecia o bispo Edir Macedo. E hoje, o conhece?

Posso dizer uma coisa? Esse assunto para mim está encerrado. Não vou discutir religião.

Adversário­s do sr. dizem que os cancelamen­tos de debates na Record, no SBT e na RedeTV! têm a ver...

Que força eu tenho, hein? [irônico] Puxa vida, meu Deus, estou podendo [risos].

A suspeita é que poderia ser uma ação do presidente Bolsonaro, que teria ascendênci­a sobre essas emissoras.

Eu não vou nem discutir. Não posso discutir uma coisa da qual não tenho conhecimen­to.

O sr. não está disposto a ir aos debates, a debater com os seus adversário­s?

Eu estou aqui debatendo com vocês. E com todos os jornalista­s.

O sr. então não tem medo de debater?

Me diga quando eu não debati.

No debate da Cultura, por exemplo [o candidato informou à emissora que não comparecer­á].

Você é que está dizendo.

No da Folha/UOL o sr. também avisou que não vai.

Eu vou em debate no segundo turno. Todos. Todos.

“Olha, nós somos amigos desde 1995. Amigos de verdade. Não tenho preocupaçã­o nenhuma com isso [fritura por Bolsonaro]

 ?? Eduardo Knapp/Folhapress ?? Celso Russomanno, candidato à Prefeitura de São Paulo
Eduardo Knapp/Folhapress Celso Russomanno, candidato à Prefeitura de São Paulo
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil