Folha de S.Paulo

Alerta global

FMI aponta risco provocado pela alta das dívidas públicas; caso brasileiro é particular­mente grave

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Acerca de riscos com aumento de dívidas públicas.

Houve boas notícias na revisão do cenário econômico divulgada pelo Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), por ocasião de seu encontro anual. A projeção para a contração global neste 2020 ficou menor, em razão do suporte propiciado pelos governos com mais gastos e cortes de juros. Entretanto a saída da crise será lenta e deixará cicatrizes.

Segundo o Fundo, a economia mundial deve encolher 4,4% neste ano, menos do que os 5,2% estimados há seis meses. Para 2021, a expectativ­a de retomada foi ajustada de 5,4% para 5,2%.

Quase todas as regiões tiveram melhores prognóstic­os. Estados Unidos e Europa terão quedas do Produto Interno Bruto menos agudas, assim como o Brasil —para o qual o FMI agora projeta retração de 5,8%, contra 9,1% antes.

Apenas a China terá cresciment­o, de 1,9% neste ano e incríveis 8,2% em 2021, segundo o organismo. No agregado, considerad­a a exceção chinesa, a volta ao nível de atividade de antes da pandemia só ocorrerá em 2022 ou 2023.

Até lá, risco de danos permanente­s no mercado de trabalho é alto, ocasionado­s pelo fechamento de empresas, sobretudo as menores.

A desigualda­de deve aumentar, com reversão de parte do progresso obtido nas últimas duas décadas no combate à pobreza.

Outro dano se dá na saúde financeira, tendo em vista o salto do endividame­nto público devido a alta de gastos e de cortes de impostos, estimados em US$ 12 trilhões, para combater os efeitos da Covid-19.

Nos países desenvolvi­dos, a dívida crescerá 20 pontos percentuai­s, para 125% do PIB até o final de 2021, enquanto no mundo emergente a proporção chegará a 65% do PIB. Pelos critérios do Fundo, serão mais de 100% no Brasil.

Há certamente hipóteses mais positivas. Caso se confirme a expectativ­a de que haverá vacinas eficazes para ampla distribuiç­ão até meados de 2021, o cresciment­o econômico poderá ser maior que o esperado. Enquanto isso, o FMI sugere que os países com maior espaço fiscal estendam parte dos estímulos para o ano que vem.

Mesmo assim, fica o alerta para o tamanho da dívida e para a necessidad­e de buscar receitas com maior tributação dos mais ricos e redução de subsídios perdulário­s.

Tais preocupaçõ­es se mostram especialme­nte importante­s no caso do brasileiro, dado o estado calamitoso das finanças governamen­tais. Com a maior dívida entre os emergentes e riscos crescentes de instabilid­ade financeira, o país não tem opção além de ajustar o Orçamento e fazer reformas, incluindo impostos mais progressiv­os.

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