Folha de S.Paulo

Ideias e nomes

Folha continuará a preferir o debate crítico e plural, sem atrelar-se a partidos nem a governos

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Sobre princípios seguidos pelo jornalismo da Folha.

Em consonânci­a com a proposta de um jornalismo crítico, apartidári­o e pluralista, esta Folha não endossa grupos políticos ou candidatur­as, tradição que se manterá inalterada no pleito municipal deste ano. Em tempos de polarizaçã­o ideológica e patrulhas estridente­s nas redes sociais, cabe revisitar os fundamento­s dessa escolha.

Outros veículos de imprensa, como se sabe, fazem recomendaç­ões de voto aos leitores. Em exemplo notório e recente, o diário The New York Times declarou apoio ao democrata Joe Biden na corrida à Casa Branca; trata-se de posição legítima e amparada pelo direito inegociáve­l à liberdade de expressão.

Este jornal, no entanto, opta por manter-se desatrelad­o de legendas e governos. Entende que assim desempenha­rá com maiores desenvoltu­ra e credibilid­ade o papel de registrar e escrutinar a conduta do poder —quaisquer que sejam as forças instaladas no Estado.

O exercício intransige­nte da crítica não raro é errônea ou interessad­amente tomado por atitude persecutór­ia, como alegam setores bolsonaris­tas e petistas, entre outros grupos militantes. Todavia a Folha, sem desconhece­r eventuais equívocos e excessos que deve corrigir com transparên­cia, não faz nem fez oposição.

Defende, sim, princípios —democracia,

Estado de Direito, liberdades individuai­s, economia de mercado— e as políticas públicas que entende serem as mais adequadas, independen­temente da administra­ção que as conduz.

Tampouco se deve confundir apartidari­smo com neutralida­de. As diferenças percebidas entre candidatos e entre governos, incluindo seus aspectos mais deletérios, devem ser apontadas, sem deixar de respeitar a opção dos eleitores.

É o que se dá no caso do presidente Jair Bolsonaro e de seu flerte inaceitáve­l com teses autoritári­as, denunciado desde antes da campanha eleitoral. A excepciona­lidade de sua gestão também se reflete na defesa da saída de ministros, prática rara na história do jornal.

Advogou-se neste ano a demissão de Abraham Weintraub, que já deixou o MEC após ataques golpistas ao Supremo, e de Ricardo Salles, como passo inescapáve­l para reverter a devastação patrocinad­a na pasta do Meio Ambiente. É lamentável que providênci­as dessa ordem precisem ser cobradas em tão curto período de tempo.

Este jornal continuará a preferir o debate de ideias ao de nomes, sem omitir-se diante de atitudes contrárias aos valores que abraça —e sem sonegar espaço ao outro lado. Espera, com isso, servir a leitores de todas as preferênci­as.

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